Como Vender a Lua “brinca” com a teoria de que o homem não teria chegado à lua em 1969 durante a missão da Apolo 11 e que tudo o que fora visto na TV naquela época foi fruto de uma produção de profissionais da indústria cinematográfica contratados pelo governo durante a “corrida espacial” entre EUA e União Soviética. Greg Berlanti, produtor e roteirista de séries da DC Comics, como The Flash e Arrow, dirige essa história protagonizada por Scarlett Johansson, que interpreta aqui uma relações públicas contratada pela NASA para melhorar a imagem da agência governamental. Ao lado da atriz está Channing Tatum interpretando o chefe da missão, um ex-militar cansado após sucessivas falhas na empreitada espacial.
Além da TV, Berlanti já esteve na função da direção de filmes com trabalhos de relativo sucesso, como Com Amor, Simon em 2018. No entanto, Como Vender a Lua é um projeto repleto de hesitações e confuso a respeito do tom que a narrativa deseja adotar. Em determinados momentos, Berlanti quer empregar na história um tom mais leve, investindo na comédia. Em outros momentos, o cineasta parece apostar na comédia romântica centrando suas atenções na dinâmica de “gato e rato” da sua dupla de astros, Johansson e Tatum. Ocasionalmente, parece existir em Como Vender a Lua um comprometimento com fatos históricos, debruçando-se ainda sobre o lugar da publicidade na recepção pública externa e interna sobre os feitos do governo americano. Em outros momentos, por sua vez, Berlanti ainda parece querer ironizar ou fazer algum comentário crítico a respeito das ações de políticos com a presença de um agente interpretado por Woody Harrelson. Enfim, parecem existir muitas direções para um só filme. No fim das contas, Como Vender a Lua soa muito mais como o rascunho de uma sala de roteiristas do que um projeto propriamente acabado com uma orientação firme sobre o que de fato o filme é.
Claro que o longa poderia abarcar todas as suas pretensões, acontece que aqui essas diversas facetas da história não soam orgânicas e muitas vezes prejudicam a experiência do espectador que, subitamente, é surpreendido por mudanças na “chave de comunicação” do filme e dificultam sua leitura como uma experiência que de alguma forma faça sentido.
O diretor também não consegue fazer com que a dupla de protagonistas tenha sinergia em cena. Juntos, Johansson e Tatum não dão liga. Scarlett Johansson ainda tem bons momentos sozinha como a relações públicas Kelly Jones, demonstrando um carisma na sua persona pública que contrasta com a triste história sobre sua infância, algo que a personagem procura deixar para trás. O problema é que o filme apresenta hesitações na exploração do lado mais ácido e antiético da personagem de Johansson. Logo, o roteiro cede à tentação de convertê-la em uma mocinha banal e isso prejudica bastante o trabalho de uma atriz que poderia atenuar muitos dos problemas da história. Já Channing Tatum tem muita dificuldade para imprimir a nobreza de caráter do militar Cole Davis. Inexpressivo, Tatum não consegue acessar momentos que demandariam mais emoção e que seriam fundamental para construir uma simpatia do público pelo drama do personagem. Juntos, os atores parecem sempre fora de sintonia, algo que não ajuda muito quando você tem uma direção que vacila tanto na definição do tom que o relacionamento dos dois deve adotar.
Para o público internacional, Como Vender a Lua ainda apresenta o grande incomodo de soar como aquele filme cheio de mensagens patriotas sobre a história dos EUA, ressaltando a nobreza dos ditos heróis americanos. Como Vender a Lua perde a oportunidade de trazer um olhar mais crítico para o seu pano de fundo histórico, preferindo o “lugar comum” de um tradicionalismo que o transforma em mais um entre tantos filmes que já abordaram o assunto. No fim das contas, Berlanti oferece uma colcha de retalhos de linhas narrativas e opta por encerrar sua obra com o mais seguro e banal dos seus possíveis direcionamentos, perdendo grandes oportunidades.
Direção: Greg Berlanti
Elenco: Scarlett Johansson, Channing Tatum, Jim Rash
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