Jessica Jones, nova série da Netflix em parceria com a Marvel que estreou no serviço streaming no último dia 20 de novembro, não só expande o universo dos heróis urbanos da editora, como representa um avanço na representação da mulher no universo cinematográfico da editora.
Jessica Jones (Krysten Ritter) é uma super-humana cuja vida é arruinada depois que o vilão Kilgrave (David Tennant), o Homem Púrpura dos quadrinhos, assume o controle de sua mente. Um ano depois do fato, o homem que ela pensou ter matado volta disposto a manipular qualquer pessoa minimamente próxima a ela para ter sua vingança.
Dando seguimento ao que a série do Demolidor já fazia, o novo programa mostra as consequências da Batalha de Nova York, mostrada no fim do primeiro filme dos Vingadores, para o bairro de Hell’s Kitchen. Trata-se de um thriller, centrado em um jogo de gato e rato, com fortes influencias do noir.
Em conformidade com a tradição dos detetives atormentados e cínicos do gênero, a Jessica Jones de Ritter canaliza a dor e culpa que sente na bebida. Ela usa seu comportamento impetuoso e impaciente para repelir aqueles que deseja proteger e camuflar sua fragilidade.
Nesse ponto é importante destacar a performance carismática da atriz e a qualidade do texto, que evita que a personagem caia muito fundo na própria escuridão, tornando-se distante do espectador. A showrunner Melissa Rosenberg cria um show fiel aos elementos e temas abordados na trajetória da heroína nas HQs, mas que opta por introduzir seus próprios personagens e conflitos.
Os 13 episódios dessa primeira temporada são inspirados no arco “Alias”, escrito por Brian Michael Bendis entre 2001 e2004. Nas histórias lançadas pelo selo “Max” (linha adulta da Marvel na época), Jessica trabalha como investigadora particular em casos que envolvem outros heróis da casa de ideias.
O papel de melhor amiga que cabia a Carol Danvers (a Capitã Marvel) na HQ, passa a ser da irmã de consideração Trish Taylor (Rachael Taylor) na série. Da mesma forma, Jessica não trabalha na série para Matt Murdoch (o Demolidor), mas sim para a inescrupulosa Jeri Hogarth (Carrie-Ann Moss).
Em “Alias”, Jessica vivencia casos sem relação com o Killgrave, o que não acontece na série. O vilão ocupa muito espaço na narrativa, e Tennant (conhecido por seu trabalho em Doctor Who) cria uma figura narcisista, fria e perigosa capaz de arrancar, em proporções equivalentes, ódio e simpatia da audiência.
A fotografia explora a cor violeta em arranha-céus, sarjetas e becos para sugerir sua ameaça onipresente, que surge como uma promessa de violência principalmente para as mulheres. Mais do que mostrar o vilão controlando mentes, a série explora as consequências reais provocados pelo seu poder, o e faz dele ainda mais perigoso.
Fica evidente, mais uma vez, que as séries da Marvel na Netflix operaram em princípios diferentes daqueles percebidos em programas do estúdio em canal aberto como “Agents of S.H.I.E.L.D” ou “Agent Carter”. Jesssica Jones tem uma trama mais dark, amarga e sexual que essas, e que sua contemporânea Daredevil.
Ambas as séries são bem sucedidas em suas propostas, mas é inegável a incapacidade de Jessica Jones em igualar-se a Daredevil no quesito ação. A nova série não tem cenas de luta que possam ser descritas como bem coreografadas ou empolgantes. A pancadaria soa instintiva na maior parte do tempo.
Vale lembrar que Jessica Jones é a segunda série de um projeto que inclui outros quatro shows da Marvel a estrear no streaming. Incluindo Daredevil (que ganhará uma segunda temporada), os próximos programas serão protagonizados por Luke Cage (introduzido com sucesso na nova série) e Punho de Ferro.
Por fim, todos esses heróis devem se reunir no crossover de oito episódios “The Defenders”.