Conhecido atualmente por ser o filme de língua não-inglesa mais assistido da Netflix, Modo Avião está no catálogo do canal streaming desde o início de 2020. Estrelado por Larissa Manoela (Fala Sério, Mãe!), a produção tem um resultado geral agradável, por assim dizer. Não é que o longa seja bom de fato, porém ele consegue algo fundamental para fazer com que o espectador se conecte com a obra: a emoção. Existe algo ali que torna as personagens um tanto cativantes. A principal questão é a conexão que a protagonista cria com as pessoas ao seu redor. Isso não permanece o tempo inteiro, somente está em pedaços específicos, mas que surte um efeito acolhedor.
Contudo, em um balanço final, o saldo sai negativo. A parte tocante é escassa demais para equilibrar o todo. A começar pelas atuações. Sabe aquela peça de teatro infantil mal feita que você pensa em se levantar para ir embora no meio? Então, as interpretações estão mais ou menos neste nível. Não há organicidade na forma de dizer os diálogos. As emoções são transformadas, sem que haja necessidade, mesmo com o possível esforço que os artistas tiveram de tentar colorir o texto, eles não pensaram nas motivações de seus papéis e a contracena é ainda mais complicada, porque todos deixam a sensação de estão atuando sozinhos. São tons distintos que se chocamo o tempo inteiro.
Alguns profissionais trabalham suas falas sozinhos em casa e se não houver alguma direção ou preparação bem feita, eles ficam engessados e o sentido das emoções se perdem, porque cada um está em uma sintonia. A única exceção disto é Katiuscia Canoro (Tô Ryca!) que, apesar de fazer uma vilã estereotipada, com diálogos clichês e ações previsíveis, ela consegue dar fluidez para as sequências nas quais está presente. Até a sua criação corporal imprime leveza, o que tira o peso da falta de habilidade de outras figuras do elenco.
O que torna tudo mais frágil, de fato, é o roteiro. Apesar de conseguir trazer momentos sensíveis, como o momento entre Ana (Larissa Manoela) e Germano (Erasmo Carlos), não há liga o suficientemente para que a tentativa de construir uma boa produção funcione. Os autores (Alice Name Bomtempo e Alberto Bremer) parecem ansiosos para colocar tudo no papel de uma vez e o resultado são os pulos dentro da narrativa. Isto acaba esvaziando o sentido do enredo. Um exemplo é o aborrecimento de Ana com família que, convenientemente, é deixado de lado para tornar mais rápido e fácil o desfecho da trama.
Contudo, a parte mais incômoda de Modo Avião é a montagem. Eduardo Hartung (Os Parças 2) parece ter esquecido a continuidade é necessária para o entendimento do espectador. Em uma dada cena, Ana chega na casa do avô, Germano, e o portão está trancado. Estranhamente, em um próximo plano, ela já está na porta da residência. Esta característica está presente durante toda a exibição e cria um distanciamento instantâneo quando ocorre.
No entanto, existem dois ponto positivos que podem ser evocados. A primeira está na direção de arte que, ainda que seja meio pasteurizada, traz as cores vibrantes, bem joviais, complementando o tom que a produção deseja evidenciar que é a de uma comédia romântica meio adolescente. Outra questão que pode ser citada é o ship de Ana com João (André Luiz Frambach). A dupla tem química e a dinâmica entre eles é a parte mais crível deste contexto. No mais, o conteúdo geral pode ser divertido e uma sessão leve, para um domingo à tarde.
Direção: César Rodrigues
Elenco: Larissa Manoela, Erasmo Carlos, Katiuscia Canoro
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