Nascida no Havaí, Nicole Kidman sempre se definiu como uma australiana legítima já que se mudou para Sydney quando tinha apenas três anos de idade . Filha de um renomado psiquiatra e pesquisador em bioquímica e de uma enfermeira, Kidman começou a carreira na televisão australiana, quando fez trabalhos que a marcaram muito por lá, como a premiada série Vietnam. Sua grande apresentação a Hollywood veio no início da década de 1990 em Terror a Bordo, thriller de Phillip Noyce, e, logo em seguida, Dias de Trovão, onde conheceu o ator Tom Cruise, com quem foi casada por 10 anos.
A atriz viveu sua melhor fase no início dos anos 2000: filmes que a tornaram ainda mais popular para toda uma geração de cinéfilos, a vitória de uma estatueta do Oscar de melhor atriz e um novo casamento com o músico country Keith Urban, com quem teve duas filhas biológicas, Sunday Rose e Faith Margaret. Completando 49 anos de vida (e 33 anos de carreira) nesta segunda-feira (20) e, atendendo a pedidos, decidi elencar os trabalhos da australiana que considero mais interessantes. Todos provas de que a atriz permanece como uma das mais versáteis, inquietas e produtivas em atividade, desafiando os padrões e as expectativas de Hollywood, dos críticos e do seu público com suas diferentes e inesperadas escolhas.
# 10. Cold Mountain (2003)
Dir.: Anthony Minghella
Romance ambientado na Guerra Civil americana escrito por Charles Frazier, Cold Mountain foi convertido para os cinemas pelas mãos de Anthony Minghella, realizador que em 1997 conquistara 9 Oscars com O Paciente Inglês (incluindo o prêmio de melhor filme e diretor). Logo que fora anunciado, o filme gerou muitas expectativas não só pelo precedente de Minghella com materiais desse tipo, mas também porque, para muitos, Cold Mountain estava destinado a ser o E o Vento Levou das novas gerações. Não foi o caso, mas o filme de Minghella é um título bem eficiente aos propósitos de contar uma espécie de Odisseia de Ulisses com o retorno do soldado desertor Inman, Jude Law indicado ao Oscar, ao povoado de Cold Mountain para reencontrar a sua amada Ada, personagem de Kidman, que tenta colocar a sua propriedade rural de pé ao lado da amiga Ruby, papel de Renée Zellweger. O trio central estava em alta na ocasião (Kidman e Zellweger acabavam de sair de duas disputas consecutivas pela estatueta do Oscar), mas o filme também reserva ótimos momentos para atores conhecidos em participações especiais, como Natalie Portman, Philip Seymour Hoffman, Charlie Hunnam e o músico Jack White. Rendeu a Renée Zellweger diversos prêmios como atriz coadjuvante, incluindo o da Academia de Hollywood.
# 09. Um Sonho Distante (1992)
Dir.: Ron Howard
Ambientado em 1892, ápice da propagação da ideia do “sonho americano” e da corrida do ouro, Um Sonho Distante foi o segundo filme protagonizado por Nicole e Tom Cruise. A direção é de Ron Howard (Uma Mente Brilhante) e o casal vive jovens irlandeses que, por motivações diferentes, partem rumo aos EUA cheios de expectativas com as promessas de liberdade e fortuna que o país oferecia aos seus imigrantes. O filme de Howard é uma mistura saudável de romance, aventura e humor que não deixa de trazer todo um esquema de situações previamente conhecidas pelos espectadores: ele é um rapaz pobre e honesto, ela é uma garota rica e voluntariosa, os dois se odeiam no início e, aos poucos, vão se encantando um pelo outro. Acontece que não é porque segue a cartilha que Um Sonho Distante perde o seu charme. O filme consegue dosar muito bem os seus recursos dramáticos e o casal de protagonistas cativa o público como Joseph e Sharon.
#08. Um Sonho sem Limites (1995)
Dir.: Gus Van Sant
Sensação em Cannes quando foi exibido em 1995, a comédia de humor negro Um Sonho sem Limites fez o público respeitar Nicole como atriz, descolando-a da imagem que até então era mais difundida da australiana, a de sra. Cruise. No longa de Gus Van Sant (Gênio Indomável, Milk), Kidman interpreta uma garota do tempo casada com um homem simples (Matt Dillon) que faz de um tudo em sua escalada ambiciosa por fama e dinheiro no showbusiness. Suzanne Stone é tão obcecada por sua carreira na televisão que contrata três adolescentes, vividos por Joaquin Phoenix, Casey Affleck e Alison Folland, em início de carreira, para orquestrarem um plano macabro ao seu lado. A interpretação de Kidman nesse filme rendeu a atriz diversos prêmios, incluindo o seu primeiro Globo de Ouro (melhor atriz em comédia ou musical) e um Critic’s Choice Award. Merecia ter sido indicada ao Oscar. Suzanne Stone é a bitch preferida de 9 em cada 10 fãs da Nicole e mostra para o público um lado sombrio da atriz.
#07. A Pele (2006)
Dir.: Steven Shainberg
Baseado na biografia da fotógrafa nova-iorquina Diane Arbus escrita por Patricia Bosworth, A Pele é um dos títulos pouco conhecidos na carreira da atriz. Conduzido por Steven Shainberg, que em 2002 havia dirigido o inusitado Secretária com Maggie Gyllenhaal, o longa reimagina a trajetória de Arbus dentro do próprio universo que a fotógrafa buscava retratar em seu trabalho, àquele de pessoas marginalizadas por suas deficiências físicas. Com inspirações em contos “infantis” como A Bela e a Fera e Alice no País das Maravilhas, Shainberg opta por uma abordagem não convencional em biografias, a não literalidade, a leve ausência de realismo e a reimaginação de eventos reais em tom onírico, ao transformar a reprimida Diane em uma das maiores fotógrafas americanas de todos os tempos. O longa prima pelo apuro estético e investe na parceria entre Kidman e Robert Downey Jr., quando ainda se interessava por fazer outra coisa além de dar vida a Tony Stark na franquia da Marvel Vingadores.
#06. Reencarnação (2004)
Dir.: Jonathan Glazer
Provavelmente um dos títulos mais injustiçados na carreira da atriz, Reencarnação só passou a ser visto com outros olhos pela crítica nos últimos anos em movimentos de revisão da obra empreendidos por algumas vozes importantes na área. O longa traz Nicole como Anna, uma mulher que ainda se recupera da trágica morte do seu companheiro Sean. Quando ela começa a refazer a sua vida e anuncia que se casará novamente, surge um garoto de dez anos que diz ser a reencarnação do falecido Sean. Segundo longa-metragem da pequena, mas interessante, carreira de Jonathan Glazer (Sexy Beast e Sob a Pele), Reencarnação gerou polêmica na sua época pela famosa cena em que a atriz aparece nua em uma banheira com o garoto Cameron Bright e não agradou parte da crítica presente no Festival de Veneza quando ele fora exibido por lá. Contudo, o longa é muito mais do que esta cena. Reencarnação acaba revelando-se como um interessante ensaio do diretor sobre o processo do luto e da crença e traz uma das mais intensas interpretações da carreira de Nicole. Em uma das cenas mais memoráveis do filme, Kidman apresenta um misto de reações da sua personagem em um plano fechado durante a apresentação de uma ópera. É primoroso.
#05. De Olhos bem Fechados (1999)
Dir.: Stanley Kubrick
Último filme da carreira do cultuado Stanley Kubrick (O Iluminado, Laranja Mecânica), De Olhos bem Fechados foi um verdadeiro divisor de águas na carreira da atriz. Segundo relatos da mesma, a partir do seu contato diário com o perfeccionista cineasta, Kidman entendeu que estava na hora de priorizar a sua carreira, algo que a australiana colocara em segundo plano nos seus primeiros anos de casada. A partir dali, a atriz viveu a sua fase de ouro, que compreendeu os anos de 2001 a 2003, mas também um dos momentos mais tumultuados da sua vida pessoal, o rompimento com o marido na ocasião, o ator Tom Cruise, que, por sinal, é o protagonista deste longa. De Olhos bem Fechados trazia Cruise e Kidman como o casal Harford, cujo matrimônio é sacudido com a revelação de que Alice (Kidman) se sentia atraída por outros homens. A partir daí, William (Cruise) faz uma descida a seus mais profundos e obscuros desejos em uma jornada que envolve um encontro com um antigo amigo, breves momentos com uma garota de programa e uma passagem por uma soturna sociedade secreta. Redescoberto aos poucos através de processos de revisão após a sua tumultuada estreia em 1999, De Olhos bem Fechados é mais um exemplar do que Kubrick soube fazer de melhor na sua carreira: encher os seus filmes de um refinado uso da linguagem audiovisual e se aventurar pelos recônditos da psiquê humana.
