Crítica: Maria Madalena

O mundo vive um período de mudança. A luta pela igualdade e contra o preconceito tem apenas se fortalecido durante os últimos anos. E no universo cinematográfico não poderia ser diferente. O ano de 2018 se iniciou com uma corrente em prol das mulheres artistas do cinema. A iniciativa Time’s Up foi o ponta pé inicial para uma longa caminhada que visa a quebra dos costumes machistas, preconceituosos e desumanos que existem nos bastidores da sétima arte. E em meio a essa alvorada de justiça, eis que surge um filme para corrigir uma iniquidade milenar, permitindo que o público ao redor do planeta passe a conhecer a história não contada sobre Maria Madalena.

Categoricamente denominada como prostituta e pecadora, Maria Madalena foi execrada pela Igreja Católica com o simples propósito de manter os princípios patriarcais, impedindo que mulheres pudessem fazer parte do clero. Em 2016, contudo, após diversos estudos sobre os textos do Velho Testamento, o Papa Francisco reconheceu a figura de Maria Madalena como uma apóstola de Jesus, apagando toda a mentira criada nos primórdios da Igreja sobre a vida dela. E a partir do ano de 2018, o mundo conhecerá esta inspiradora e poderosa história nas telonas.

Nascida em Magdala – daí vem o “Madalena” (em inglês, “Magdalene”) –, Maria (Rooney Mara) nunca se comportou de acordo com os padrões. Destinada a algum muito maior e além da sua imaginação, Maria Madalena não se adaptava aos costumes machistas e opressores que lhes eram impostos. Contrariando a todos, Maria Madalena decide seguir um caminho completamente diferente do que os costumes previam. Após se encantar com a palavra e os milagres Jesus (Joaquin Phoenix), Maria decide largar sua família e para seguir o profeta e ajudar espalhar a palavra dele como um de seus apóstolos.

Em seu segundo longa-metragem, Garth Davis (diretor de Lion – Uma Jornada para Casa, de 2016), levará para as telonas a verdadeira história sobre a apóstola de Jesus Cristo, tendo Rooney Mara – cujo trabalhou com Davis em Lion – estrelando essa película. Maria Madalena é um veredito de absolvição para essa mulher que tanto foi caluniada durante milhares de anos. Com uma narrativa muito bem elaborada, Mara emociona com sua força e simplicidade ao encenar uma das histórias mais conhecidas no mundo.

Assinado por Helen Edmundson e Philippa Goslett, o roteiro da película se mostra preciso em seu propósito maior que é recontar a história desta mulher, dando uma outra perspectiva sobre esse momento. E, mesmo remetendo a um momento bíblico, Maria Madalena está longe de ser um filme religioso; ele representa muito mais que isso. A humanização de personagens como Maria Madalena e Judas – interpretado por Tahar Rahim – permite que o espectador crie um olhar mais sensível aos significados da mensagem espiritual que está por trás desse cenário. E, para isso, o público repensa as mensagens de Jesus através do olhar de Madalena, causando a identificação de quem assiste com a personagem.

Com um elenco incrível, as passagens sobre fé, força e perseverança se tornaram algo ainda melhor. As cenas de confronto entre as personagens de Rooney Mara e Chiwetel Ejiofor (cujo interpreta o apóstolo Pedro) são as mais tocantes possíveis, uma vez que elas representam a luta contra a opressão criada pelo patriarcado. Além deles, Tahar Rahim emociona o público com o seu Judas humano e saudoso. Para completar, o talento de Joaquin Phoenix ajuda a criar uma atmosfera ainda maior de paz e compaixão nas sequências onde Jesus e os apóstolos estão disseminando os pensamentos de Deus.

Maria Madalena funciona como uma lição de vida em diversos aspectos. E, mesmo visando a correção mostrar a verdadeira Madalena, o filme não perde o seu aspecto bíblico dando, durante um breve momento do filme, protagonismo para a personagem de Phoenix. Contudo, há um cuidado nítido e uma precisão ao retomarem o foco para Maria. Do início ao fim como figura central, Maria Madalena é um drama bíblico diferente de tudo o que já foi feito nesse subgênero. Sua função social de estabelecer justiça e ressignificar palavras de compaixão e fé são fundamentais num momento onde isso é o que mundo mais precisa ouvir e abraçar.

Assista ao trailer!

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