Crítica: Mulher-Maravilha

Mulher-Maravilha é um dos filmes mais aguardados do ano e não é por menos. Quem espera há tanto tempo pelo primeiro longa de uma super heroína sabe o significado de finalmente ter este filme nos cinemas. E que filme! Como uma reverência aos quadrinhos, aos fãs, à alma feminina e ao momento que vivemos, Mulher-Maravilha é tudo que poderíamos esperar e um tanto mais.

O longa conta a história de como Diana, filha da Rainha das Amazonas da ilha paradisíaca de Themyscira, e de como ela construiu sua vida até se tornar a Mulher-Maravilha de fato. O roteiro traz os detalhes desde quando ela era pequena e se espreitava no canto para admirar as amazonas em treinamento, e como sua mãe, Hipólita, tentava proteger ela o máximo possível de se envolver com batalhas.

A ilha Themyscira é um espetáculo à parte que foi milimetricamente pensado pelo diretor. Faz toda a referência à Grécia e seus deuses, com visuais paradisíacos, muita luz, cenários deslumbrantes e águas cristalinas. Eles seguem toda a especificação criada pelos quadrinhos e não fica devendo em nada à imaginação dos leitores.

A criação do perfil de Diana, desde a sua infância até o momento em que ela se torna a Mulher-Maravilha, é extremamente cuidadosa e detalhista. O espectador vai criando cada vez mais empatia pela personagem e se envolvendo com suas questões. É muito fácil torcer por ela e por suas causas de batalha.

Nada disso seria possível sem o talento e a simpatia de Gal Gadot. A atriz incorpora o espírito da protagonista com tamanha facilidade e naturalidade, que é impossível imaginar qualquer outra pessoa no lugar dela. Toda cena se torna um encantamento particular, prendendo a atenção do espectador cada segundo mais. Ao contracenar com Chris Pine, Gadot se fortalece ainda mais. Os dois possuem ótima química e sincronia importante, conferindo ao casal principal um carinho único.

A diretora é cuidadoso ao criar um relacionamento entre os protagonistas sem afetar a personalidade e a representatividade da Mulher-Maravilha. O foco não é o romance, claramente, mas ele tem o cuidado de conferir amorosidade às cenas dos dois. Aliás, o produtor Zack Snyder foi muito feliz ao deixar o seu lado sombrio um tanto de lado para dar mais leveza a alguns momentos importantes da trama. Na liderança, a diretora Patty Jenkins, que consegue dar ainda mais força e representatividade ao longa.

O elenco é tão forte quanto o núcleo principal. Connie Nielsen faz o papel da Rainha das Amazonas e mãe de Diana, e o personifica muito bem. Mas o destaque mesmo vai para Antíope, a tia, protagonizada por Robin Wright, a nossa querida Claire Underwood da série House of Cards. A força que ela passa em cena é inebriante e confere à personagem ainda mais autenticidade.

A equipe de ensaio teve muito cuidado com as cenas de ação. Elas são sincronizadas e esteticamente bonitas. O que é super importante, uma vez que são várias cenas de ação. Jenkins consegue intercalar muito bem estes momentos de maior tensão com a leveza dos personagens agregados e até mesmo da protagonista. Agregado a isso, a inserção de vilões que efetivamente são fortes e oferecem risco à Mulher-Maravilha e à sociedade como um todo.

O maior ganho de todos com esse filme, no entanto, não é sua qualidade. É seu potencial de representatividade. Em um mundo onde as minorias se esforçam cada vez mais para ter seu lugar ao sol, um filme que reverencia a capacidade feminina, no maior estilo girl power, é no mínimo um deleite para nossas almas. O estranhamento de Diana ao adentrar numa sociedade onde há uma diferenciação muito clara de gênero é sutil e instigante. Ela não entende, por exemplo, porque um homem não pode dormir ao lado de uma mulher sem sexualizar ela. Aliás, a questão da sexualização da personagem foi muito bem cuidada. Gal Gadot é incrivelmente linda e não há como negar. Mas ainda assim, a diretora teve o cuidado de não explorar o lado sexual dela sem necessidade. Embora haja um deslumbramento com sua beleza, é uma percepção muito natural e comum, sem exageros.

Todo o filme, desde as cenas aos diálogos, é recheado de significados e mensagens ao telespectador. Este não é apenas mais um filme de super-herói. Não mesmo. É a consagração da representatividade da mulher no cinema. A aceitação de que somos fortes e poderosas, e que a sociedade pode e deve englobar as questões feministas nos seus diálogos diários. Mulher-Maravilha é um dos melhores filmes da DC Comics no últimos anos e dificilmente será superado tão cedo. É de uma importância singular para a sociedade. Ele ainda consegue, em meio a diálogos e ações de empoderamento feminino, tratar da questão racial, com uma pincelada que nos faz lembrar que “todos vivemos nossas próprias batalhas”.

Mulher-Maravilha é um filme simplesmente espetacular.

Assista ao trailer!