Crítica: Rei Arthur – A Lenda da Espada

Rei Arthur: A Lenda da Espada é um dos filmes mais estranhos da carreira de Guy Ritchie. Como os longas anteriores do diretor, o título possui diversos elementos que pressupõem um anseio do realizador de fazer a sua trama avançar e tornar atraente para audiências mais jovens histórias de época e que nas mãos de outro realizador provavelmente seriam marcadas por um tempo diferente. No cinema de Guy Ritchie, que vai desde os cultuados Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch: Porcos e Diamantes e títulos comerciais como Sherlock Holmes e O Agente da U.N.C.L.E., a montagem marcada por cortes rápidos, diálogos acelerados, flashbacks constantes que visam explicar determinados movimentos dos personagens imperceptíveis ao espectador e a trilha sonora cuidadosamente selecionada por propositalmente destoar de escolhas naturais para a trama costumam fazer a história caminhar. Rei Arthur: A Lenda da Espada é marcado por tudo isso, porém, no lugar de fazer algum serviço à emperram, esses elementos a emperram e não trazem para o espectador uma experiência minimamente prazerosa na sala de cinema.

O filme basicamente trata da história de Arthur (Charlie Hunnam, de Círculo de Fogo) antes de assumir o trono e tem como enfoque central sua rixa com seu tio Vortigen (Jude Law) que traiu o irmão quando o protagonista da história ainda era criança. Em linhas gerais, Rei Arthur: A Lenda da Espada é esse retorno do personagem-título para tomar o que é seu direito e trata da influência de elementos místicos nesse processo, o principal deles é a famosa espada Excalibur.

O maior problema de Rei Arthur está na maneira como Guy Ritchie estrutura o seu filme. Em uma hora de projeção o longa é tomado por inúmeros flashbacks que retomam a morte do pai do protagonista e as questões relativas à espada de modo que no “miolo” do filme, que naturalmente poderia ser destinado a desenvolver acontecimentos e conflitos na órbita do personagem principal da história, o público ainda é surpreendido por explicações de situações prévias. Tudo isso faz com que o encaminhamento do mote central do filme seja brecado por um longo e interminável prólogo. Passagens centrais para a construção de uma empatia do espectador com a trajetória do herói, como sua infância difícil, por exemplo, é contada de maneira tão apressada por uma edição “clipeira” que acaba prejudicando a relação do público com o personagem principal da história, fazendo com que a interpretação propositalmente “marrenta” de Hunnam para Arthur deponha contra a trama e não a favor da mesma.

Não acredito que recontar histórias sejam desnecessárias e é curioso perceber como o teatro recepciona melhor reinterpretações de tramas já contadas que o cinema, um campo que ainda estigmatiza remakes, versões etc., sobretudo quando abordamos grandes blockbusters. O problema de Rei Arthur é que a junção dessa história com os atributos do cinema de Guy Ritchie não estão à serviço de uma boa experiência para o espectador. Com todos os seus recursos “moderninhos”, o realizador, que sempre entregou obras no mínimo agradáveis, torna o ato de assistir esse título extremamente maçante.

Assista ao trailer do filme: