Assim Estava Escrito, dirigido por Vincente Minnelli (Sinfonia de Paris), tem ares grandiosos, principalmente quando se olha para o elenco. Este elemento é algo recorrente na obra de Minnelli que, diferentemente da maioria dos realizadores da época, trabalha com um número grande de intérpretes na cena e consegue dar destaque para cada um, não possuindo apenas uma quantidade grande de indivíduos preenchendo o ecrã, mas figuras de destaque dentro da história.
No filme, o espectador já começa com a informação de que Jonathan (Kirk Douglas) deseja rodar um longa-metragem com três pessoas de seu passado: o cineasta Fred Amiel (Barry Sullivan), a atriz Georgia (Lana Turner) e o escritor James (Dick Powell). Desta maneira, tem-se, assim, três núcleos diferentes. Durante a projeção, o ponto de vista de cada peça do trio é revelado e as facetas, defeitos e armadilhas da personagem de Douglas vão sendo mostrados. Para exibir tal enredo, a direção de Minnelli é inventiva. Juntamente com o fotógrafo Robert Surtees (Ben Hur), diversos planos e movimentos de câmera são colocados a favor das cenas. Um exemplo são as panorâmicas que deixam uma sensação de proximidade com a realidade que está sendo mostrada. Também há os plongées e contra-plongées que mostram quem está em situação de vantagem em determinadas sequências.
No entanto, em certos momentos, a mise-em-scène de Assim Estava Escrito parece um tanto bagunçada. Muitos elementos cênicos, juntamente com a quantidade de gente no quadro e movimentos de câmera, “sujam” as sequências e deixam uma sensação de desordem, como na cena da jogatina. Esta questão não é algo que comprometa o todo, mas pode gerar algum desconforto ao espectador. Contudo, existe algo que realmente atrapalha o resultado final da obra: a estrutura narrativa repetitiva. Quando o público segue os múltiplos enredos postos no roteiro, as circunstâncias ficam compreendidas para, em seguida, serem reiteradas. No terceiro ato fica um cansaço pela previsibilidade dos acontecimentos.
É bem verdade que os autores Charles Schnee (A Cena do Crime) e George Bradshaw (Dúvidas de um Coração) procuram imprimir uma nova situação no momento da perspectiva de James, porém o desfecho desta parte é semelhante ao que já foi visto. Assim, a produção vai caindo e resta uma ansiedade para saber qual será a conclusão de tudo. No entanto, a maneira como acontece o encerramento do conflito é seguro. Ele deixa o imaginário aberto para criar e reforça a potencialidade do protagonista diante do contexto que o cerca e seu poder de manipulação. Um dos pontos altos da sequência final de Assim Estava Escrito é também o trabalho de Lana Turner, que cria olhares e gestos precisos e intensos, marcando bem as opiniões de sua Georgia.
Na verdade, toda a construção de Turner é cuidadosa e eficaz. Ela parece compreender bem que Georgia é luz na vida de Jonathan e isto já vem desde o seu figurino e na iluminação da cena. A sensibilidade de Lana vem de saber passar essa característica e equilibrar tudo isto com o lado mais sombrio da personagem. A maneira como ela encarna uma mulher talentosa, mas que vive presa em suas inseguranças e no vício do álcool é cheia de camadas e não se direciona para nada clichê ou representativo. Porque seus olhares são vivos e expressivos, juntamente com a tonicidade corporal necessária para cada momento.
Direção: Vicente Minnelli
Elenco: Lana Turner, Kirk Douglas, Walter Pidgeon
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