Mais um ano e mais um filme do cineasta Wes Anderson (Asteroid City, de 2023) chega para o público. Desde 2023 que o diretor tem tido lançamentos consecutivos a cada ano, mostrando a sua já conhecida estética de simetria, tons pasteis e situações inusitadas. O Esquema Fenício, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (29), não foge dessa lógica do diretor. Com situações ainda mais estapafúrdias e um humor ácido, o longa-metragem estreante parece ser um retorno do cineasta aos seus tempos de ouro.
O roteiro de Anderson se desenrola a partir das interações entre um pai e uma filha que nunca tiveram uma relação sólida. A estranheza e o distanciamento conduzem o público durante os 105 minutos de duração por meio de inúmeras cenas absurdamente constrangedoras e satíricas. Anderson não deixa nada a desejar em O Esquema Fenício. As situações inusitadas que estabelecem as interações dos personagens definem o tom caótico e bem humorado do longa, fazendo com que os fãs do diretor retornem aos primórdios de sua carreira.
O diretor e roteirista sempre debateu os encontros da vida, ainda mais quando o assunto são os encontros dos desajustados e a tentativa de encontrar seus pares – mesmo que esses tenham seu próprio sangue. E essa dobradinha entre roteiro e direção continua a permitir que o texto ganhe forma em sua condução narrativa visual. As imagens ditam o que o roteiro expressa. Em O Esquema Fenício, as distância em tela não apenas balanceiam a conhecida simetria das imagens andersianas, mas também exemplificam o abismo que existe entre os personagens de Benicio del Toro (A Crônica Francesa, de 2021) e Mia Threapleton (Firebrand, de 2023).

Anderson jamais decepciona nessa harmonia entre roteiro e direção. Possam gostar ou não dos seus filmes, achar que eles são desvairados demais ou coisa do tipo, mas é inegável como o cineasta sabe conduzir bem as suas criações com identidade própria. O exagero, os melismas, o humor ácido e insano, tudo isso é formativo de quem é o diretor e o público consegue perceber isso do início ao fim do filme. O longa é um claro exemplo da essência do que é o cinema de Wes Anderson. Sem faltas e com muitos excessos, O Esquema Fenício é a cara de Wes.
Por falar em identidade, a fotografia, a arte e a trilha sonora são elementos essenciais para construir essa cara tão andersiana para as suas obras. No caso desta produção, o cineasta contou com o talento de Bruno Delbonnel (A Tragédia de Macbeth, de 2021) para conceber os dois momentos imagéticos – o real e o imaginário do personagem de del Toro – d’O Esquema Fenício. A arte foi comandada por Esther Schreiner (Ferrari, de 2023), que se encarrega de dar vida às tonalidades pasteis com uma ludicidade teatral já conhecida das obras do diretor. E, por fim, a composição musical ficou a cargo de Alexandre Desplat (Nyad, de 2023) para embalar o público nessa jornada fantástica e insana.
O Esquema Fenício encanta porque, tanto a equipe técnica como o elenco, consegue convencer o espectador da farsa – aqui usada no sentido teatral da palavra – mostrada na telona. Wes Anderson é o mestre da farsa cinematográfica e seu novo longa parece abraçar isso como há muito não fazia. A acidez do humor e a sátira ao capitalismo industrial, às trapaças dos magnatas e do governo estadunidense e à disfunção familiar dos personagens centrais promovem um divertimento absurdo. Do início ao fim, o filme se encarrega de entreter por ser e entender que é um grande e hilário absurdo.
Direção: Wes Anderson
Elenco: Benicio del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera, Riz Ahmed, Tom Hanks, Bryan Cranston, Mathieu Amalric, Richard Ayoade, Jeffrey Wright, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch, Rupert Friend e Hope Davis
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