Crítica: Invocação do Mal 2

James Wan é um dos raros cineastas contemporâneos a entender toda a lógica de funcionamento interna e espectatorial de um filme de terror. O diretor de longas que já são considerados como potenciais clássicos do gênero da sua geração, como o primeiro Invocação do Mal e Sobrenatural, consegue cumprir todas as demandas formais que um longa de terror requer e, ao mesmo tempo, sabe costurar muito bem as relações pessoais dos protagonistas das suas obras, o que só contribuiu para a eficiência dos efeitos pretendidos por suas histórias macabras, já que só nos importamos com os eventos contados na tela, tomamos sustos ou tememos o destino dos seus personagens porque eles acabam se tornando objetos de nossos afetos. Atendendo a todos esses requisitos, Invocação do Mal 2 é mais um êxito na sua carreira, fazendo jus não só aos elementos que fizeram do seu antecessor um dos grandes filmes de 2013, como também deixando em definitivo a impressão de que Wan é um dos grandes realizadores em atividade nos estúdios norte-americanos atualmente.

Em Invocação do Mal 2, mais um caso dos arquivos pessoais de Ed e Lorraine Warren é acompanhado pelo público. Na continuação, os Warren são convocados para ajudar os Hodgson, uma família inglesa formada por uma mãe e seus quatro filhos que passam a ser vítimas de fenômenos estranhos quando uma das crianças é convocada por um espírito maligno que habita sua casa. Mesmo prometendo que não voltariam a entrar em contato com forças demoníacas desse calibre, Lorraine e seu marido resolvem enfrentar mais esse mistério que pode pôr em risco não apenas a vida dessa família, mas também as suas próprias.

The-Conjuring

Na continuação do filme de 2013, James Wan resgata todos os elementos que garantiram o êxito do anterior. O diretor consegue construir uma atmosfera apavorante ao longo de todo o filme, conduzindo com segurança todos os recursos cênicos possíveis que são capazes de criar uma trama de tensão constante. Wan entende como sua câmera deve se colocar em cada cena para provocar calafrios na plateia, assim como compreende como aplicar recursos sonoros, de luz e todo o cenário à sua disposição. Além disso, o realizador, com o suporte de um excelente roteiro que ele mesmo escreveu ao lado de Carey Hayes, Chad Hayes e David Leslie Johnson, tal qual no primeiro filme, acerta ao desenvolver relações e conflitos consistentes protagonizados pelos personagens do longa, situações que em momento algum soam apelativas ou superficiais e que aderem à trama sobrenatural, trazendo um tom ainda mais grave aos acontecimentos narrados pela obra.

Assim, tal qual o primeiro filme, o núcleo dramático base da continuação é o casal Warren e a família  vítima dos fenômenos diabólicos. É certo que os Perron de Invocação do Mal se sobressaem quando colocados em comparação com os Hodgson do segundo longa, até porque a vítima da possessão no primeiro filme é a matriarca da família. Contudo, a maneira como Wan e seus co-roteiristas expandem as possibilidades dramáticas e os conflitos de Ed e Lorraine, levando os personagens a zonas nunca antes transitadas e fazendo-os “evoluir” em suas características e traumas na continuação é admirável e justifica criativamente a perpetuação da franquia. Contar com atores do calibre e com a credibilidade de Vera Farmiga e Patrick Wilson também ajuda James Wan a atingir seus objetivos. Farmiga segue como uma das sustentações afetivas da obra, traduzindo muito bem os danos que a paranormalidade trazem para a esfera pessoal de Lorraine a cada vez que ela enfrenta um novo caso. Já Wilson imprime a segurança e credibilidade necessárias para que o público assuma Ed Warren como um herói possível da sua história sem as afetações costumeiras do gênero. Juntos em cena, Farmiga e Wilson são ainda melhores, afinal conseguiram construir para os Warren uma relação calcada em muita cumplicidade, algo que é nítido na tela e que causa um efeito muito forte na plateia.

Mais uma vez, evitando a produção de sustos aleatórios e investindo na construção de personagens maduros e complexos e ainda numa atmosfera apavorante, James Wan faz de Invocação do Mal 2 um longa tão bom quanto o seu antecessor. Além de acertar em cheio no que se espera formalmente de um filme do gênero, Invocação do Mal 2 se impõe como uma obra emocional e dramaticamente adulta, evitando o risco de fazer os seus personagens andarem em círculos, às voltas com as mesmas situações e nunca “evoluindo” em seus conflitos. O maior êxito do filme é preservar o que deu certo no seu primeiro título e testar as suas outras possibilidades, demonstrando o fôlego do seu cineasta e da sua franquia na produção futura de tramas ainda mais macabras protagonizadas pelos Warren.

Assista ao trailer do filme:

 

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