Después

39º Festival Internacional de Cinema de Guadalajara: Después

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O luto não é uma experiência linear, tampouco algo que se supera. Neste sentido, a premissa estética e discursiva de Después faz sentido e é bem-vinda. Dirigido por Sofía Gómez-Córdova, o longa-metragem traz a relação de uma mãe, Carmem (Ludwika Paleta), com seu filho, Jorge (Nicolás Haza), e a sua perda com a morte prematura dele.

A temporalidade para revelar o passado de Carmem, a relação que a mesma estabeleceu com o marido e seu amor pelo filho é de idas e vindas. A ideia em si não é maléfica, porém a execução é dolorosa. Primeiramente, através da direção, fotografia e música incidental, o espectador já saberá, nos primeiros segundos da exibição, que Jorge não sobreviverá.

Caso a maneira como sua partida fosse feita, esse dado seria suavizado. No entanto, novamente, escolhas técnicas imprimem um desejo de surpresa pelo acontecimento. Mas, não há impacto, porque todos os signos do luto materno já estavam postos, tanto imageticamente quanto nos diálogos.

Jorge é posto como fofo e dedicado à mãe de forma demasiada. Nas recordações de sua infância, músicas melancólicas invadem o extra-diegético e a temperatura sépia clara fomenta ainda mais a construção da perda. Nesta lógica, ainda é possível notar a ausência de uma elaboração da própria trama.

As idas e vindas diluem qualquer espaço para progressão. Dificilmente, o público se apega as personagens, seus conflitos, ligações e emoções. Há uma tonalidade monocórdica vinda do sonoro e visual, que deixam com que a tristeza não invada o ecrã e seu enredo, tornando-se entediante.

O que a plateia recebe são clipes, com insertes e frases de efeito, que não alcançam o resultado esperado – como na sequência que Carmem descobre que Jorge se afogou e precisa dizer o policial informações crucias e dolorosas, como o ano que ele nasceu, mostrando que ele faleceu jovem.

Contudo, é necessário frisar o esforço profundo de Ludwika Paleta para criar um papel sólido e preenchido de camadas em Después. Sendo uma atriz que foca em nas nuances de gestos e expressões faciais – a intérprete veio da televisão e funciona nesta dinâmica de elaborar emoções através dos olhos e micro movimentos.

Sua Carmem tem na respiração e nas miradas de contracena um poder de co-criar com quem assiste uma história por cima da história original. Se o longa não sabe como dosar os elementos audiovisuais para emocionar, Paleta o sabe. Indo de encontro às seleções óbvias, ela coloca em cena um processo interno, que transborda, nas suas escolhas.

Paleta ainda empresta sua voz para Carmem, que é uma musicista, que desistiu da carreira para, justamente, poder prover com mais amplamente para seu filho. Mas, como se é sabido, o talento de uma atriz não pode salvar toda uma obra, mas pode fazer com que uma produção seja mais palatável.

É exatamente isso o que acontece em Después, um longa perdido, que serve como uma vitrine para se observar o talento de uma intérprete experiente, concisa e meticulosa. Para quem não se interessa por analisar e/ou acompanhar a jornada de atuação de uma artista, ver os primeiros 15/20 minutos do filme já é suficiente para compreendê-lo em sua totalidade.

Direção: Sofía Córdova-Gómez

Elenco: Ludwika Paleta, Nicolás Haza, Darío Rocas

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