O subgênero dos filmes de gângster dominou Hollywood durante as três últimas décadas do século passado, com sucessos como O Poderoso Chefão (1972), Os Intocáveis (1987) e Os Bons Companheiros (1990). Desde então, os projetos que vingaram dentro dessa lógica de produção diminuíram gradativamente e, com isso, a quantidade de filmes que chegam ao público também. Apesar de alguns sucessos depois dos anos 2000, qualquer estreia do subgênero imediatamente é comparada com os grandes nomes – como os já citados – e não foi diferente com The Alto Knights – Máfia e Poder.
O longa-metragem, dirigido por Barry Levinson (Rock em Cabul, de 2015), chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20) com a difícil missão de sobreviver ao rastro de referências comparativas que o espectador trará às salas de cinema. Uma coisa é certa: pode se poupar das frustrações porque The Alto Knights – Máfia e Poder não consegue se equiparar a absolutamente nada. O filme é um pastiche confuso e repetitivo da fórmula de filmes de máfia italiana, com a presença de Robert De Niro (Assassinos da Lua das Flores, de 2023) em cena e a tentativa de simular a presença de Joe Pesci (O Irlandês, de 2019), através do segundo personagem de De Niro.
O início de The Alto Knights – Máfia e Poder até parece promissor. A narrativa já estabelece logo de cara uma cisão entre a máfia com a tentativa de assassinato do chefe dos chefes, ao mesmo tempo que indica uma história narrada em primeira pessoa, como uma espécie de memória do narrador-personagem. No entanto, isso rapidamente cai por terra e dá lugar a uma história arrastada, caricata e sem nenhum tipo de excitação. Nem mesmo a grande cena de assassinato do longa é bem construída. Em vez de ser o plot que quebraria com as expectativas do público, a cena passa a ser um absoluto nada, sem ser capaz de gerar qualquer tipo de sensação no espectador.
O maior problema de The Alto Knights – Máfia e Poder é que ele é um projeto sem alma. Não há nada da essência de um filme de gângster que se sinta assistindo ao longa. Todas as características estão expressas no roteiro, mas não chega verdadeiramente lá. O filme é só uma embalagem, sem absolutamente nada dentro. Tanto pela direção de Levinson, quanto pelo roteiro de Nicholas Pileggi (Cassino, de 1995), o espectador não é atingido de forma positiva por nada no projeto. Não há um momento sequer de verdadeiro engajamento entre a produção e seu público.
Essa falta de essência também se deve pela construção caótica do roteiro. Em momentos ele parece que se encontra e segue uma linha, mas os saltos temporais e o encadeamento dos fatos se tornam um borrão estranho ao longo do filme. The Alto Knights – Máfia e Poder é daqueles projetos que você sai da sala de cinema sem saber o que achar e sentir sobre o que acabou de ver. O espectador sai anestesiado, mas não por ter sido completamente envolvido pela trama. É uma dormência de sensações que o roteiro de Pileggi causa.

Para piorar ainda mais essa confusão, ainda existe uma clara falta de delimitação sobre o formato do projeto. Em momentos, ele se estabelece como um docudrama, outros, é um filme de gângster narrado em primeira pessoa, mas esses elementos nunca soam unidos. The Alto Knights – Máfia e Poder sofre com essa indefinição de subgêneros que serão usados para guiar sua narrativa, o que só a torna ainda mais confusa. E, se já não bastasse esse emaranhado de escolhas duvidosas, a definição dos personagens é o ápice da caricatura, a ponto de nem De Niro ser capaz de salvar – e ainda é arrastado para a vala.
O elenco tem nomes interessantes e poderia render bons frutos à produção se a mesma ajudasse. Nem mesmo o ator vencedor de Oscar e com um leque de filmes de gângster em sua carreira conseguiu brilhar no show de horrores caricatural de The Alto Knights – Máfia e Poder. Robert De Niro parece fazer uma nova versão de seus personagens anteriores como Frank Costello, enquanto faz uma versão ainda mais caricaturada do que as atuações de Joe Pesci como Vito Genovese. Apesar de algumas cenas constrangedoras e estranhas, De Niro ao menos consegue equilibrar os devaneios narrativos quando ele é sua própria contracena, afinal Costello e Genovese são os personagens principais e antagônicos do filme.
Ainda assim, De Niro não é o suficiente para salvar o navio afundando. Ao lado dele, mais talentos como Debra Messing (Pesquisa Obsessiva, de 2018) e Cosmo Jarvis (Persuasão, de 2022) também não se saem bem. Seus personagens são mal elaborados e trabalhados, o que não permite que nenhum dos dois possa brilhar em cena. Nem mesmo a veterana do subgênero, que atuou em O Irlandês, Kathrine Narducci (Má Educação, de 2019), conseguiu se salvar das caricaturas das personagens envolvidas na trama de The Alto Knights – Máfia e Poder.
O desperdício de bons nomes no elenco, mostrando que nem mesmo De Niro é o suficiente para salvar o filme, só reforçam a confusão da produção. Ainda que o longa se inspire em eventos reais, sua dramatização, construção de arcos narrativos e estrutura do roteiro foram um produto pensado por alguém do projeto e aprovado pelos demais. E para não dizer que todo o peso dos erros do filme estão em Pileggi, Levinson também divide essa culpa. Ele não consegue orquestrar The Alto Knights – Máfia e Poder como uma bela e completa sinfonia. O cineasta falha na tentativa de copiar uma série de coisas que deram certo no passado, entregando ao público um pastiche mal costurado de caricaturas do que um dia foi bom.
Direção: Barry Levinson
Elenco: Robert De Niro, Debra Messing, Cosmo Jarvis, Kathrine Narducci e Michael Rispoli
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