#04. Dogville (2003)
Dir.: Lars von Trier
Em 2002, a atriz embarcou para a Suíça e Dinamarca a fim de começar as filmagens de Dogville, longa do cineasta Lars von Trier (Melancolia, Ninfomaníaca), dando início a trilogia “Terra de Oportunidades”, na qual o diretor abordaria temas relativos a sociedade americana. Exibido em Cannes em 2003, o filme é marcado por opções ousadas do realizador. Com cerca de três horas de duração, o longa é conhecido pela ausência de cenários, substituídos por marcações a giz feitas em um galpão que reproduz o vilarejo de Dogville no Colorado. Na história, as pessoas do local abrigam a jovem fugitiva Grace (Kidman). Aos poucos, a bondade da moça começa a ser explorada pelos habitantes de Dogville, que de generosos e acolhedores passam a ser capazes de cometer as maiores atrocidades com Grace. Fruto de um processo criativo psicologicamente exaustivo, já que Trier é conhecido por ser bastante exigente com as suas protagonistas, este talvez seja uma das mais interessantes interpretações da carreira de Kidman em um filme que não apenas questiona a política de “boa vizinhança” dos EUA, mas também a própria natureza do homem, testando os limites da generosidade e bondade da humanidade através do seu olhar para a comunidade de Dogville e para a sua protagonista. O filme rendeu apenas uma continuação chamada Manderlay, na qual Bryce Dallas Howard interpretou Grace. Washington, que seria o terceiro filme da trilogia, nunca chegou a ser feito por Trier.
#03. Os Outros (2001)
Dir.: Alejandro Amenábar
Em recente entrevista, James Wan, diretor da franquia Invocação do Mal, considerado por muitos como um dos mestres do terror contemporâneo, afirmou que Os Outros é um filme exemplar no seu gênero pela maneira como trata o tema do sobrenatural. A escolha de Wan é coerente, afinal o chileno Alejandro Amenábar (Preso na Escuridão, Mar Adentro) soube utilizar muito bem todos os recursos pelos quais, hoje, o malasiano é conhecido. Ao contar a história de uma mulher e seus dois filhos presos em uma mansão na ilha de Jersey durante a Segunda Guerra Mundial, aguardando o fim do conflito, Amenábar trabalha muito bem na composição de uma atmosfera de tensão com poquíssimos recursos digitais. O realizador opta por priorizar o uso de jogos de luzes e efeitos de câmera. Além disso, o diretor, com a ajuda de um roteiro escrito pelo mesmo, consegue sustentar o seu filme nos consistentes conflitos emocionais dos seus personagens principais. Pelo filme, Kidman foi indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta de melhor atriz.
