Na época em que o girl power ainda nem tinha esse nome, As Panteras já era uma história que trazia mulheres no poder, em posição de luta, comumente associada ao masculino. Mesmo que não tivesse exatamente o objetivo de ser uma bandeira do feminismo, a série de 1976 já era. O mesmo vale para o filme lançado em 2000, com Drew Barrymore, Cameron Diaz e Lucy Liu.
Debochado, divertido e sem se levar tão a sério. Essa era uma boa fórmula para a história das Charlie’s Angels, que funcionava muito bem como entretenimento. No caso deste longa atual, talvez o calcanhar de Aquiles seja exatamente este: não se deixar levar pelo excesso que a trama pede.
Na pele do trio principal, temos Kristen Stewart (Para Sempre Alice), Naomi Scott (Aladdin) e a novata Ella Balinska. As três têm uma ótima harmonia em cena, com as características específicas de cada personagem. Kristen está excelente no papel de Sabina, misturando sarcasmo com divertimento nato. Ela não leva aquela situação tão a sério e procura se divertir no meio das lutas. Já Ella é uma grata surpresa, com toda a naturalidade de quem já está acostumada com a câmera. Naomi nos oferece grandes momentos da personagem, mostrando um crescimento gradativo na qualidade de atriz.
A medida que a história evolui e vamos nos envolvendo cada vez mais com as personagens, a trama vai ficando um pouco mais densa. As cenas de luta são muito bem orquestradas e nos oferecem um ótimo entretenimento. Os personagens são bons, a história é atraente.
O problema de As Panteras é que a sensação que temos é de que ele está constantemente no freio. As piadas poderiam ser mais debochadas, as personagens mais incisivas, as lutas mais frenéticas. Ele é lapidado demais para um filme que se propõe, desde o início, a ter uma lente mais escrachada. O que é uma grande surpresa, principalmente por ter sido dirigido por Elizabeth Banks (Jogos Vorazes). Ela que é a rainha do sarcasmo, parece ter se polido demais neste projeto.
O vilão também demora a se mostrar. Como é característica das tramas das Angels, ficamos sempre na dúvida sobre quem será aquele que vai trair a união e se voltar contra as mocinhas. No entanto, no meio do caminho, personagens são esquecido ou subaproveitados, como é o caso de Brok (Sam Claflin, Como Eu Era Antes de Você). O mais engraçado neste quesito acaba sendo Noah Centineo (Para Todos os Garotos que Já Amei), que surge apenas para ser atraente. Funcionou bem, por sinal.
Tudo isso acaba sendo uma sátira às questões do masculino e feminino. O filme tem o cuidado de tratar expositivamente sobre o poder da mulher, o fato de ela poder ocupar qualquer espaço. Isso fica bem claro desde a primeira cena, com um discurso direcionado para o tema, e coroa com o recorte final.
As Panteras é um bom divertimento, mas que perde muito potencial por não se permitir ir além. Ótimo elenco, história interessante, que são prejudicados por diálogos expositivos demais e uma clara falta de ápice ao final. Nas cenas pós-crédito, temos homenagens às personagens anteriores, que vale a pena conferir. Ainda mais depois que o filme acaba tão repentinamente.
Direção: Elizabeth Banks
Elenco: Kristen Stewart, Naomi Scott, Ella Balinska, Elizabeth Banks, Noah Centineo, Sam Claflin, Patrick Stewart, Djimon Hounson
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