Depois de encerrar a trilogia sobre Suzane Von Richtofen no Amazon Prime Video com A Menina que Matou os Pais: A Confissão, o diretor Maurício Eça aposta em uma nova parceria com o serviço de streaming envolvendo um outro caso criminal de grande repercussão no Brasil, a história do serial killer Francisco Pereira em Maníaco do Parque.
O caso ganhou uma extensa cobertura da imprensa em 1998 e chocou o país pelo teor da sua violência. Na ocasião, várias mulheres foram assassinadas em sequência e seus corpos eram encontrados em um parque de São Paulo. Logo, a polícia e jornalistas chegaram ao nome de Francisco Pereira como o assassino dos casos. Francisco trabalhava como motoboy e era conhecido pelo seu comportamento introspectivo e por ser muito bom andando de patins. O filme acompanha a investigação do caso pela perspectiva de Elena, uma jovem jornalista do Notícias Populares responsável por batizar o serial killer de “maníaco do parque” na primeira manchete sobre o caso.
Em Maníaco do Parque, Maurício Eça apresenta-se como um diretor disposto a corrigir alguns problemas sentidos na trilogia Richtofen. O longa sobre o serial killer brasileiro distancia-se do olhar do assassino e traz como enfoque a investigação do caso pela leitura da jornalista Elena, interpretada por Giovanna Grigio, mesclando a misoginia inerente aos crimes com o sexismo vivenciado pela profissional na redação do jornal, estabelecendo uma conexão entre a repórter e as vítimas do “maníaco do parque”. Nas ações de Francisco existe um evidente ódio às mulheres enquanto Elena vive sendo descredibilizada pelos seus colegas, a maioria homens em cargos de chefia e com mais experiência que ela na profissão. Eça investe bastante nesses paralelos, ao menos na teoria.
O problema do longa é todo o desenvolvimento da sua proposta. O roteiro de Maníaco do Parque não tem a profundidade psicológica ou a construção de análise sociológica que o filme requer. Como acontecia na trilogia Richtofen de Maurício Eça, o longa sobre o “maníaco do parque” é marcado pela ausência de sutileza, apelando para chavões do cinema de investigação jornalística e transformando seus personagens em estereótipos a fim de facilitar a leitura do público acerca de quem são os vilões e mocinhos da história .
O caminho adotado prejudica bastante as interpretações de Silvero Pereira (sempre muito bem, mas aqui parece um pouco over em algumas cenas) e Giovanna Grigio. Em especial, Grigio sai bastante prejudicada com uma personagem reduzida a sua profissão. A repercussão do caso na vivência pessoal da personagem só surge no último ato do filme. O roteiro do longa parece esquecer desse olhar sobre a experiência feminina durante toda a cobertura da jornalista para o caso, promovendo cenas catárticas para a atriz apenas no derradeiro confronto da sua personagem com Francisco Pereira na cadeia como uma forma de retomar sua temática e frisar uma tese nunca esmiuçada anteriormente, mas apenas lançada em sua introdução (o que faz, inclusive, a gente se perguntar se tal perspectiva não foi adicionada em regravações ou coisas do gênero)
Não foi com Maníaco do Parque que a Amazon Prime Video conseguiu converter o interesse crescente do público por true crimes em obras que de fato consigam dar a dimensão do que esses casos representaram e quem são de fato as pessoas envolvidas nesses crimes, sejam elas os criminosos, as vítimas ou terceiros envolvidos. Mais uma vez, temos um caso de manchetes policiais reduzido a uma dramatização superficial, um projeto que parece feito, primeiramente, para atender às tendências do algoritmo e pensar muito pouco na forma como esta demanda será cumprida.
Direção: Mauricio Eça
Elenco: Silvero Pereira, Giovanna Grigio, Mel Lisboa
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