A Libertação

Crítica: A Libertação

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Depois de anos dedicados a dramas como Matadores de Aluguel (2005), Preciosa (2009), Obsessão (2012), O Mordomo da Casa Branca (2013) e Estados Unidos vs. Billie Holiday (2020), o diretor Lee Daniels faz sua estreia em filmes de terror com A Libertação, produção original da Netflix. Possivelmente, o resultado dessa aposta do realizador é uma das piores cartadas da sua carreira.

Lee Daniels aposta em uma história sobre possessão demoníaca vivida por uma família nos EUA. A protagonista do filme é Ebony, papel de Andra Day (atriz indicada ao Oscar de melhor atriz em 2020 por Estados Unidos vs. Billie Holiday), uma mulher que vive sozinha com os filhos e a mãe doente vivida por Glenn Close, desde que o marido foi servir ao exército no Iraque. Os filhos de Ebony passam a apresentar um comportamento esquisito, pontualmente violento. O problema é que Ebony está sendo vigiada por uma assistente social que está analisando o seu comportamento em virtude do seu alcoolismo. A situação então leva todos a acreditarem que Ebony esteja agredindo os filhos, coloca em risco a guarda das crianças.

Um dos maiores problemas de A Libertação é a completa inabilidade que Lee Daniels apresenta para lidar com as demandas do gênero horror. Durante toda a história, o realizador apresenta dificuldades para construir uma atmosfera enervante para trama, manejando de forma atabalhoada recursos comuns ao gênero como os jump scares.

Há uma completa falta de timing na história para a exposição das revelações em torno do estranho comportamento dos filhos da protagonista. Quando tudo é revelado, Daniels apela para todas as possibilidades visuais, lidando com uma montagem repleta de flashes compostos por imagens que isoladamente até surtem algum efeito, mas que não apresentam muita função no contexto. O diretor fica disperso demais com suas pretensões artísticas e esquece de demandas fundamentais da sua narrativa.

A Libertação

Os dramas das personagens principais logo são perdidos de vista pelo excesso de construções imagéticas que parecem um fetiche para o diretor. No lugar de esmiuçar a psicologia de Ebony, seus problemas com o alcoolismo e o desespero daquela mulher para não perder os filhos, ou mesmo o conflito desta com sua mãe, Daniels prefere dedicar-se ao impacto visual da sua história, algo que por si só não diz muito ao espectador.

Excessivo, A Libertação tem como mote original oferecer a perspectiva de outra vertente religiosa para o controverso tópico das possessões demoníacas, opondo o procedimento título (“a libertação”) ao exorcismo, já amplamente explorado pelo cinema. Infelizmente, nem mesmo isso o filme de Lee Daniels consegue com sua história, não esclarecendo muito a respeito desse aspecto distintivo da sua narrativa.

Com um elenco de peso, destacando o desempenho de Andra Day e, claro, Glenn Close em uma cena que, pelas razões certas ou erradas, é inesquecível, A Libertação não presta muitos favores pela carreira dos seus envolvidos, especialmente Lee Daniels. Desde 2009 (e lá se vão mais de dez anos), o diretor parece penar para encontrar um projeto que faça valer a repercussão extremamente favorável de Preciosa, um dos trabalhos mais exitosos da sua carreira.

Direção: Lee Daniels

Elenco: Andra Day, Glenn Close, Anthony B. Jenkins

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