Kasa Branca

Crítica: Kasa Branca

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Com uma premissa simples, mas que contém camadas e profundidades, Luciano Vidigal (5x Favela: agora por nós mesmos) entrega um enredo que pega o espectador, principalmente pelo coração. Em Kasa Branca, apesar de alguns incômodos com a fotografia e a própria direção de Vidigal, o longa-metragem prende a atenção por conta das relações estabelecidas entre as personagens e pela maneira como elas são desenvolvidas durante a projeção.

Dé (Big Jaum), Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco) são três amigos inseparáveis e leais. A avó de Dé, Dona Almerinda (Teca Pereira), tem Alzheimer e lhe resta pouco tempo de vida. Por isso, o jovem aproveita a companhia dela o máximo que pode. Essa conjunção de fatores, em um roteiro inspirado em uma história real, é que cria a mágica do filme.

Ainda que a amizade do trio seja inabalável, as diferenças entre os garotos também são reveladas a cada sequência, como na situação da farmácia, na qual é possível compreender como cada um dos meninos vê e encara a vida. É nas distinções de cada personalidade que o equilíbrio da narrativa se faz. Há uma elaboração de unidade e de união nas ações deles, em torno de Dona Almerinda e do desejo de Dé de dar a ela últimos momentos felizes.

Junto a isso, existem as crushes de Adrianim e Martins, os conflitos e conquistas que cada um passa e como a irmandade do trio parece ser soberana. E mesmo que o público conheça um pouco da trajetória dos outros dois rapazes, o foco na trama de Dé jamais é esquecido. Há uma coesão do enredo, fazendo com que acontecimento do plot principal e as suas bifurcações se conectem e se resolvam em uníssono.

Kasa Branca

Desta maneira, a base de Kasa Branca está garantida, com o roteiro de Vidigal. No entanto, uma produção com uma história tão sensível e cuidadosa, necessitava de um apuro estético maior. O ponto crítico aqui é a iluminação. Variando entre chapadas e com sombras que interferem na fruição, visualmente a obra não fomenta a complexidade narrativa. Isto porque a luz também é fonte de criação de encenação e poderia elevar as sensações contidas no roteiro.

A planificação também não contribui para elevar o potencial da mise-en-scène. A decupagem transforma as palavras escritas em imagens, por isso, as ações e emoções presentes na narrativa precisam ser transmitidas visualmente. A maioria das sequências, principalmente as que têm os deslocamentos de Dona Almerinda, falham em mostrar ao espectador as expressões faciais, contenções e deslocamentos das personagens nas cenas.

Por isso, muito se perde das atuações do elenco, que, quando tem o enquadramento minimamente bem realizado, já consegue revelar toda a sua potencialidade. Não apenas a dinâmica do trio central e do relacionamento deles com Dona Almerinda é exitosa, mas todos os intérpretes do filme constroem papéis com consciência não só da individualidade da sua personagem, como também na interação com as outras.

A contracena é um dos pontos altos de Kasa Branca e, junto com sua história tocante, aproxima quem assiste daquele universo. Torcer por personagens, prender-se ao enredo e se emocionar com as trajetórias mostradas na tela é a função primeva do cinema e isso a sessão cumpre com destreza.

Direção: Luciano Vidigal

Elenco: Big Jaum, Diego Francisco, Ramon Francisco

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