13 Sentimentos

Crítica: 13 Sentimentos

3

No filme 13 Sentimentos, volta e meia, o protagonista João está às voltas com um cubo mágico que o seu ex lhe deixa como recordação assim que rompem o relacionamento de forma amigável. O cubo, na verdade, passa a ser uma representação do atual momento da vida do protagonista. João está tentando se encaixar no mundo diante do seu novo status de solteiro após encerrar um namoro que durou cerca de uma década. Para completar, ele ainda está tendo que lidar com as incertezas do atual momento da sua carreira. João é cineasta e diante da dificuldade financeira e criativa de levar para frente seu projeto pessoal e da falta de estímulo dos jobs de uma construtora, ele abraça o mundo da produção de vídeos eróticos para plataformas online. No meio de todo esse caos, o personagem busca incessantemente um novo relacionamento que possa preencher a lacuna do anterior, recorrendo a aplicativos de namoro.

13 Sentimentos é um filme de Daniel Ribeiro, cineasta paulista premiado e conhecido pelo seu trabalho em Hoje eu quero voltar sozinho, drama adolescente LGBT que virou sensação em 2014. Em 13 Sentimentos, Ribeiro segue apostando nessa representatividade, mas apresenta para o espectador uma típica comédia romântica.

Em razão da escolha desse gênero cinematográfico, os gays e lésbicas de 13 Sentimentos não estão às voltas com problemas como dificuldades de aceitação ou homofobia. Pelo contrário, ao menos na superfície, essas questões parecem integrar um passado distante na vida de protagonistas que são jovens, conectados e abertos sexualmente, típicos representantes de um estrato da comunidade que habita a capital da maior metrópole do país, São Paulo. Fora a vida amorosa, as questões que mais preocupam o protagonista João dizem respeito a tópicos cotidianos do seu trabalho, como um cliente que não lhe paga ou o seu tão sonhado filme que não decola. Nesse sentido, o filme é uma espécie de “respiro”, conferindo leveza a uma cinematografia tão estigmatizada por tramas melancólicas que giram em torno de sentimentos muito densos e, muitas vezes, finais fatalistas, pouco felizes para personagens LGBT+.

13 Sentimentos

Abraçando o gênero comédia romântica, 13 Sentimentos é um filme solar, despojado, repleto de bom humor, que Ribeiro sabe abordar bem e que conta com um elenco que segura com bastante naturalidade diálogos representativos de convenções deste gênero. Na esteira dessa abordagem, o trabalho do protagonista Artur Volpi é fundamental ao transformar João em um típico mocinho de comédias românticas com bastante leveza e simpatia. 13 Sentimentos é um filme muito agradável de se acompanhar e contempla um público que ainda não está acostumado a se ver representado nesse tipo de história (e como é importante que cada vez mais elas sejam realizadas e não se tornem casos isolados como Com Amor, Simon).

13 Sentimentos deve ser encarado como uma alternativa leve e necessária de ampliar o leque de possibilidades de histórias com temáticas LGBTs no país. O filme acaba sendo o sintoma de um estágio de amadurecimento das produções com essa temática que tende a ser salutar. Não é o exemplar mais perfeito do gênero, no terceiro ato, o longa tende a cair nas resoluções fáceis e, por vezes, o roteiro anda em círculos em razão da incerteza do seu protagonista a respeito daquilo que quer na sua vida amorosa, mas, de maneira geral, aplica bem as convenções do gênero e as adequa a um contexto menos heteronormativo.

Direção: Daniel Ribeiro

Elenco: Artur Volpi, Sidney Santiago, Michel Joelsas

Assista ao trailer!