Crítica: O Ano mais Violento

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Conto sobre a corrupção: Casal Morales tentam manter o controle em meio a falta de ética da concorrência

 

O ano é 1981. Estamos no rigoroso inverno de Nova York e o cineasta J. C. Chandor pretende trazer para o espectador a história do casal Morales que prosperaram nos negócios de transporte de petróleo e tentam sobreviver em meio a um universo corrupto e perigoso dominado por homens poderosos que pretendem limá-los da atividade. O resultado é o injustamente esquecido na última temporada de premiações O Ano mais Violento, um dos trabalhos mais interessantes e vibrantes do realizador J.C. Chandor, de Margin Call Até o Fim.

Narrando um conto sobre a corrupção e a ética, J.C. Chandor torna O Ano mais Violento uma espécie de retorno à escola cinematográfica norte-americana da década de 1970 e seus melhores exemplares, como O Poderoso Chefão, guardadas as devidas proporções. O filme é marcado pelas negociatas perigosas e personagens de caráter nebuloso que circundam o seu protagonista, Abel Morales, interpretado por Oscar Isaac, um imigrante que vive o seu sonho americano ao prosperar no trabalho mas que a todo momento tem o seu caráter testado em prol da sua própria sobrevivência e de sua família.

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Atuação poderosa: Jessica Chastain domina todas as cenas do filme como Anna Morales

 

O grande mérito de J. C. Chandor é manter a tensão da sua trama e a atenção do espectador através de uma atmosfera que sugere a iminência do perigo a todo momento ao invés de preencher seus quadros com cenas de violência gráfica. Com muita elegância o diretor traz para o seu filme planos interessantes e utiliza recursos como a trilha sonora e a edição a favor da sua narrativa, jamais se colocando a frente dela. O resultado é um filme com uma trama bem amarrada, personagens consistentes, mas sempre dúbio, deixando o espectador em um estado de insegurança permanente já que nunca se tem a certeza sobre o desfecho da história e o destino dos seus personagens. 

 

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Carreira ascendente: Oscar Isaac em mais um papel de grande visibilidade nas telonas. O próximo passo? A saga Star Wars.

 

 

Os méritos do filme também recaem na sua dupla de protagonistas. Cada vez mais presente no cinema norte-americano, mesclando projetos como este e Inside Llewyn Davis até Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força X-Men: Apocalipse, a serem lançados em breve, Oscar Isaac tem um desempenho certeiro como o conflituoso Abel Morales, sempre se equilibrando na sua retidão moral, uma tarefa complicada e que ganha nuances questionáveis no decorrer da trama. Isaac conduz bem essa natureza “existencialista” do personagem sem transformá-lo em uma figura excessivamente frágil, o que entediaria o espectador e dissolveria as pretensões do longa. Já Jessica Chastain chama o filme para si ao viver Anna Morales, esposa do protagonista. E quando afirmamos isso, apontamos uma qualidade no desempenho da atriz e não um defeito. Na pele de Anna, Chastain nos apresenta uma mulher enérgica e de sangue frio que não entra em tantos conflitos éticos quanto o marido quando o que está em jogo é a prosperidade dos negócios da família. Sem cair na caricatura da femme fatale, Chastain está impecável em O Ano mais Violento, o que nos faz pensar quão injusta foi sua ausência na seleção de indicadas a melhor atriz coadjuvante no Oscar passado.

Fazendo a transição de revelação a promissor cineasta da sua geração, J.C. Chandor faz de O Ano mais Violento o grande filme da sua carreira. Com uma direção elegante, nostálgica e uma dupla de atores afiada como Oscar Isaac e Jessica Chastain, o longa é um dos grandes títulos do ano que passou e tem grande potencial para ser revisitado e devidamente reconhecido com o tempo.

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