Na última semana, Luta por Justiça entrou em cartaz nos cinemas de todo o Brasil. Dirigido e escrito por Destin Daniel Cretton (O Castelo de Vidro), o filme é uma adaptação do livro de Bryan Stevenson. Advogado, formado em Havard, Stevenson consegue fundos para defender presidiários que estão sentenciados a pena de morte no Alabama. Obviamente, o que o jovem vê é um sistema extremamente racista, injusto e que condena a maioria das pessoas sem provas e sem investigação concreta. No longa, o criminalista é interpretado por Michael B Jordan (Creed: Nascido para Lutar), que entrega uma performance equilibrada, construindo uma personagem cheia de força interna, mesclada com uma serenidade e olhares atentos ao seu redor.
No geral, a produção possui um resultado positivo. Em sua técnica é bem tradicional, não faz muitas firulas e foca mais no poder do próprio enredo. No entanto, ele peca por tentar apelar demais para o emocional do espectador, em alguns momentos. Seja com uma trilha “sentimental” exagerada, que fica por um longo tempo, ou com closes nos rostos dos atores com expressão de sofrimento, a sensação é de que a equipe quer fazer o público chorar. Além disso, a projeção é um tanto extensa, perdendo a chance de explorar mais o potencial da trajetória de McMillian (Jamie Foxx).
O que fica desta obra, ao final da exibição, é justamente o tamanho das atrocidades que os brancos são capazes de fazer, da impunidade e passabilidade que eles possuem. A reflexão e a denúncia feitas são de profunda relevância e, por isso, o Coisa de Cinéfilo resolveu trazer mais sugestões que seguem a mesma linha de Luta pela justiça e precisam ser visto para ontem! Confira!
Confira nosso Especial: Filmes sobre Questões Raciais:
5 – Malcolm X (1992)
Dirigido por Spike Lee (Faça a Coisa Certa), o filme é uma cinebiografia de um dos mais famosos ativistas da militância negra mundial. No longa, através da história de Malcolm, é possível enxergar todo o racismo, a segregação e crueldade presente nos Estados Unidos. Nascido nesse contexto estadunidense opressor, Malcolm X vai se descobrindo, a partir da sua entrada no islamismo, e começa a sua luta. A complexidade dada ao protagonista por Lee é um dos pontos altos da produção.
4 – Se a Rua Beale Falasse (2018)
Baseado no livro de James Baldwin, o filme conta a história de uma jovem que deseja provar a inocência do amor de sua vida. O rapaz foi acusado e preso injustamente por um crime que não cometeu. Não existem evidências que provem sua culpa, mas o sistema racista encarcera antes mesmo de qualquer prova. Assim como é dito e mostrado em Luta por Justiça, a seleção do policial se dá pela cor do indivíduo.
Dirigido por Barry Jenkins (Moonlight), a produção mescla os momentos de revolta e denúncia, com cenas românticas entre Tish e Fonny. As escolhas estéticas de Jenkins, como as das paletas de cores e enquadramentos, trazem um tom poético para a projeção, mas sem perder de vista a pauta principal da trama. O diretor consegue passar de forma sutil em seu trabalho o fato de que a comunidade negra está vivendo seu cotidiano e é recorrentemente interrompida e violada pela fúria dos brancos que, para piorar ainda mais as coisas, conseguem escapar de seus crimes todos os dias, incriminando negros.
3 – Estrelas Além do Tempo (2016)
Um pouco mais leve que as outras produções da lista, Estrelas Além do Tempo é um respiro e uma espécie de reparação histórica, pois revela para a sociedade a trajetória de personalidades femininas negras que foram importantes para a ciência, mas que não tiveram seus esforços tão divulgados como a de homens brancos que fizeram muito menos.
Dirigido por Theodore Melfi (Um Santo Vizinho), o longa mostra como uma equipe composta apenas com matemáticas negras da NASA realizou uma operação fundamental para os EUA, na Guerra Fria. A obra mostra não apenas como elas foram fortes, brilhantes e poderosas, mas como lutaram contra o racismo dentro da instituição e fora dela. Tecnicamente, o ponto alto do filme é a atuação de Taraji P Henson (Luta pela Liberdade), como Katherine G Johnson, que merecia uma indicação ao Oscar, em 2017, mas que não recebeu. No entanto, Octavia Spencer (A Forma da Água) apareceu na categoria Melhor atriz coadjuvante.
2 – A 13ª Emenda (2016)
Escrito e dirigido por Ava DuVernay (Uma Dobra no Tempo), o filme é um documentário da Netflix que mostra como o sistema carcerário estadunidense prende e pune majoritariamente homens negros. O nome do longa está ligado à lei décima terceira da Constituição dos Estados Unidos que abole e proíbe a escravidão. Mas, o que a obra mostra é que o sistema escravocrata não acabou, somente trouxe outras nomenclaturas e organizações. Com imagens de arquivo e dados estatísticos, a tese posta da produção é confirmada pelos números. Eles revelam que a quantidade de presidiários negros é de 40%, sendo que no país eles são 12%. Juntando este fato com a informação de que as investigações e os julgamentos não acontecem da mesma forma a depender da raça da pessoa, é fácil de se entender porque estas porcentagens são como são.
1 – Selma: Uma Luta pela Igualdade (2014)
Também dirigido por Ava DuVernay, o longa mostra a luta de Martin Luther King para que os negros possam votar nos Estados Unidos. A batalha pela conquista deste direito acaba resultando em um dos eventos mais importantes da história mundial: a marcha de Selma a Montgomery. O filme retrata a violência policial, revelando novamente a fúria dos brancos pela manutenção exclusiva de seus privilégios e a agressividade para alcançar tal objetivo. As escolhas da direção na decupagem elevam as revelações das tensões que os manifestantes pacíficos passaram durante o seu protesto. Além de ser uma obra importante por seu conteúdo histórico, o longa tem elementos técnicos que fazem com que a potência de seu conteúdo cresça. A progressão narrativa, os quadros e a montagem são seu ponto alto.