Crítica: Sicario – Dia do Soldado

É sempre desafiador fazer a sequência de uma história que deu muito certo, foi aclamada pelo público e crítica e ainda rendeu várias vezes seu orçamento. Por essas e várias outras situações, projetos de continuações não ocorrem tão facilmente em Hollywood. Sicario: Dia do Soldado foi justamente um ponto fora da curva. O projeto da sequência de Sicario: Terra de Ninguém (2015) já estava programado quase que simultaneamente com o seu lançamento, o que faz com que o espectador pense que uma ideia completamente sólida e inovadora estava pronta. O resultado, contudo, não é exatamente isso. Sicario 2 se mostra uma história muito semelhante a narrativa que o antecedeu, só que recheada com algumas carências.

Tudo conspirava para que o filme, escrito por Taylor Sheridan, fosse uma cópia do seu próprio trabalho – uma vez que ele foi o elaborador do roteiro da obra anterior. A sacada do roteirista foi, contudo, entregar uma narrativa muito semelhante a anterior – confiando que o padrão continuaria a agradar ao público – porém que adentra ainda mais na proposta anteriormente trazida por ele. Em Dia do Soldado o público mergulhará ainda mais no lado obscuro da guerra e dos trâmites políticos que mantém ela acontecendo.

A guerra não teve fim. O matador, Alejandro Gillick (Benicio Del Toro) e o agente da CIA, Matt Graver (Josh Brolin), se veem trabalhando juntos outra vez. Com o aval do governo estadunidense, os dois têm como objetivo iniciar uma guerra sangrenta entre os cartéis mexicanos. Tudo se complicará quando o envolvimento da filha de um dos chefes de cartel (Isabela Moner) torna a missão muito mais difícil. Alexandro e Matt se verão envolvidos e confrontados por algo muito pior do que imaginavam.

Sicario traz para as telonas uma interessante e diferente história. Com a sua fluência em diversos gêneros, o longa-metragem traz ao público elencos do drama, thriller e ação. Apesar da ausência da intensa personagem de Emily Blunt e sem ter a regência do brilhante Dennis Villeneuve, Dia do Soldado tem o seu mérito. Mesmo em sua segunda narrativa, existem pontos positivos que merecem ser destacados. A questão mais interessante sobre a produção é a temática proposta. Adentrar o universo cruel, desumano, irracional e ilimitado da guerra não é comum. A parceria entre o diretor canadense e o roteirista americano rendeu um fruto extraordinário, mas que apenas chegava na ponta do iceberg, agora Sheridan levará a narrativa para outro patamar, mostrando que, na vida real, não existem limites para quem tem poder e essa falta de limitação é o maior inimigo possível.

A adição das personagens de Catherine Keener e Matthew Modine ajudam a encorpar a sordidez que está por trás da guerra, cujo é o ponto chave da trama. Contudo, a saída de Villeneuve foi uma perda irreparável. O maior defeito do longa está na sua estrutura técnica porque ela é uma clara cópia do seu antecessor. A problemática dessa repetição é a falta de elementos de qualidade como o antigo diretor. Stefano Sollima não consegue absorver o olhar do canadense e isso empobrece a produção. Além disso, a repetição da trilha sonora do finado Jóhann Jóhannsson associada a tentativa de repetir o trabalho visual de Roger Deakins é mais um fator que quebra com a expectativa do espectador que passa o filme inteiro com a impressão que está reassistindo o primeiro longa.

A questão acerca de Dia do Soldado é a seguinte: se você é capaz de ignorar os fatores técnicos repetitivos e pobres e focar na dinâmica da película e em sua abordagem diferenciada sobre a guerra, a sessão valerá a pena. Sicario 2 é bem agradável aos olhos de alguém que gosta de thrillers de ação. Existe um potencial interessante na produção que poderia ter sido bem melhor aproveitado, mas isso não faz dela um produto ruim. Quem sabe Sheridan seja capaz de corrigir seus erros para a possível continuação que já está sendo discutida pelo estúdio.

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