A Bahia Me Fez Assim

XX Panorama Internacional Coisa de Cinema: A Bahia Me Fez Assim

2.5

Há um mistos sensações que ficam na mente e nos corações de quem assiste A Bahia Me Fez Assim, de Sérgio Machado (A luta do século). De um lado, a produção diverte com toda a musicalidade baiana e carisma de seus artistas. Do outro, algumas incoerências e falhas técnicas diminuem a qualidade da sessão e até reduzem seu teor de entretenimento.

A premissa é aqui a melhor parte do documentário de Machado. Com direção musical de Alê Siqueira, músicos da Bahia recriam versões de composições clássicas do Estado, através de releituras que procuram manter a base da original, mas também convocar ares contemporâneos. Assim, o espectador vê os ensaios e o resultado dele, durante a exibição.

Algumas “tretas” ocorrem e a equipe do longa-metragem decide mantê-las no corte final. Essa escolha é acertada, porque o contraponto entre desentendimentos e performances musicais belíssimas constrói camadas na narrativa. No entanto, a ideia inicial e as interações espontâneas dos artistas não conseguem sustentar a obra inteira.

A montagem é o que mais contribui negativamente para esse resultado geral não tão positivo. Cortes bruscos, de áudio e de imagens, entre as passagens retiram o público da imersão com o doc. Além disso, a escolha de separar as transições entre músicos por dias – que talvez tenha sido uma escolha da direção -, é protocolar e também atrapalha o processo de fruição. 

Depois de inserir essa lógica de separação por dias, a dinâmica de A Bahia Me Fez Assim é quebrada e as idas e vindas se iniciam. A partir daí, as situações passam a ser repetitivas e a projeção a ficar cansativa. Ainda assim, vale destacar como a direção de Machado consegue capturar a musicalidade posta na tela. 

Seja num contra-plongée, em uma câmera na mão, em uma panorâmica etc. , Sérgio Machado mostra a diferença de um diretor com um olhar experiente, que mergulha nas intencionalidades da narrativa, aproximando quem assiste daquele universo colocado no ecrã. O cineasta consegue aqui transformar sonoridades em visualidades, o que já é um grande mérito. 

Outro ponto positivo é como as imagens de arquivo são utilizadas. Elas chegam não apenas como mera ilustrações, porém para também ampliar a construção de sentido. As fotografias e vídeos conectam passado e presente, inserem momentos de graça ou melancolia, pondo, assim, uma dose de complexidade maior ao documentário.

Desta maneira, A Bahia Me Fez Assim é uma produção que peca por se apegar à uma linguagem televisiva, de programas corridos de final de semana, que a equipe não tem muito tempo na ilha de edição.

Contudo, a direção é refinada, com planificação e movimentação de câmera que revelam uma compreensão sobre como filmar músicos para o cinema. Ainda existe o fato de que as personagens* escolhidas são carismáticas ou, ao menos, servem como ponto de conflito, fazendo com que a trama exista e se movimente.

Neste universo, é possível dizer que a sessão vale a pena porque diverte, mesmo que esse não seja o caso da projeção inteira. É um filme que se propõe a fazer algo criativo e que entrega um produto que pode ser um registro importante para o futuro e “distraidinho” no presente.

Direção: Sérgio Machado

*Artistas que aparecem no longa: Rachel Reis, Afrocidade, Iuri Passos, Larissa Luz, Attooxxa, Ganhadeiras de Itapuã, Yayá Muxima, Tiganá Santana, Ilê Aiyê, Ivan Sacerdote, Orkestra Rumpilezz, Coletivo Rumpilezzinho, Xênia França e Melly

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