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Crítica: Z – A Cidade Perdida

Já mencionei isso certa feita em outro texto sobre outra obra do mesmo realizador desse Z: A Cidade Perdida:  James Gray é um cineasta de trajetória peculiar. Contemporâneo de diretores como David Fincher, Christopher Nolan, Darren Aronofsky ou Paul Thomas Anderson, Gray tem o reconhecimento da cinefilia e da crítica, mas está longe de circular pelas grandes premiações ou assumir o protagonismo na seleção de qualquer festival mais cobiçado, ainda que sempre esteja vez ou outra na seleção de algum deles. Ao que tudo indica, o realizador também não deseja empreender esforços por mais visibilidade, parece se contentar com o tímido burburinho que suas obras costumam causar quando estreiam, ocasionalmente em espaços menos badalados do calendário cinematográfico como abril ou setembro. É nessas águas calmas que Z: A Cidade Perdida consagra-se como mais uma grande obra do realizador que também tem no currículo trabalhos primorosos e igualmente discretos em sua repercussão, como Amantes, Os Donos da Noite e Era uma vez em Nova York.

Em Z: A Cidade Perdida, Charlie Hunnam (visto recentemente em Rei Arthur: A Lenda da Espada) interpreta Percy Fawcett um explorador britânico que no início do século XX parte em uma viagem rumo a Amazônia, na fronteira Bolívia-Brasil, a fim de ajudar no reconhecimento geográfico da região. Durante a expedição, Fawcett descobre vestígios do que seria uma civilização que se encontra “perdida” no meio da floresta. Quando chega na Inglaterra, o explorador é ridicularizado por toda a comunidade cientifica, mas persiste com a sua ideia de ir a fundo nessa empreitada, sacrificando sua vida familiar com uma longa e perigosa jornada.

Uma das principais qualidades de Z: A Cidade Perdida é que James Gray desde o princípio parece querer narrar a jornada do seu protagonista com uma clara admiração pelo seu feito e biografia, mas sem que esse sentimento transforme seu filme numa grandiloquente e escandalosa narrativa histórica. No lugar de sublinhar os feitos do seu protagonista com recursos diversos como uma trilha sonora imponente ou diálogos excessivamente expositivos, James Gray faz aquilo que esperamos do seu cinema, deixa que o percurso dos seus personagens fale por si só, pincelando em momentos localizados sua contribuição na construção de planos marcados por uma economia e uma riqueza simbólica que só seus filmes conseguem compor. Essa elegância do diretor acompanha Z: A Cidade Perdida  do início ao fim, desde o momento que somos introduzidos na jornada de Fawcett com uma imagem noturna e distante de uma tribo indígena à margem do rio até o inspirado plano que encerra a narrativa e é protagonizado pela esposa do protagonista.

Gray transforma Z: A Cidade Perdida numa daquelas histórias de grandes feitos realizados por personagens inspiradores, mas sem as afetações de colegas que já utilizaram essa chave interpretativa para a vida dos seus personagens biografados. Realizando um relato da vida de Percy Fawcett, Gray deixa claro a todo momento sua admiração por aquele homem e pela perspectiva da vida que o mesmo tinha ao transformar sua busca incessante pela cidade perdida de Z numa jornada que trouxe um propósito louvável para sua vida, sem que essa admiração redimisse seu protagonista das suas eventuais faltas como cidadão, marido e pai.

Em quatro momentos marcados por toda uma atmosfera épica (vemos Fawcett voltar três vezes a Amazônia e ainda ir ao front da Primeira Guerra Mundial), dimensionamos uma história que busca dar conta da própria vida (e consegue isso). No final das contas, Z: A Cidade Perdida é um relato histórico, mas também um filme sobre nossa existência no mundo e o que a preenche de significado. Assim, mais uma vez, James Gray nos oferece um filme cheio de fôlego e sensibilidade dando ainda a oportunidade para atores como Charlie Hunnam e Sienna Miller exibirem os desempenhos mais inspirados das suas carreiras (há ainda Robert Pattinson e Tom Holland no elenco, ambos também muito bons).

Assista ao trailer do filme: