O novo longa de Damien Chazelle chega nesta quinta-feira (19) aos cinemas brasileiros e, apesar do esforço do diretor, a produção não é capaz de atravessar como primeira na linha de chegada. Mas o que fez Babilônia, um filme tão a cara do Oscar, se distanciar tanto da tão almejada consagração cinematográfica? A trajetória sob os holofotes de Hollywood do diretor, produtor e roteirista franco-americano explica isso.
Chazelle começou a sua carreira com longas-metragens no topo. Logo em seu primeiro projeto não independente, ele conquistou nomeações no Oscar em diversas categorias, inclusive “Melhor Direção” e “Melhor Roteiro Adaptado”. Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014) fez com que o jovem cineasta iniciasse a sua vida na grande Hollywood de forma estratosférica.
Seu filme seguinte, o premiado La La Land – Cantando Estações (2016), conquistou um espaço ainda maior e concedeu a Chazelle o seu primeiro Oscar. Apesar do inesquecível erro do prêmio de “Melhor Filme” ter sido anunciado para La La Land, o segundo longa de Damien não conquistou a estatueta. Assim, ele saiu da maior premiação do cinema, mais uma vez, sem esse louro.
A terceira produção do diretor claramente foi uma resposta dele para a Academia, uma investida para conquistar os votantes na empreitada de alcançar o que quase conseguiu na cerimônia de 2017. No entanto, O Primeiro Homem (2018) foi uma tentativa falha e se tornou o filme mais esquecível da carreira de Chazelle. Babilônia, no entanto, pareceu ter vindo como uma outra chance. A cartada final do cineasta em busca do desejado reconhecimento pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
O problema do novo truque de Damien em direção aos principais prêmios do Oscar está justamente em seu desejo. Babilônia funciona como uma orgia intelectual de amantes do cinema. Tudo no filme é pretensioso. Desde os elementos que deveriam até os que se tornam um erro. A dramédia sobre o período de transição do cinema muda para o falado, tenta mirar sua estética num visual absurdo e exagerado, tal qual foi feito por Baz Luhrmann em Moulin Rouge – Amor em Vermelho (2001) e Elvis (2022), mas se torna uma produção de excessos que cansa o espectador.
Diferente dos feitos de Luhrmann, Chazelle usa essa estética do absurdo em cada segundo dos longos 189 minutos de duração. Não apenas mantém esse exagero presente o tempo inteiro como também o utiliza em cada etapa e processo da produção. Por um lado, ele conseguiu entregar ao público um filme deslumbrante do ponto de vista visual e com uma unidade clara. Por outro, Chazelle fez Babilônia se perder.
O que era para ser o maior filme de sua carreira – superando até mesmo o brilhante Whiplash – se tornou um dos mais exaustivos. É verdadeiramente cansativo passar pelas três horas de duração do filme. E uma vez sabendo onde Chazelle queria chegar, o tempo da sessão de Babilônia se mostra ainda mais desnecessário. O roteiro se perde na tragédia de erros dos artistas. O drama existencial e a discussão das dificuldades adaptativas do mercado são trocados por um pastiche cômico sem razão.
Com isso, Chazelle mostrou que nem sempre sabe como concluir uma narrativa. Diferente do seu primeiro longa-metragem ou de La La Land, o final do novo filme do diretor se arrasta por cerca de 30 minutos, o que faz com que a sensibilidade de sua apoteótica montagem final perca a força. Babilônia seria outro filme se o desejo de chegar no Olimpo das premiações não estivesse dominando as decisões do cineasta.
Ao menos uma coisa é certa, Damien Chazelle não errou o título do seu novo projeto. Babilônia é o nome perfeito para descrever a essência do filme. O que é vista em tela pelo espectador é uma profusão de informações. Sejam elas estéticas, visuais ou sonoras, o projeto é uma experiência de excessos do início ao fim. Chazelle até tenta associar essa escolha aos eventos narrados, uma pena que isso não é o suficiente para sustentar a ideia.
No fim da equação, Babilônia passa da conta com uma quantidade exagerada de artifícios. Ainda que tenha uma fotografia, direção de arte, maquiagem e figurinos excepcionais, a montagem, trilha e o roteiro se perdem. Com isso, a própria direção de Chazelle não consegue ser um dos pontos altos do longa-metragem. A ânsia de fazer um filme metalinguístico que serve de ode ao início do cinema que conhecemos hoje cai por terra por conta desse vislumbre no prêmio.
Babilônia deve ser lembrado no Oscar, mas nas categorias relacionadas ao departamento de arte (“Melhor Design de Produção”, “Melhor Figurino” e “Melhor Cabelo e Maquiagem”) e, talvez, uma indicação pela fotografia. Desses, os prêmios mais possíveis estão na arte. É claro que o nome do longa pode sair entre os indicados a “Melhor Filme”, mas é um candidato muito fraco e não hegemônico entre os votantes para ganhar. Parece que o desejo excessivo em realizar o que quase conseguiu em 2017 atrapalhou a direção e o que seria mais um roteiro inteligente e criativo de Chazelle. Assim, o projeto entra no doloroso hall de filmes que tinham o potencial de alcançar os voos mais altos, mas desabaram do alto.
Direção: Damien Chazelle
Elenco: Brad Pitt, Margot Robbie, Diego Calva, Jean Smart, Jovan Adepo e Li Jun Li
Assista ao trailer!