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Crítica: Host (Netflix)

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Com a pandemia do Coronavírus veio a necessidade de se fazer o isolamento social. A partir deste contexto, o cenário do audiovisual mundial trouxe uma espécie de reinvenção em suas lógicas narrativas. Valendo-se de estratégias que não são tão novas assim, diga-se de passagem, mas que começaram a ser usadas com mais intensidade, o espectador se deparou com uma quantidade enorme de produções filmadas em casa, que utilizavam recursos da internet. Esta é a realidade de Host e a primeira coisa que talvez se pense é: “Ah! Lá vem mais um filme fruto da pandemia”.

Sim, é bem verdade que a produção se constrói através de práticas comuns aos tempos nos quais vivemos, pois, na maior parte das cenas, cada personagem está em sua casa e todos conversam a partir da plataforma Zoom. A grande questão, no entanto, é o como são feitos estes usos e como a narrativa se desenvolve a partir disto. Através de uma chamada de vídeo, um grupo de amigos decide fazer contato com espíritos, com a ajuda de uma xamanista. Obviamente, a situação sai do controle e o pânico se estabelece.

É curioso observar que em sua pouca duração, o média-metragem consegue trabalhar bem com a progressão dramática. Ainda que, desde o seu início, seja estabelecido um clima de tensão, já na casa da protagonista Haley (Haley Bishop), a formulação da exposição dos fatos do enredo toma o tempo necessário, sem que este fique dilatado. Há uma combinação entre explorar as personalidades e relações das personagens, com a instalação do medo, através da situação assustadora que eles estão vivendo.

Além disso, o jogo da crença e da descrença do grupo faz com que a potencialidade dos sustos e da suspensão seja elevada, já que existe, principalmente até a metade da projeção, uma dúvida sobre o que é da ordem do “natural” ou do sobrenatural. Nesta dinâmica, existe um balanço entre tensionamento e relaxamento, o que faz com que o desfecho do média seja ainda mais intenso. Principalmente pelo fato de que esta estrutura vai se desfazendo, à medida em que a certeza de que há uma presença negativa as cercando cresce.

Desta maneira, o terceiro ato de Host se faz neste clímax que foi sendo elaborado progressivamente. Para que este feito acontecesse, os elementos técnicos, além do roteiro cuidadoso de Gemma Hurley (Dashcam), Jed Shephard (Ghosts) e Rob Savage (Strings) – sendo que o terceiro também é o diretor –, há uma coesão entre a fotografia, direção de arte e desenho de som, que coloca quem assiste num estado de proximidade com as personagens, aumentando o pânico do que estar por vir dentro da trama.

Host

Objetos considerados assustadores pela sociedade – como palhaços e caixinhas de música –, focos de iluminação que podem ser vistos atrás dos amigos no Zoom e ruídos que somem e aparecem repentinamente são alguns exemplos que ilustram esta conexão de ideias que fazem a qualidade de Host ser elevada. Outro ponto é a escolha de filmar apenas pelo computador ou pelo celular. Durante toda a exibição, o ponto de vista da plateia é sempre o da câmera destes aparatos. Esta escolha de execução é mais algo que aumenta a imersão com a história. A direção e a montagem trabalham para que esta concepção funcione.

Este estilo de gravação poderia tornar a sessão cansativa, mas, aqui, pelo contrário, a criatividade da decupagem e os cortes com raccords e jump cuts, transmitem uma sensação de intimidade com o grupo de amigos e ainda revela o potencial de realização cinematográfica, por conseguir trazer movimentos de câmera e enquadramentos do cinema, dentro de sua dinâmica. Neste sentido, é possível perceber influências do found footage aqui. Host – e perdão se eu estiver exagerando – é quase uma versão contemporânea de A Bruxa de Blair. Por meio da tecnologia do atual momento, a equipe sabe como negociar estratégias do real com o ficcional, nestas aproximações com espectador versus recursos de filmagem.

Nesta lógica, a seleção por colocar os nomes dos atores como os das personagens, bem como a própria inserção de uma chamada de vídeo, faz com que o público se sinta dentro da ligação também. Após tanto tempo em reuniões e encontros on-line e lives, é como se quem olhasse para o ecrã estivesse acompanhando algo que realmente está acontecendo. A angústia, assim, fica mais intensa e palpável. Desta forma, Host é um filme que vale a pena ser visto, sobretudo para quem vai sem tantas expectativas, pois a ideia é justamente embarcar em uma experiência que remeta a um dia comum, no qual se senta para ver mais um evento na internet.

É preciso deixar nítido que em seus sustos e investigações da personalidade das figuras ali apresentadas, falta saber conduzir o seu desfecho de uma maneira mais assertiva. Há uma dada pressa em finalizar o terceiro ato, que quebra um pouco da dinâmica pacientemente feita durante toda exibição. Isto não é algo que comprometa sua totalidade, mas que reduz o seu impacto, em alguma medida.

Direção: Rob Savage

Elenco: Haley Bishop, Jemma Moore, Radina Drandova, Emma Louise Webb

Assista ao trailer!