Crítica: O Mestre dos Gênios

O cinema já nos ofertou diversos filmes sobre o processo de criação pela perspectiva do escritor. Temos pouca lembrança de um longa que aborde a criação literária pelo ponto de vista do editor, figura importante para estabelecer a comunicação entre obra e público. O Mestre dos Gênios é um longa que tem como mérito e distinção o reconhecimento que dá a esse profissional ao contar a história da relação de cumplicidade entre o editor Max Perkins, interpretado por Colin Firth (O Bebê de Bridget Jones), e o escritor Thomas Wolfe, autor de livros como Look Homeward, Angel e O Menino Perdido vivido aqui por Jude Law (A Espiã que Sabia de Menos). O filme trata da descoberta de Wolfe por Perkins a partir de um manuscrito encaminhado para a editora Scribner pela namorada do escritor, a figurinista de teatro Aline Bernstein, papel de Nicole Kidman (Olhos da Justiça).

Esse reconhecimento do lugar do editor presente em  O Mestre dos Gênios não é detectado pelo simples fato do filme ter como um de seus protagonistas Max Perkins, mas porque o longa de Michael Grandage, estreando no cinema após anos dedicados aos palcos, esmiúça de maneira delicada e respeitosa o processo da edição de uma obra literária, colocando-o ao lado da própria escrita. Ao longo do filme, Grandage e o roteirista John Logan (A Invenção de Hugo Cabret) costuram uma história de cumplicidade entre o escritor e seu editor a ponto dessa intimidade gerar um mal estar no reconhecimento do próprio mérito da autoria dos livros de Wolfe, tendo em vista a difícil escrita do autor contornada graças aos esforços de Perkins. Nesse momento, o longa acerta ao investir no seu olhar para o ofício da edição de um livro, reforçando como ele não deixa de ser um processo criativo tão árduo e valoroso quanto a própria escrita, mas também quando se dedica a examinar a relação profissional e de amizade estabelecida entre Wolfe e Perkins, proporcionando interpretações empenhadas de Jude Law e, sobretudo, Colin Firth.

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O longa também tenta discutir a interferência do processo na vida privada de Wolfe e Perkins, trazendo para a história a esposa do editor, interpretada por Laura Linney (de Sr. Sherlock Holmes), e, como antecipado, Aline Bernstein, namorada do escritor norte-americano. Nesse departamento, O Mestre dos Gênios tem uma execução mais vacilante já que, de um lado temos uma interessante dinâmica entre Jude Law e Nicole Kidman, que dá contornos dramáticos a sua Aline Bernstein e é beneficiada por um roteiro que lhe dá ótimos momentos, mas do outro nos deparamos com  a pálida relação dos Perkins através de uma parceria entre Colin Firth e Laura Linney, subaproveitada no papel da esposa devotada do editor da Scribner.

Evitando a pretensão que costuma dominar o trabalho de alguns diretores de primeira viagem, Michael Grandage torna O Mestre dos Gênios um filme sem firulas visuais, apoiado estritamente na relação das suas personagens e nos desempenhos dos seus atores. Portanto, o longa não possui grandes afetações e é respeitoso com os seus biografados, sem omitir sobre as ranhuras das suas próprias personalidades, como a natureza egocêntrica e estridente de Thomas Wolfe e o questionável tratamento que ele reserva a namorada. O filme pode não ter muitos picos, nem ser uma obra excepcional em todas as suas frentes, mas mantém a sua integridade e cumplicidade com a plateia através da sensibilidade com que constrói o seu elemento humanizador. O que O Mestre dos Gênios tem como brilho mesmo é o reconhecimento que dá a Max Perkins e a quem tem como ofício a generosa tarefa de tornar as obras passíveis de comunicação com o público.

Assista ao trailer do filme: 

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