Crítica: O Quarto de Jack

Jack e Joy criam seu próprio mundo dentro do Quarto
Jack e Joy criam seu próprio mundo dentro do Quarto

 

É incrível quando um diretor tem a capacidade de lidar com uma temática tão pesada de uma forma tão leve e flúida. O Quarto de Jack é a personificação deste ato, com o enredo tratado de maneira cuidadosa, sem simplificar ou tornar a história algo irrelevante. Lenny Abrahamson nos apresenta um trabalho simplesmente extraordinário.

O longa conta a difícil história de Joy, uma garota que foi sequestrada aos 17 anos e é mantida em cárcere privado há 7. No cativeiro, ela dá à luz Jack, filho do sequestrador. Mesmo diante de todas as dificuldades, ela resolve criar um mundo fictício para o filho, que acredita verdadeiramente que o mundo inteiro é apenas aquele quarto. Ainda assim, Joy prepara o menino para uma tentativa de fuga, onde eles enganarão o Velho Nick para retornar à realidade do mundo lá fora.

O enredo por si só já é forte, mas a naturalidade (entenda aqui que não há desprezo pela temática) com que o diretor trata torna tudo menos agressivo aos olhos do espectador. Ao mesmo tempo em que nos sentimso claustrofóbicos naquele ambiente e um tanto desesperados por saber que aquela é a única realidade deles no momento, e no caso de Jack, a única realidade da vida toda, Abrahamson écapaz de trazer o fato do estupro diário que a protagonista sofre de maneira flúida, sem dar tanto enfoque, mas mostrando a importância daquele ato no contexto do filme.

O cuidado de Joy com Jack e o vínculo que ela cria com o filho é de derreter o coração. Ao mesmo tempo que olhamos para ela e vemos no seu olhar e na sua feição a dor de viver presa e sofrer todos os dias, ela consegue transformar tudo e fazer daquele ambiente um lugar feliz para o filho, que dá bom dia até para o armário onde dorme quando o Velho Nick chega. O filme traz a percepção de Jack do mundo e como ele se encanta com absolutamente tudo, como ele sorri para as pequenas coisas, como ele ama até algo tão singelo quanto uma cadeira.

Além disso, o filme traz uma fotografia perturbadora eesperançosa do mundo de dentro e fora do Quarto (em letra maiúscula mesmo porque é assim que Jack se refere). O uso de câmeras é muito bem feito ao longo da trama, que evolui de forma gradual, principalmente no momento da fuga dos dois (aqui não é spoiler porque você pode conferir isso no trailer).

Mãe e filho passam por dificuldades de adaptação ao novo mundo
Mãe e filho passam por dificuldades de adaptação ao novo mundo

 

Quando os personagens finalmente saem do Quarto, a situação deveria melhorar. Mas o que Joy não podia esperar é que os 7 anos em que passou no cárcere fossem suficientes para que ela criasse uma prisão em sua mente e que o mundo lá fora acabasse virando muito mais estranho do que ela sonhava. A adaptação dos dois é bem difícil, com vários percalços no caminho. Mais difícil ainda é ver o menino desejando voltar para o Quarto. Claro, ele era alheio à realidade daquele ambiente e sim, para ele, aquele era o melhor lugar de seu mundo.

Brie Larson e o pequeno Jacob Tremblay dão um show de atuação e envolvem o especador em cada tomada de cena. Não há como não se apaixonar por ele, que é tão pequeno e tão forte ao mesmo tempo. O Oscar perdeu a oportunidade de indicar um excelente ator, mesmo que mirim, para concorrer à premiação deste ano. Já Larson é a favorita para ganhar a estatueta de Melhor Atriz e se isso acontecer, será grande merecedora. Sem querer desmerecer o papel das demais concorrentes (Cate Blanchett – Carol; Jennifer Lawrence – Joy: O Nome do Sucesso; Charlotte Rampling – 45 Anos; e Saoirse Ronan – Brooklyn), mas ela apresenta um trabalho muito mais preciso e superior às demais.

O filme, como um todo, é muito bom, de qualidade altíssima e roteiro inquestionável. Consegui observar ainda mensagens subliminares que podem ser aproveitadas para nossa vida no dia a dia, como a alegria das pequenas coisas, o amor por novas descobertas e a esperança. Como disse, apesar do enredo pesado, os personagens e o foco no carinho de mãe e filho consegue encantar o espectador, que sai do cinema um tanto choroso e um tanto reflexivo.

Confira o trailer abaixo!

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