O curta-metragem japonês, dirigido por Ema Ryan Yamazaki, é uma produção feita a partir das imagens coletadas do longa da mesma cineasta, chamado The Making of a Japanese. O objetivo da artista, com ambos trabalhos, é olhar para o sistema educacional japonês, em toda a sua intensidade, regras, imposições e encorajamentos.
É curioso observar como Instrument of a Beating Heart acredita mostrar múltiplas camadas desta realidade, porém, através da decupagem, o argumento pode parecer bem enviesado para a plateia. O documentário mostra crianças do segundo ano do ensino fundamental, que sonham em tocar bem instrumentos musicais, para apresentar a Sinfonia nº 9 de Beethoven, em um evento escolar de final de semestre.
É um tanto nítido, pelo tempo de tela que Yamazaki dá para os pequenos chorando ou estressados com a audição para a banda, o quanto a artista rejeita o modelo de educação do Japão. Este teor fica impresso, principalmente, quando narra a trajetória da garotinha Ayame é convocada. Em uma dada sequência, por exemplo, quando seu professor de música é bastante rígido com Ayame, a câmera demora na menina chorando, em um enquadramento fechado, no qual é possível ver a sua blusa cheia de lágrimas.
Esta tentativa um tanto exagerada de colocar luz na pressão sofrida pela criançada, pode irritar os espectadores mais atentos. No entanto, é possível dizer que o carisma de Ayame suaviza este esforço exacerbado de Yamazaki em provar que o Japão sufoca os estudantes em uma tenra idade. Ao mesmo tempo, ainda que na maior da projeção, o estresse seja colocado como temática central, a iluminação (quase estourada) e os planos mais abertos convocam respiro para o público. Além disso, as sequências nas quais a professora de Ayame a apoia e discursa na turma dela sobre amizade e empatia consigo mesmo, elaboram mais camadas para essa premissa, que inicialmente soa como plana e fervorosa.
Ainda que não seja um problema defender uma ideia única em um doc, é preciso que um filme não apresente somente um tom. Por isso que Instrument of a Beating Heart acaba se salvando neste sentido, já em seus últimos minutos de exibição. É cansativo, em partes, acompanhar um ciclo repetitivo que é trazido para narrativa, onde se vê um (a) estudante treinando, falhando, chorando e depois melhorando e ficando feliz.
Só pela perspectiva de Ayame, essa estrutura de jornada é vista duas vezes. Mesmo assim, a vivacidade e sensibilidade da protagonista cativa a recepção. A escolha de colocar a pequena Ayame no foco é acertada. Desta maneira, a produção vale a pena ser consumida, ainda que tenha alguns elementos negativos. De certa forma, é importante refletir sobre essa sistemática japonesa, que performa uma manipulação, onde a culpa de erros de execução é totalmente vinculado à dedicação das pessoas.
A ideia da meritocracia é posta em jogo a todo instante aqui. A única tristeza em relação a isso é que a obra acaba conduzindo a plateia para acreditar que, na verdade, se alguém se esforçar, vai melhorar e progredir. Não fica nítido se é intencional, porém, através de uma montagem que revela um discurso de “treine e você irá bem na audição e na apresentação”, esse discurso se aflora.
Este elemento é visto quando logo após esta argumentação o choro da garotada aparece, justamente quando as crianças parecem não ter ensaiado e risos. Já quando elas conversam sobre ensaiar, risos e parabéns brotam na tela. Talvez, fosse mais eficiente para Instrument of a Beating Heart para detonar com a ideia de meritocracia que a equipe fosse mais incisiva ao mostrar que Ayame cresceu pelo carinho e diálogo cuidadoso da sua docente e não pela pressão.
Direção: Ema Ryan Yamazaki