Crítica: Olhos da Justiça

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Trio: Interpretações equilibradas de Julia Roberts, Nicole Kidman e Chiwetel Ejiofor elevam o remake a outro nível

 

Toda vez que Hollywood inicia a produção de um remake as falas de descrédito para esta obra que sequer viu a luz do dia começam a brotar, especialmente se a produção em questão é uma segunda versão de um filme tão reverenciado por cinéfilos quanto o argentino O Segredo dos seus Olhos. Assim, foi inevitável que um grupo torcesse o nariz para Olhos da Justiça, remake do longa de Juan José Campanella que venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010 e passou a ser um dos estandartes da qualidade do cinema argentino contemporâneo. A versão norte-americana da obra de Campanella está longe de ser tão boa quanto o original, mas Olhos da Justiça não pode ser qualificado como um filme ruim, muito pelo contrário. No frigir dos ovos, o longa é muito bom e extremamente eficiente.

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Sem tempo para o amor: Personagens de Ejiofor e Kidman tentam entender a natureza da relação em meio a investigação de um crime bárbaro

 

Em Olhos da Justiça, um grupo de profissionais responsável por uma divisão do FBI especializada em ações terroristas logo após o 11 de setembro é abalados pelo assassinato da filha de Jess (Julia Roberts), uma das investigadoras do departamento. Logo, outro investigador da divisão e amigo da mãe da vítima, Ray (Chiwetel Ejiofor), e a procuradora Claire (Nicole Kidman) empreendem uma caçada ao responsável pelo crime que dura uma década e transforma a vida dos três personagens.

Dirigido por Billy Ray, que merece a menção por seu trabalho em O Preço de uma Verdade, Olhos da Justiça toma algumas liberdades em sua adaptação, modificando alguns personagens e o seu desfecho, mas deixa em evidência as suas origens ao reproduzir determinados elementos do argentino, como a cena no estádio a alguns dos diálogos entre os seus personagens. Olhos da Justiça, portanto, não renega o seu “carimbo” cinematográfico de remake, mas o sustenta com muita elegância narrativa e ritmo sem desejar ousar muito, o que jamais soa como um problema da obra.

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Avaliação injusta: Crítica torceu o nariz para o remake nos EUA, mas o longa é bem eficiente

 

O elenco principal é um dos pontos fortes do longa-metragem. Enquanto Julia Roberts entrega uma interpretação visceral na pele de uma mulher absolutamente despedaçada por uma tragédia pessoal, Nicole Kidman e Chiwetel Ejiofor ficam na órbita desse crime brutal e tentam entender a natureza dos sentimentos que seus personagens nutrem um pelo outro. Kidman está impecável na pele de uma mulher que tenta se firmar profissionalmente em meio a um ambiente predominantemente masculino e que a enxerga como um elemento frágil do grupo. Já Chiwetel comanda com vigor a busca obsessiva de Ray pelo autor do assassinato da filha de Jess. Enfim, a escalação do trio foi mais do que acertada.

Realizando uma reflexão sobre as cicatrizes que a violência deixa em seus personagens, Olhos da Justiça de Billy Ray aborda um ponto de vista pertinente sobre justiça e punição, deixando claro no seu desfecho quem serão aqueles que de fato sofrerão as consequências do crime por toda a vida. Em suma, o longa está longe de ser a tragédia que alguns pintaram por ai. Obedece a cartilha do drama policial norte-americano, mas faz isso com muito equilíbrio e sem ofender ninguém, muito menos o argentino O Segredo dos seus Olhos.