#02. Moulin Rouge (2001)
Dir.: Baz Luhrmann
Lançado no mesmo ano de Os Outros, o musical do australiano Baz Luhrmann (Romeu e Julieta, Austrália, O Grande Gatsby) é um filme pelo qual, certamente, Nicole Kidman será eternizada. No longa, a atriz interpreta Satine, cortesã e estrela do Moulin Rouge, famosa casa de entretenimento parisiense que na virada do século XIX para o XX recebe desde os figurões da capital francesa até jovens artistas boêmios. Apesar de ser cobiçada por um inescrupuloso duque, Satine acaba se apaixonando pelo jovem e humilde escritor Christian, com quem acaba vivendo um amor proibido nos bastidores do ensaio de uma montagem teatral que a casa de shows pretende exibir. Moulin Rouge foi responsável pela nova leva de musicais dos anos 2000, após a escassez de produções do gênero nos anos 1990 e 1980. Luhrmann conseguiu cativar os fãs tradicionais desse nicho de produção, mas também as novas gerações, traduzindo o musical para os novos tempos ao conferir a história um ritmo de videoclipe e preencher o romance com releituras de hits que vão de Madonna a Nirvana. Intenso como experiência cinematográfica até os dias atuais, Moulin Rouge é o que poderíamos chamar de relato definitivo do que é o amor, descrevendo-o da maneira mais simples, pura e vibrante possível. O filme rendeu a primeira de três indicações ao Oscar da carreira de Nicole. Moulin Rouge venceu os prêmios da Academia de Hollywood nas categorias direção de arte e figurino.
#01. As Horas (2002)
Dir.: Stephen Daldry
Reunir Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep no elenco principal de um filme e ainda trazer coadjuvantes do calibre de Ed Harris, Toni Collette, Claire Danes, Allison Janney, Miranda Richardson, John C. Reilly, Jeff Daniels e Margo Martindale é fazer de um filme um verdadeiro evento cinematográfico. O inglês Stephen Daldry (de Billy Elliot e O Leitor) adaptou o romance As Horas, de Michael Cunningham, para os cinemas e o resultado foi um filme marcante para toda uma geração de cinéfilos e amantes da literatura. No longa, o espectador acompanha um dia na vida de três mulheres em três épocas distintas das suas vidas, todas vinculadas a uma única obra literária: em 1923, a escritora inglesa Virginia Woolf (Kidman) lida com sua depressão enquanto desenvolve o célebre romance Sra. Dalloway; em 1949, enquanto lê o livro de Woolf, a dona de casa Laura Brown (Moore) tem que tomar uma importante decisão nos preparativos do aniversário do marido; e, em 2001, a editora Clarissa Vaughn (Streep) prepara uma festa para a premiação do seu melhor amigo. Entre outras questões, o filme é sobre as decisões que tomamos em nossas vidas e como nossas escolhas, muitas vezes, implicam na infelicidade dos que estão ao nosso redor, mas existem muitas leituras, todas pertinentes, e seria necessário uma postagem à parte para dar conta de todas elas. O longa foi indicado a 9 Oscars, mas só levou para casa o prêmio de melhor atriz para Nicole. No Festival de Berlim, Kidman, Streep e Moore receberam juntas o prêmio de melhor atriz.
Quase fizeram parte da lista: Margot e o Casamento (2007), de Noah Baumbach; Segredos de Sangue (2013), de Park Chan Wook; Retratos de uma Mulher (1996), de Jane Campion; Reencontrando a Felicidade (2010), de John Cameron Mitchell.
O que o futuro reserva
Como já era de se esperar, a agenda da atriz está lotada para os próximos anos. Como já era de se esperar, a agenda da atriz está lotada para os próximos anos. Ainda existe uma lista grande de filmes protagonizados por Kidman que ainda vão chegar aos cinemas brasileiros: Terra Estranha, Rainha do Deserto, The Family Fang e O Mestre dos Mestres. Desses o mais destacável é The Family Fang, filme de Jason Bateman que recebeu ótimas críticas nos EUA.
Em novembro de 2016, ela será vista em Lion, drama que muitos consideram ter boas chances na próxima temporada de prêmios, com Rooney Mara e Dev Patel no elenco.
Em 2017, será o ano em que Nicole investirá na TV. A atriz estará em duas séries: Big Little Lies, da HBO, dirigida por Jean-Marc Vallée (Livre, Clube de Compras Dallas), ao lado de Reese Whiterspoon, Laura Dern e Shailene Woodley; e a segunda temporada de Top of the Lake, de Jane Campion (O Piano), com Elisabeth Moss e Gwendoline Christie. Em 2017, Nicole também estará no cinema com How to talk to Girls at Parties, de John Cameron Mitchell (Reencontrando a Felicidade), e The Beguiled, próximo longa de Sofia Coppola.