Crítica: O Rastro

Há algum tempo gêneros que flertam com o fantástico têm ganhado força entre as produções brasileiras e O Rastro segue na esteira desse filão construído gradualmente com êxito pelos realizadores daqui, superando aquele preconceito de que nosso cinema atual não é capaz de fazer obras de terror ou suspense sobrenatural de qualidade. O filme de J.C. Feyer tem seus percalços na maneira como constroi a relação entre seus personagens e caídas de ritmo entre o seu segundo e terceiro ato, mas nada que faça com que não reconheçamos os inúmeros méritos desse longa, entre eles o de oferecer uma trama repleta de sobressaltos para a plateia.

No filme, o ator Rafael Cardoso (de Do Começo ao Fim) interpreta um médico que assumiu funções burocráticas no serviço público e trabalha na transferência de internos de um hospital no Rio de Janeiro. A esposa do protagonista, papel de Leandra Leal (de O Lobo Atrás da Porta), está grávida do primeiro filho do casal e se preocupa com a incumbência do marido pois o supervisor do hospital em questão é um médico cujo trabalho foi fundamental na sua formação profissional. Quando começa a articular a operação, o personagem de Cardoso se afeiçoa a uma das garotas que está se tratando no hospital e promete protegê-la. Com o passar do tempo a menina desaparece, o que faz com que ele fique obstinado em encontrar o seu paradeiro.

Existe uma qualidade latente no cinema que Feyer propõe em O Rastro. Do início ao fim, vemos no filme uma preocupação com a história que está sendo contada. Com seu longa, o realizador não quer oferecer um espetáculo de sangue, sustos e toda sorte de elementos grotescos, mas narrar uma história bem amarrada que tem componentes soturnos em seus meandros. Há uma qualidade técnica e estética no filme que servem aos propósitos do cineasta e que até nos fazem esquecer de algumas pontas que poderiam ser amarradas com mais firmeza, como o próprio vínculo afetivo do protagonista com a menina que o aborda no hospital.

O que fica como lembrança de O Rastro, contudo, é a maneira como Feyer e seus roteiristas foram é atentos e cuidadosos no desenlace da história que pretenderam contar e ao desempenho do seu competente elenco, que inclui ainda Cláudia Abreu, Felipe Camargo, Jonas Bloch e uma última aparição do falecido Domingos Montagner. Assim, O Rastro acaba reservando ao seu espectador uma experiência cujo retorno é bem gratificante.

Assista ao trailer do filme: