Crítica: Zoom

Em linhas gerais, Zoom, novo filme do brasileiro Pedro Morelli, que ficou conhecido no circuito por Entre Nós, pode ser categorizado como uma comédia que trata das nossas obsessões com as aparências ou mesmo sobre a quantidade de esforços que mobilizamos para mostrar para os outros que não somos quem aparentamos ser ou pensamos que aparentamos ser. Ficou confuso? Não tem importância, o filme de Morelli segue a lógica dessas reflexões transversais e ainda assim consegue ser muito claro quanto aos seus objetivos. Portanto, o espectador não terá muita dificuldade para detectar o propósito por trás do mosaico de personagens e tramas criados pela mente fervilhante de ideias de Pedro Morelli e do seu co-roteirista Matt Hansen em um filme tão criativo e inteligente em suas soluções dramáticas que em determinados momentos sofre severas consequências do seu ímpeto inventivo e, porque não dizer, brilhantismo – nada que comprometa a experiência interessante de acompanhar Zoom do início ao fim, que fique bem claro.

Em Zoom, Pedro Morelli centra a sua narrativa em três núcleos dramáticos formados por histórias paralelas protagonizadas pelos personagens dos atores Alison Pill, Gael García Bernal e Mariana Ximenes. Pill interpreta Emma, uma modeladora de bonecas infláveis que sonha em colocar uma prótese de silicone nos seios. Bernal vive Edward, um cineasta cheio de si que começa a apresentar conflitos pessoais quando enfrenta problemas recorrentes em suas aventuras sexuais nos bastidores e fora dos sets do seu mais novo filme. Já Ximenes interpreta Michelle, uma modelo brasileira de carreira internacional que tem a aspiração de tornar-se escritora e para isso abandona o seu casamento com um americano.

Não é preciso nem dizer que as tramas dos três personagens centrais do filme se entrelaçam, mas esse encontro ocorre da maneira mais inesperada possível. Desde o início do longa, Morelli encontra soluções interessantes e surpreende o espectador com a maneira como conecta os seus três núcleos de personagens. A criatividade do diretor e do seu co-roteirista Matt Hansen é tamanha que em dados momentos fica perceptível que Zoom cria para si uma quantidade de demandas das quais possivelmente não dará conta em seu desfecho. É verdade que a solução encontrada pelos roteiristas satisfaz, mas acaba soando como simples demais diante de toda a energia e empenho que os mesmos depositaram na construção de seus três eixos dramáticos, todos igualmente interessantes. Contudo, a leve escorregada de Morelli e Hansen não compromete a experiência como um todo e Zoom demonstra um vigor e uma inventividade raras no cinema que é feito (ou que chega ao grande público) hoje em dia.

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Do curioso conflito vivido por Emma (Pill) após submeter-se a cirurgia de implante de silicone, passando pela tragicômica jornada de Edward (Bernal), enfrentando um problema sexual e driblando o direcionamento que produtores norte-americanos querem dar para o seu filme, até chegar a Michelle (Ximenes) e sua jornada de isolamento em busca da sua própria identidade, Zoom consegue cativar o espectador que se propõe embarcar na sua trama. Para os três núcleos, Morelli opta por tons e estéticas bem distintas que, curiosamente, não soam como dissonantes ou desarmônicas, pelo contrário, a diferença entre as tramas fica ainda mais interessante e soa como mais um artifício engendrado com inteligência pelo realizador. Assim, a abordagem de novela policial repleta de humor do núcleo de Emma, a animação em formato de HQ da trama de Edward e o verniz “publicitário” da história de Michelle não só condizem com a própria gênese dessas narrativas individualmente como estão à serviço dos próprios objetivos da obra e das revelações que ela reserva ao público no seu último ato, quando os três focos dramáticos do filme se encontram.

Com uma história cheia de energia e extrema em suas decisões de direção e roteiro, mas sempre cativante, divertido e estimulante ao raciocínio do espectador, Zoom é um filme singular que chega no circuito comercial e que merece ser visto o quanto antes, afinal é difícil saber quanto tempo ficará em cartaz. Marcado por atuações seguras de um elenco formado não apenas por Alison Pill, Mariana Ximenes e Gael García Bernal, mas também por Claudia Ohana, Michael Eklund (ótimo como um dos clientes da personagem de Pill) e Jason Prietsley (sim, o Brandon do seriado Barrados no Baile está no filme e faz parte de algumas das melhores sacadas de Morelli), o longa tem a seu serviço um roteiro inteligente que rende boas surpresas  ao seu público e uma condução repleta de vigor por um cineasta que está apenas em seu segundo longa-metragem.