Os Fantasmas Ainda Se Divertem (2024)
Michael Keaton em cena de 'Os Fantasmas Ainda Se Divertem' (2024)

Crítica: Os Fantasmas Ainda Se Divertem

Crítica: Os Fantasmas Ainda Se Divertem
4.2

Uma das principais ferramentas usadas por Hollywood para mobilizar fãs é o retorno de filmes ou franquias de sucesso com sequências, remakes ou requels. No universo do terror, isso se torna ainda mais comum, a ponto de ser uma estratégia executada por estúdios desde o início da década de 2010. No caso da Warner Bros., sua nova investida traz o retorno de um clássico de Tim Burton (Dumbo, de 2019, e Wandinha, desde 2022) depois de 36 anos da sua estreia. Este ano o cineasta volta às telonas com uma de suas histórias mais marcantes: a do bio-exorcista mais conhecido. A sequência do sucesso de Burton dos anos 1980, intitulada Os Fantasmas Ainda Se Divertem, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (5) com a promessa de carregar a aura do seu antecessor e do cinema de Tim que o público não vê há muito tempo.

De cara, já é importante esclarecer que o novo longa-metragem de Tim é bem sucedido em sua missão. Os Fantasmas Ainda Se Divertem tanto acerta em reviver o clássico de 1988 como em estabelecer conexões com a atualidade e possíveis novos fãs. O tom da comédia é extremamente calibrado e pronto para fazer piadas escrachadas ou nonsense sobre si, o passado e os dias atuais. O roteiro de Alfred Gough e Miles Millar (ambos criadores de Wandinha) não perde de vista os elementos de terror – aqui até mais presentes do que em seu antecessor -, criando um tom ainda mais equilibrado do que o primeiro filme.

Além disso, o projeto aposta na continuidade visual do que estabeleceu Os Fantasmas Se Divertem lá em 1988 como um clássico cult. O uso de stop-motion, efeitos práticos e cores saturadas continua a representar a visualidade do longa-metragem e isso mantém seu caráter original. O investimento nessas características tão próprias de Beetlejuice (título original) só fortalecem a ideal de que o estúdio quis manter a energia do filme anterior em Os Fantasmas Ainda Se Divertem.

Outro fator que enriquece o filme e alegra os fãs do original, é ver Burton em sua melhor forma. Depois de 5 anos sem lançar um novo filme, o diretor estadunidense retorna com um dos projetos que mais marcou sua carreira e o catapultou para o sucesso. Os Fantasmas Ainda Se Divertem tem em seu cerne o DNA do que eram os longas dirigidos por Tim Burton no início de sua carreira. É possível perceber na sequência a mesma energia que existiu nos primeiros sucessos de sua carreira, como Batman (1989), Edward Mãos de Tesoura (1990), Ed Wood (1994)Marte Ataca! (1996).

Os Fantasmas Ainda Se Divertem (2024)
Jenna Ortega em cena de ‘Os Fantasmas Ainda Se Divertem’ (2024)

Mais do que o prazer que é ver Burton retornando às suas origens, é ter ele fazendo isso ao lado de pessoas que estiveram com ele nessa caminhada. O retorno de Michael Keaton (The Flash, de 2023), Winona Ryder (Stranger Things, desde 2016) e Catherine O’Hara (Argylle – O Superespião, de 2024) é uma chancela de continuidade ainda maior. Eles se mostram tão sagazes e prontos para uma nova aventura insana do diretor em Os Fantasmas Ainda Se Divertem. A sensação que dá ao vê-los em cena é como se o tempo não tivesse passado. O timing e a troca é tão poderoso como no original. Cada um tem seu momento de brilhar ao longo do filme, mas é preciso destacar O’Hara como um ponto fora da curva. Sua Delia Deetz está mais excêntrica e hilária do que nunca.

Ao lado do trio que fez parte do elenco original, Os Fantasmas Ainda Se Divertem ganha adições poderosas ao incorporar Jenna Ortega (Pânico, de 2022, e Pânico VI, de 2023), Justin Theroux (A Dama e o Vagabundo, de 2019), Monica Bellucci (Máfia Mamma – De Repente Criminosa, de 2023) e Willem Dafoe (Pobres Criaturas, de 2023) em seu elenco. Dafoe entrega um chefe de polícia excêntrico que , em vida, era um ator vaidoso; Theroux chega com o exagero de um aproveitador clássico; e Bellucci abraça o público com o encantamento de uma femme fatale zumbi. E ainda tem uma participação surpresa que tira boas risadas, apesar do seu curto tempo em tela.

Cada um cumpre seu papel em cena muito bem e divertem o público sempre que surgem em tela, mas Jenna precisa ser destacada separadamente. Apesar de ser a filha de Lydia Deetz, seu mérito não é pelo tempo de tela – até porque Keaton segue com menos de 20 minutos de filme e continua a ser um estouro -, mas pela sua presença. Tim encontrou em Jenna uma referência perfeita para incorporar o terror gótico satírico tão presente em sua carreira. Os Fantasmas Ainda Se Divertem só ganhou com essa nova leva do elenco, especialmente por levar ao público mais uma parceria entre Ortega e Burton.

A mistura de elementos clássicos e atuais, do elenco original com as adições e da retomado do cinema raiz de Tim Burton fazem de Os Fantasmas Ainda Se Divertem uma surpresa extremamente feliz. A sequência é tão divertida e surreal como o primeiro filme. Talvez o roteiro da sequência seja mais redondo e saiba usar melhor os elementos exageradamente surreais. É evidente que a narrativa já tem fãs há mais de três décadas, contudo, os acertos, as apostas e as certezas de produção fazem com que o segundo filme sobre Beetlejuice seja capaz de superar o primeiro em todos os aspectos possíveis. Que esse seja o início de novos projetos de Burton que retornem e abracem a sua verdadeira essência, que o fazem ser um diretor único.

 

Direção: Tim Burton
Elenco: Michael Keaton, Winona Ryder, Catherine O’Hara, Jenna Ortega, Justin Theroux, Monica Bellucci e Willem Dafoe

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