Quando Belos Carnavais começa, a sensação que se tem é a de que um dia muito bom está para começar. Logo de início, Dadinho é visto acordando. A luz que incide em seu quarto é intensa e sua roupa verde e branca está pendurada em um cabide. Instantes depois, fica-se sabendo que o sambista irá para o enterro de seu irmão. Ambos compositores de Escolas de Samba, rivais na quadra e também na vida amorosa.
Dentro deste contexto, talvez, o ponto mais forte do curta-metragem seja a complexidade da maneira como se lida com o luto. Entre canções, afetos e algumas lágrimas – estas que sempre acabam chegando em partidas de entes queridos –, há também um conforto do amor que perpassa cada cena. Oponentes unidos para dizer adeus! Somente por este motivo o filme já emociona, sem fazer muito esforço.
No entanto, o curta se vale demais da força de sua própria premissa, da beleza das músicas e da presença cativante de suas personagens. Por trás de todo o símbolo potente presente nas despedidas, as relações são pouco exploradas. O espectador observa de longe, porém não se aprofunda nos sentimentos e emoções de Dadinho, de seus rivais e, principalmente, de seu aparente amor do passado.
Pinceladas de um quase desenvolvimento de enredo são trazidas, mas isto nunca concretizado, não se é dito ou revelado. Um exemplo é a dinâmica entre Dadinho e sua neta, que é introduzida no princípio da projeção, mas vai sendo deixada de lado à medida que a história avança. Era necessário haver este aprofundamento e ele não precisava vir em textos falados, mas falta algo que vá mais além, já que um momento tão significativo da vida das pessoas é trazido aqui.
Em um enterro de um irmão, no qual alguém vê uma paixão e ainda está cercado de pessoas que fizeram parte de tantas vivências, era preciso convocar fatos ou até mesmo ações como olhares mais demorados e gestos. Esta ausência acaba esvaziando algumas escolhas contidas na obra, pois se existe a vontade de contar tanto, este tanto precisa ser trabalhado, para que quem assiste o sinta em toda sua completude.
Todavia, o que há aqui é a intensidade de uma premissa, das personagens vistas na tela e das sonoridades que emocionam, mas uma falta de aproveitamento destes elementos para uma coerência maior da produção. Belos Carnavais acaba sendo uma experiência positiva, justamente porque o público pode presenciar instantes majestosos de interação da Velha Guarda do samba brasileiro, mas gera frustração porque, de alguma maneira, ele parece ser mais do que realmente é.
Direção: Thiago B. Mendonça