Trailer comentado: Maps to the Stars, de David Cronenberg

Atenção: Trailer contém cenas de violência e sexo

Personagens desenhados com cores fortes e bizarramente sexualizados somados a ironia e violência de um diretor acostumado a lidar com o que existe de mais degradante, sujo e rídiculo na natureza humana. Esse é o terreno que promete cimentar as bases de Maps to the Stars, novo longa do diretor canadense David Cronenberg, um dos principais destaques entre os filmes em competição do Festival de Cannes 2014, e cujo trailer acaba de ser disponibilizado na rede.

A peça publicitária nos apresenta aos personagens centrais do filme. Havana Segrand (Julianne Moore), uma atriz à beira de um colapso nervoso e que aspira interpretar um personagem que sua mãe viveu nos anos de 1960. Havana é paciente do Dr. Stafford (John Cusack) um psicoterapeuta de celebridades, pai de dois filhos. Uma delas é Agatha (Mia Wasikowska), uma piromaníaca que acaba de sair do hospital psiquiátrico e começa a se envolver  com um motorista de limosine aspirante a ator chamado Jerome (Robert Pattinson). O outro filho de Stafford é o jovem Benjie (Evan Bird), astro de uma série de TV cuja carreira é administrada com pulso firme pela mãe, Christina (Olivia Williams).

Logo o tom leve da apresentação cede lugar a atmosfera histriônica, boa parte dela conduzida por Havana, o que nos dá indícios de que esta será uma grande oportunidade para Julianne Moore. Segrand parece ser um daqueles papéis definidores na carreira de um ator e Moore precisava disso no cinema desde 2002, quando estrelou dois dos filmes mais importantes de sua carreira, Longe do Paraíso As Horas.

A despeito do sucesso de Minhas Mães e Meu Pai e de ter conseguido todos os prêmios possíveis com o telefilme da HBO Virada no Jogo, Moore amargou por anos a fio o injusto destino reservado a atrizes maduras: papeis medíocres que não oferecem oportunidade alguma para mostrar um décimo do que ela pode mostrar em cena. Tudo o que Moore precisava era de uma oportunidade como a de Maps to the Stars, com um diretor como Cronenberg no comando. Ainda assim, é incerto o impacto que a ácida abordagem de Cronenberg  pode ter nos EUA, o que ameaçaria, por exemplo, qualquer possível candidatura da atriz aos principais prêmios da próxima temporada de premiações do cinema. No entanto, vale lembrar precedentes como o de Natalie Portman  em Cisne Negro. Havana é uma personagem que tem  semelhanças com a Nina do longa de Darren Aronofsky e grupos como a Academia de Hollywood adoram obras que falem sobre a arte e mais ainda aquelas que abordam o próprio ofício dos seus membros, o cinema. Maps to the Stars é justamente isso e Julianne Moore, com quatro indicações ao Oscar e nenhuma vitória no currículo pode ser uma candidata em potencial caso o filme consiga apoio em Cannes.

Há também indícios promissores para Mia Wasikowska, cuja personagem pode ser o elo de ligação entre todos os outros, e Olivia Williams, que vive a mãe do garoto Benjie.  No mais, os paralelos com Cidade dos Sonhosobra-prima de David Lynch, que aborda Hollywood de forma delirante e doentia são pertinentes, ainda que a abordagem de Cronenberg seja completamente diferente (para quem ainda não se ambientou, o realizador assina filmes como Marcas da Violência A Mosca Crash – Estranhos Prazeres). Havana e Benjie, ambos atores inseridos na indústria do entretenimento norte-americana vivem em suspenso, tendo delírios com fantasmas do passado. Já personagens orbitantes como o Dr. Stafford, Christina e Jerome parecem também no limite  por suas proximidades com esse mundo ou mesmo por tentar entrar na lógica dele (o caso de Jerome). Enfim, ao que tudo indica não sobrará pedra sobre pedra em Maps to the Stars, um filme que promete render muitas discussões em 2014!

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