Crítica: O Sono da Morte

Toda a publicidade de O Sono da Morte tem sido feita em cima do seu protagonista, o jovem ator Jacob Tremblay, que, com muitos méritos, virou sensação em Hollywood após seu interessante desempenho no oscarizado O Quarto de Jack (Oscar de melhor atriz para Brie Larson). Para muitos, o filme também tem como atrativo o próprio gênero ao qual se vincula, O Sono da Morte é enquadrado como uma fita de terror psicológico que utiliza a ambiência dos sonhos como mote para sua trama. Se pelo primeiro chamariz o longa pode até satisfazer os seus curiosos, já que Tremblay firma todo o carisma que tem demonstrado, quando voltamos nossos olhares para o título e para a maneira como ele utiliza os artifícios do seu gênero cinematográfico (ou dos seus gêneros), encontramos os pontos falhos de uma história que acaba priorizando o dramalhão raso em detrimento de uma trama mais bem acabada a respeito do sobrenatural.

Em O Sono da Morte, Tremblay vive um garoto chamado Cody que tem um dom muito particular. Quando dorme, todos os sonhos de Cody se materializam para aqueles que estão acordados. No entanto, quando esses sonhos tornam-se pesadelos, a situação do menino e de todos aqueles que o cercam ganha contornos mais graves. Em função dessa condição especial, Cody tem um histórico trágico com sua mãe biológica e já passou por algumas casas, sendo adotado por várias famílias, até que vai parar no lar de Jessie e Mark, um casal que ainda se recupera da morte do seu único filho. Logo, Cody se transforma em uma ponte para Jessie entrar em contato com o filho Sean e acaba colocando em risco a vida de todos.

Com essa premissa interessante, é uma pena que O Sono da Morte não consiga se sustentar naquilo que aparenta ter de mais caro para os seus realizadores, o drama familiar. O roteiro de Mike Flanagan e Jeff Howard envolve os seus personagens em uma série de situações repetitivas que não fazem a história ou seus protagonistas evoluírem significativamente. Os conflitos dos seus personagens, sobretudo os pais adotivos de Cody, são superficiais, ainda que a interpretação dos atores Kate Bosworth e Thomas Jane sugiram alguma profundidade nas tensões desse ambiente familiar em processo de superação do luto.

Before-I-Wake

No seu trabalho como diretor, Mike Flanagan ainda tenta encontrar uma certa poesia imagética nos momentos em que os sonhos de Cody se tornam realidade através das borboletas que aparecem para o garoto em cores muito vivas. O diretor ainda consegue fazer uma transição interessante nos instantes em que a beleza das borboletas cede espaço para as criaturas sombrias e os ambientes soturnos dos pesadelos do garoto. Acontece que o exagerado espaço que Flanagan cede a conflitos humanos que parecem superficiais emperram a experiência e transformam a sessão em um verdadeiro exercício de paciência, sobretudo quando o espectador se depara com algumas lacunas lógicas do roteiro (a ausência de tentativas prévias de tratamento psicológico do menino, o paradeiro no mundo real das vítimas dos seus sonhos etc.).

Talvez Mike Flanagan não tenha conseguido enxergar no seu próprio filme aquilo que ele tinha como grande potencial a ser explorado, sua ambiência no onírico. Como foi realizado, O Sono da Morte coloca todos os seus holofotes em angústias e dilemas pessoais dos seus protagonistas. Esses conflitos ocupam tempo demasiado de tela. Sem muletas que consigam sustentar suas próprias deficiências, afinal o filme hipervaloriza o que possui de mais falho, a trama, os sujeitos que a habitam ou mesmo os seus artifícios imagéticos não são suficientes para conquistar o espectador.

Assista ao trailer do filme:

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