Esta que vos escreve, acredita que a crítica de cinema deve olhar para cada obra audiovisual de forma particular, procurando entender a sua funcionalidade e o seu objetivo enquanto produto midiático. É nesta lógica que a nova produção da Netflix, estrelada por Cameron Diaz (As Panteras) e Jamie Foxx (Ray), será analisada. Entre potencialidades e falhas, De Volta à Ação cumpre a sua função, diegéticamente e extradiegéticamente.
O primeiro ponto destacável é o retorno de Cameron e Jamie, que estavam afastados do cinema, por diferentes razões. Ela, porque havia se aposentado para cuidar da família e da vida pessoal. Ele, porque apresentou um problema de saúde, aparentemente grave, porém misterioso. No entanto – e para a alegria dos fãs –, a dupla conseguiu se reunir e finalizar o longa-metragem, que somente pela presença de dois atores tão carismáticos e marcantes para Hollywood, já valeria a pena.
Em termos qualitativos da obra, a produção tem uma primeira metade que não decepciona. A dinâmica entre Diaz e Foxx revela a razão desta união ficcional. Os intérpretes jogam com as pausas, interrupções e silêncios de tal maneira que formam uma construção de intimidade forte entre as personagens. Quanto mais eles brincam com essa lógica de casal, que se interrompe e sabe o momento de se escutar, mais a relação entre seus papéis cresce e a conexão com o público também.
Aqui, a dupla mostra como é necessário habilidade para suavizar e tornar crível diálogos de filmes besteirol de ação. Juntamente a eles, também há Glenn Close, que fomenta ainda mais a crença da plateia naquele universo ficcional. O trio interpreta ex-agentes da CIA, que se aposentam e precisam enfrentar os perigos da vida de espião novamente. No entanto, Emily (Diaz) e Matt (Foxx) criaram uma família típica do subúrbio de filmes hollywoodianos.
Assim, é aí que vem toda a graça do longa, na ideia de dialogar com os mais jovens, dizendo: seus pais podem ter sido espiões da CIA e você nem saber. Apesar de não ser o suprassumo da criatividade, porque Hollywood tem gostado de explorar essa dualidade de família classe média e cenários extra-cotidianos – Os incríveis é um exemplo disso -, em De Volta à Ação, além do elenco central ser afiado, a direção de Seth Gordon (Pixels), alivia as trapalhadas e mesmices do roteiro – que escreveu ao lado de Brendan O’Brien (Vizinhos).
Isto porque é extremamente relevante que filmes deste gênero tenham uma decupagem apuradíssima, principalmente em suas cenas de ação e tensão. Gordon tem consciência de que os espectadores precisam entender visualmente o que está acontecendo, sentirem-se ansiosos durante as lutas e confrontos, que consigam enxergar bem as pancadarias, mas com criatividade, em termos de movimentação e efeitos de câmera, efeitos especiais e marcação de cena. São muitos questões para dar conta e, neste caso aqui, ainda há o fator desta ser uma produção da Netflix.
É necessário que a direção pense que a maioria das pessoas contará com uma sessão em casa, vendo o longa por uma tela menor. Seth Gordon revela que compreende essa lógica e, mesmo que conte com sequências tensas e com inventividade, a grandiosidade das explosões, carros que capotam e lutas corporais são reduzidas. Um exemplo é o momento da família espiã no posto de gasolina. Eles são atacados, porém por uma quantidade relativamente pequena de bandidos.
É com esta consciência, tanto da parte mais experiente do elenco, quanto da direção que De Volta à Ação entretém quem assiste a trama. Todavia, é preciso destacar que a segunda metade do filme não é tão boa quanto a anterior. Na busca por colocar caminhos e saídas diferentonas, Gordon e O’Brien se perdem no roteiro. A história já não prometia ser um poço de inovação e a maior graça era o “como” Cameron Diaz e Jamie Foxx iriam salvar o dia com a ajuda de Glenn Close .
Contudo, nesta tentativa de surpreender o público, a tensão se esvai e a obra fica menos divertida. É bem verdade que o vilão não era esperado, mas seria mais interessante que o antagonista fosse mesmo Baron (Andrew Scott), pelas seguintes razões: primeira, Andrew é mais talentoso do que o outro ator que faz o bad guy verdadeiro – mas, o intérprete não será revelado para não dar spoiler para o leitor.
A segunda razão é que Baron é mais desenvolvido, nesta busca de Gordon e O’Brien para enganar o receptor. Assim, o outro rapaz não convence. As suas motivações são rasas e todo o conflito interno do papel de Andrew Scott é desperdiçado nos últimos minutos de exibição. Muitas vezes, no audiovisual, é melhor ficar com o seguro, o óbvio, mas executar bem esse óbvio, cuidar desse óbvio e entregar ele bonitinho para o público. E era isso que o filme estava fazendo até a sua reviravolta. Mesmo assim, a produção vale uma sessão de sábado à tarde, com muita pipoca e refri. Este é um tipo de cinema que refresca o ares e distrai, é como comer uma pizza de uma rede de fast food – calorias vazias que divertem.
Direção: Seth Gordon
Elenco: Cameron Diaz, Jamie Foxx, Glenn Close
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