O cinema autobiográfico e/ou de denúncia é algo comum dentro do audiovisual brasileiro. Assim, de Cristiano Burlan, passando por Marina Pontes, ou até mesmo Petra Costa, a experiência pessoal de um realizador, junto com uma produção artística, é recorrente.
E esta estratégia pode funcionar, justamente como uma conexão imediata com a plateia. Colocando-se vulnerável, a pessoa à frente da obra pode revelar detalhes profundos sobre si, celebrando ou exorcizando memórias. O segundo caso é o que acontece com o curta-metragem de Joana Claude.
Descarrego é simples em sua técnica, porém intenso e tenso em sua história. Tratando sobre um abuso sexual que sofreu, Claude destrói a peça central para a recordação da violência vivenciada. Assim, em um plano longo, a plateia espera Joana quebrar e queimar um armário, enquanto sua voz off conta o que ocorreu com ela em seu passado.
A ideia em si é poderosa e promissora, mas um erro básico, que acontece em muitos documentários – é bem verdade -, reduz consideravelmente a qualidade do curta. Provavelmente, focada ao extremo em encerrar um ciclo terrível de sua vida, Joana esqueceu que estava fazendo um filme.
A imagem é mal tratada, sem consciência de luz e enquadramento. Mesmo que com a uma equipe bem reduzida, se a câmera está parada o tempo inteiro, Joana mesmo poderia ter pensado em uma maneira de transformar em imagem a sua concepção de expurgo da dor.
Desta maneira, se por um lado esta é narrativa escrita de forma redonda em Descarrego, com um roteiro rico, que explicita o ocorrido sem ser expositiva, o processo criativo de direção deixou a desejar. Não é de todo mal e merece ser exibido em festivais por conta de sua temática, porém Joana Claude pode pensar mais na estética e linguagem visuais de suas direções no futuro.
Direção: Joana Claude
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