Tudo Bem no Natal Que Vem

Crítica: Tudo Bem no Natal Que Vem

Mais uma comédia natalina original da Netflix entra no catálogo do streaming, este mês. Agora, é a vez da produção brasileira Tudo Bem no Natal Que Vem. Estrelado por Leandro Hassum (Vestido para Casar), o filme é sofrível do início ao fim, principalmente pelo tédio causado por sua indecisão de plot. O que acontece aqui é uma espécie de tentativa de “Dia da Marmota”, porém com uma pequena modificação. Ao invés de reviver o mesmo dia, como em O Feitiço do Tempo, Jorge (Hassum) acorda em diversas vésperas de Natal, esquecendo sempre tudo o que ocorreu durante o ano, lembrando apenas o que aconteceu no dia 24 de dezembro.

A premissa poderia render um longa divertido. No entanto, o principal incômodo da trama é a sua falta de estrutura. Sem decidir muito bem para aonde vai, o roteirista Paulo Cursino (Os Farofeiros) parece ter dificuldade em construir uma dinâmica fluída. As suas ideias vão se esgotando, juntamente com os elementos voltados para o conflito inicial. As novas ideias acabam modificando os rumos do enredo. Não há como se ligar aos conflitos de Jorge e sua família, porque não existe uma boa construção para tal. O centro da obra parece ser o cansaço com as festas de final de ano e que Jorge irá descobrir o verdadeiro significado da comemoração – isto é dito, inclusive.

Contudo, as repetições das datas são encerradas logo no início da projeção de Tudo Bem no Natal Que Vem. Um salto temporal vem e, depois, surge a uma questão de traição. Nela, a personagem de Danielle Winits (Se eu Fosse Você), Márcia, surge do nada e desaparece também rapidamente. Em seguida, o terceiro ato consegue piorar e ninguém sabe mais porque a exibição ainda continua seguindo e não termina ou se encaminha para uma conclusão.

Tudo Bem no Natal Que Vem

Mas, se o rumo da história é perdido, as piadas poderiam salvar os 100 minutos de sessão. Todavia, o que existe aqui é uma tentativa absurda de tirar graça de coisas ofensivas, principalmente falas machistas e etaristas, o que corta, imediatamente, a capacidade de se engajar com a comédia. Há também falta de sabedoria em elevar o timing cômico. Em partes, isto se deve ao tom escolhido por Leandro Hassum. Um erro crasso em realizações artísticas é acreditar que ritmo é aceleração. Hassum utiliza a agilidade para dizer seu texto, quando, na verdade, seria mais acertado equilibrar a dinâmica entre aceleração e lentidão. Desta maneira, muito se perde na correria do ator.

Os laços com a família de Jorge também são impressos frouxamente. Algumas personagens são inseridas e retiradas sem que as relações sejam trabalhadas. O par romântico de Jorge, Aninha (Arianne Botelho), não combina com ele, e os intérpretes não jogam em cena, sempre deixam uma sensação de que contracenam quase separadamente. Aninha ainda é uma figura não tão agradável, é mais um arquétipo da dona de casada fofa, que aceita o marido grosseiro de bom grado. Os filhos também são distantes e não interferem em quase nada do plot. Apenas em uma das curvas dramáticas do filme, jogam um conflito da filha de Jorge, que não emociona, pois, justamente, entra no final do segundo tempo, somente para tentar causar lágrimas. No final das contas, Tudo Bem no Natal Que Vem não cumpre nem a sua função de contar uma boa história natalina, nem a de fazer uma boa comédia.

Diretor: Roberto Santucci

Elenco: Leandro Hassum, Arianne Botelho, Danielle Winits

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