Meredith Hama-Brown (Cosmic) quase chega lá com seu primeiro longa-metragem, Seagrass. Em um drama familiar, centrado em uma família canadense, com raízes japonesas do lado materno, aqui o início é brilhante e deixa uma sensação de que a sessão será promissora. Câmera na mão, exploração de profundidade de campo e trocas de foco, Brown traduz as emoções de suas personagens e aproxima o espectador delas, através de sua direção.
É rápida a conexão do público com Judith (Ally Maki), Steve (Luke Roberts), Stephanie (Nyha Huang Breitkreuz) e, sobretudo, com a caçula Emmy (Remy Marthaller). Há neles características que nos aproxima deles. O desgaste da vida familiar, a tentativa de pertencimento, o cansaço do cotidiano, as escolhas aleatória dos pais em dissonância, cada um traz consigo detalhes que podem gerar identificações. Além disso, os conflitos do quarteto vão sendo revelados progressivamente.
Até a metade do segundo ato, é possível observar uma construção inteligente, na qual os olhares e o silêncio dizem mais do que os diálogos e até mesmo criam ambiguidades para as falas, o que complexifica mais as personagens. O ciúme de Stephanie da sua irmã ou os conflitos sobre etnia entre Judith e Steve amarram a trama e criam uma possibilidade de criar uma atmosfera de tensão e até mesmo de uma ambientação de filme de terror.
Os quatro estão em uma ilha, com seus egoísmos e falhas, há um diálogo com o gênero, seja pela personalidade dos papéis principais ou pela própria técnica (decupagem e desenho de som), que criam certa expectativa em quem assiste de algo ruim acontecerá. Todavia, Seagrass é um drama familiar do início ao fim e perde por não explorar a estética de suspense/terror, que foi introduzida ali em termos imagéticos e sonoros, porém somente como uma pincelada.
No entanto, este não é o cerne da questão. O que faz o filme ter sua qualidade reduzida em sua metade é a queda da qualidade do roteiro. Com a inserção de diálogos expositivos, de clichês e saídas fáceis e óbvias, falta coragem a Brown, para seguir com o tom que ela mesma instaurou no princípio da projeção.
O conflito principal, e suas ramificações, perde a força. Um exemplo é toda a energia interna de Judith, que parecia estar prestes a explodir, mas ela implode. Os seus medos, necessidades e desejos não são amarrados dentro do enredo, fazendo com que, assim como a maioria das personagens, Judith não passe a transformação que figuras dramáticas costumam vivenciar. Ela sai de um estado e permanece ali.
Apenas Stephanie demonstra ter um arco completo. Uma obra não precisa seguir, necessariamente, uma linha aristotélica. Contudo, Brown começa este caminho, colocando na produção as bases de uma história tradicional. Assim, Seagrass é uma linha crescente, que despenca quando chega em seu topo. A construção do elenco daquela família que se ama, mas sofre problemas diários é enxuta, com momentos bem orgânicos, como na sequência do “showzinho” das irmãs.
Os intérpretes imprimem o naturalismo preciso neste contexto e ainda contam com bastante carisma, mesmo que passem a revelar dificuldade para não caírem na artificialidade, depois do segundo ato. As nuances textuais, de decupagem e de atuação estão no longa, porém não se sustentam. É um bom primeiro longa, mas poderia ser muito mais interessante, potente e arriscado.
Direção: Meredith Hama-Brown
Elenco: Ally Maki, Luke Roberts, Nyha Huang Breitkreuz
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