Meryl Streep retorna em mais um filme de comédia/drama/ romance e com a possibilidade de mostrar ainda mais seus dons como artista. Por si só, isso já vale a ida ao cinema, independente de qualquer história. Ricki and The Flash, no entanto, pode atrair ou afastar alguns espectadores com seu roteiro.
Vindo com uma carreira mais que sólida, Streep por vezes tropeça em alguns roteiros não tão atrativos ou não tão interessantes quanto a sua capacidade precisa. Foi o caso de O Doador de Memórias, por exemplo, que não é um filme ruim, mas é tão morno e monótono que consegue entediar o espectador, mesmo com ela e Jeff Bridges no elenco principal. O mesmo aconteceu com tantos outros filmes como o próprio A Dama de Ferro, que lhe rendeu o segundo Oscar de Melhor Atriz, mas cujo roteiro não era nada além de básico.
Retornando à Ricki, a história fala de uma rockeira coroa que largou a família para seguir o sonho de ser uma rockstar. Ela foge de suas responsabilidades e tem medo de assumir relacionamentos, como é o caso de seu parceiro de banda, o guitarrista Greg. Ela está muito confortável na sua vidinha de cantora de bar à noite e caixa de supermercado de dia, até que seu ex-marido liga com urgência. A filha deles foi traída e o marido pediu o divórcio. A menina acabou tentando se matar e ele acredita que a presença da mãe pode ajudar na recuperação da jovem.
Vale pontuar logo que a filha de Meryl na trama também é sua filha na vida real, Mamie Gummer. Isso fica muitíssimo claro no primeiro segundo que a menina aparece, porque elas realmente são muito parecidas. Claro que isso ajuda na dinâmica em cena. Mamie herdou os genes da mãe e vai se mostrando uma ótima atriz. Apoiada pela própria Meryl, as cenas com a dupla são excelentes. Aliás, o elenco como um todo tem uma química importante. Me agrada a performance de Greg, o guitarrista nato, mas que tem todo um lado sensível que consegue contrapor a rigidez da protagonista. Tem ainda o ex-marido e os demais filhos, que também compõem uma família bem diferenciada. A atual mulher do pai dos filhos também consegue se encaixar na história com muita naturalidade. Todos estão muito bem nas atuações.
O que me intriga é a questão do roteiro. Ele fica no limbo entre o normal e o bom. Acho que essa dificuldade de definição acontece justamente pela performance dos artistas e da presença sempre forte e marcante de Meryl. Ainda assim, a obviedade dos resultados das cenas decepciona um pouco o espectador. Ricki (cujo nome na real é Linda e é assim chamada pela família) vai para casa da filha ver se consegue salvar a menina e salvar o próprio relacionamento com os filhos. Mas claro que, no final das contas, ela acaba se salvando de uma vida ordinária e sem grande emoções além dos shows alcoolizados à noite.
Uma parte interessante em que Ricki traz para reflexão a questão da percepção machista da situação. Utilizando o exemplo de Mick Jagger, ela fala que ele tem sete filhos que os ama e compreende que ele está fora de casa ganhando a vida e realizando um sonho, que é ser artista. Ela deixa muito claro que no caso da mulher, isso não é aceito. Ela saiu de casa para realizar o sonho de ser cantora de rock, mas tantos anos se passaram e ela ainda é julgada por ter “largado” os filhos com outra pessoa. Mesmo que ela sofra pelas decisões que teve no passado e que sinta falta da relação com os três filhos, Ricki não se arrepende de ter investido na carreira dos sonhos, em nenhum momento.
Gostei do encaixe do final, no entanto. Ela presenteia o filho com aquilo que pode, que é a música, e todos se unem, como há muito tempo não faziam, em torno daquilo que a faz muito feliz. E isso fica claro no momento em que ela sobe no palco.
O roteiro pode deixar um tanto a desejar no sentido de inovação, mas todo o resto acaba fazendo do filme o bom acerto. Para quem gostou de Simplesmente Complicado, certamente vai se entreter com esse. Se não gostou, talvez o desempenho de Meryl Streep não consiga salvar o longa como um todo. Você pode conferir na estreia desta semana, dia 3 de setembro.
Confira o trailer abaixo!