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28º Cine PE: Zagêro

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Eles, os normativos, sempre se apropriaram de histórias que não eram suas, roubando, até a última gota, a voz dos dissidentes. Mas, o que acontece quando atrás e na frente das câmeras temos o dono de sua própria narrativa?

Esta resposta pode ser bastante ampla, porém em Zagêro, de Victor di Marco (também protagonista da obra) e Márcio Pícoli, temos o melhor retrato deste cenário de empoderamento. Tomando conta de toda tela, Victor constrói como ator uma personagem plural.

Isto porque há uma força vulnerável e uma vulnerabilidade forte, na exposição de sentimentos profundos devido ao fato dele ser uma pessoa com deficiência (PCD). Assim, entre as dores vindas do preconceito, uma alegria pela propriedade de se saber quem é e um humor ácido, a plateia tem Victor em várias camadas.

Ocupando este espaço, que já foi um local de encarceramento para pessoas como ele, e/ou de dissidências semelhantes, agora, a trama é moldada para deixar nítida a consciência da equipe sobre como cada espaço daquela instituição abandonada pode ser usada na construção de seus argumentos.

Assim, aquele lugar se transforma em um ambiente de arte, no qual gêneros cinematográficos são convocados para narrar uma história permeada desabafos, memórias e lutas. A estratégia de mescla de gênero cria, em Zagêro, uma estrutura blocada, que interfere um pouco na fluidez da produção.

Ainda assim, juntar uma estética de cinema experimental, de terror, comédia e drama revela como não apenas Victor como Márcio possuem referências cinematográficas diversas, que enriquecem os elementos no ecrã. A mobilidade da câmera, por exemplo, sinaliza as instalações de atmosfera, como no uso do traveling in, quando Victor é arrastado em sua cama, no uso do celular na mão, no momento do clipe, ou na imagem estática, de plano mais fechado, quando a personagem principal precisa dialogar diretamente com o público.

Esta consciência imagética, amarrada ao discurso, faz-se presente também na fotografia e na arte. A baixa luz, com as temperaturas esverdeadas dos objetos, por exemplo, imprimem uma sensação de antigo, mofado e mórbido, nas internas do prédio que fora uma instituição psiquiátrica.

Ao mesmo tempo, quando saem das partes fechadas, as luzes são mais naturais e invadem o ecrã. Quanto mais sol ou refletor, mais Victor é ele mesmo, livre de mostrar a lógica cruel da sociedade normativa. Desta maneira, Zagêro é esta rede profunda de imbricações, com um busca de quebrar um passado marcado por violências e revelar que há muito a ser dito por um cinema feito pelos donos de seus enredos.

Direção: Victor di Marco, Márcio Picoli

Elenco: Victor di Marco

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