O terror e o suspense andam lado a lado por dividirem em seu cerne constitutivo o elemento da ambiência e tensão como objetivos principais. Ainda que façam isso a partir de elementos diferentes, em muitos momentos, o que vai definir um filme ser de um gênero ou de outro é o que vem após a elevação da tensão. Por conta disso, diretores como Alfred Hitchcock (Psicose, de 1960), conhecido como ‘mestre do suspense’, flertaram com o horror. O contrário também pode acontecer, como é o caso do retorno do cineasta Christopher Landon (A Morte Te Dá Parabéns, de 2017, e Freaky – No Corpo de um Assassino, de 2020) com o thriller Drop – Ameaça Anônima.
O longa-metragem, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (10), é um flerte do diretor com suas origens do terror com seu domínio da construção de atmosfera e tensão. Landon conhece bem os caminhos da linguagem que é comum aos gêneros e utiliza delas ao seu favor para criar mais camadas para seu novo filme. Sua condução é inventiva e tem a sua marca – seja nos acertos e nos exageros. É possível perceber em diversos momentos de Drop – Ameaça Anônima a marca registrada do cineasta estadunidense.
Para além dos tropos e elementos constitutivos básicos e comuns entre o thriller e o horror, Landon ainda se cerca de uma característica presente em sua filmografia: a comicidade. Drop – Ameaça Anônima é uma mistura bem orquestrada entre a tensão e o humor ácido já conhecido nos trabalhos de Christopher Landon. Ainda que a assinatura do roteiro não seja sua, a marca de seu trabalho se faz expressa pelo aproveitamento dos diferentes tons e momentos narrativos criados pela dupla Jillian Jacobs e Chris Roach (Verdade ou Desafio, de 2018, e A Ilha da Fantasia, de 2020).
Diferente de seus trabalhos anteriores, a dupla à frente do roteiro não trabalha com uma terceira pessoa, talvez o que tenha permitido que chegassem ao seu verdadeiro potencial. O roteiro de Drop – Ameaça Anônima é incomparavelmente mais redondo e instigante do que os trabalhos prévios da parceria entre Jillian e Chris. A construção da tensão é bem elaborada, a comicidade como alívio e jogo narrativo entra na hora certa e, apesar de um final com muitos acontecimentos, o filme se faz claro e condizente com o caminho percorrido.

Posto isso, Christopher Landon amarra a narrativa com uma criatividade na direção. Suas escolhas para o longa parecem ser mais desapegadas de limitações a convenções. Os planos e movimentos de câmera entregam um resultado visualmente instigante, especialmente graças ao trabalho da fotografia. Encabeçado por Marc Spicer (Quando as Luzes Se Apagam, de 2016, e Escape Room, de 2019), o departamento entrega uma produção visualmente interessante que não se limita a ser apenas mais do mesmo. Não há nada completamente inovador, mas a fotografia de Drop – Ameaça Anônima consegue trazer momentos instigantes para o público.
Como qualquer narrativa, especialmente aquelas que estão entre o espectro do suspense e terror, as performances do elenco são um ponto crucial para fazer o filme decolar ou não. Felizmente, o casting acertou ao escalar Meghann Fahy (The White Lotus, de 2022) e Brandon Sklenar (É Assim que Acaba, de 2024) como os personagens centrais da trama. Ainda que o roteiro use de artifícios visuais atuais para estar em mais de um ambiente, Drop – Ameaça Anônima se passa majoritariamente num mesmo espaço. E não apenas qualquer lugar, mas um extremamente corriqueiro, o que exige ainda mais investimento das performances para puxar o espectador para a trama.
Tanto Meghann quanto Brandon conseguem se apropriar da narrativa o suficiente para se tornarem hipnóticos. Suas interpretações podem não ser de tirar o fôlego ou dignas de um prêmio, mas são completamente críveis e convincentes ao ponto de tornar um encontro num restaurante algo interessante, antes mesmo que a tensão se estabeleça. A dupla dribla qualquer tipo de fragilidade ao longo de Drop – Ameaça Anônima – inclusive o final com muitos acontecimentos – e entrega um resultado amarrado entre atuações, roteiro e direção que vale a pena conferir.
Direção: Christopher Landon
Elenco: Meghann Fahy, Brandon Sklenar, Violett Beane, Jacob Robinson, Reed Diamond, Ben Pelletier, Gabrielle Ryan, Jeffery Self e Ed Weeks
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