Beleza Silenciosa é uma produção que trata de um tema delicado e pesado. Todavia, diante de toda a dificuldade temática, a pauta é posta com bastante cuidado na tela. Apesar de alguns entraves qualitativos, o longa-metragem de Jasmín Mara López, procura convocar o tema central de forma direta, mas com tons poéticos em suas imagens e textos. Neste contexto, é importante ressaltar que esta é uma história que tem como ponto de partida uma experiência pessoal da diretora, sobre o abuso sexual que ela sofreu do avô, Gilberto.
No entanto, à medida que ela investiga sobre este crime, do qual foi vítima no passado, a artista vai descobrindo que aquela realidade não era somente sua. A maneira como a obra revela progressivamente o que aconteceu dentro da família de Jasmín ,com momentos de reflexão da artista e das cenas nas quais ela fala sobre as relações boas que possuiu/possui com alguns de seus parentes, é o ponto alto da obra. Ainda que os fatos mais perversos e angustiantes sejam complicados de acompanhar, os instantes mais leves trazem esse equilíbrio para a sessão.
Sobretudo porque existem os instantes mais fortes do documentário, que são os telefonemas de Jasmín com Gilberto. O espectador escuta a ligação, enquanto lê uma legenda, com o que está sendo dito, mostrado em uma cartela preta. Esta estratégia reforça as palavras proferidas pelo abusador, que se acovarda diante do confronto, revelando a sua crueldade em se aproveitar de pessoas vulneráveis. Ao mesmo tempo, é notável a força da diretora e roteirista ao confrontar o seu assediador, quando ela detalha as ações dele, sendo direta e objetiva.
Neste sentido, é perceptível que a força da história e a sua relevância estejam mais presentes em seu conteúdo basilar, nos fatos que ele traz. Já em termos de técnica cinematográfica, o filme peca e acaba deixando a sessão entediante, mostrando uma falta de consciência da equipe sobre cinema. A começar pela música, que deixa uma sensação de repetição. Há um tom monocórdico nas composições, o que pode ampliar no público a impressão de que ele está escutando o mesmo som o tempo inteiro.
Por fim, a escolha musical é ainda apelativa, remetendo a vídeos motivacionais, do início da era do Facebook, por exemplo. Mas, este artifício acaba por ter o efeito oposto. Dificilmente o espectador irá se emocionar, justamente porque não tem distinção de tonalidades, reduzindo seu efeito. No entanto, esta característica está presente para além da composição musical. Não há uma criação de progressão, de ritmo ou de noção de roteiro, direção e montagem aqui. As informações parecem colocadas sem pensar na lógica de efeitos para o espectador.
Com intenções na mesma cadência, é difícil se conectar com o enredo e suas personagens, porque o enredo é posto de maneira demasiadamente linear, deixando uma ausência de gráficos de emoções, de uma noção concreta de narrativa mesmo – estabelecimento de conflito, clímax, desenlace etc. Desta maneira, Beleza Silenciosa não é tanto um filme, mas sim um relato filmado.
Em toda a sua relevância temática e com toda a coragem da diretora, a sessão pode valer a pena para aqueles que conseguirem focar na produção. Para chegar até o final da sessão, um dica é não se concentrar na música repetitiva, que tenta ser melancólica e tocante. Centrar a atenção nos pontos positivos criado por Jasmín Mara López, como no relacionamento dela com a parte boa da família pode ser uma saída.
Direção: Jasmín Mara López
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