Crítica: Homem-Formiga e a Vespa

Há cerca de duas semanas, o Universo Cinematográfico Marvel (MCU) chegou, após 10 anos de história, ao seu 20º longa-metragem. Com toda a competência e inteligência de suas produções, a Marvel manteve uma estratégia inovadora e diferenciada: fazer filmes de gênero e colocar os seus heróis em meio a essa narrativa. O recém estreado Homem-Formiga e a Vespa, por exemplo, é uma exuberante comédia – a melhor que a Marvel já fez. O longa-metragem chega aos cinemas para mostrar uma outra faceta do MCU que ainda não vinha sendo tão abordada.

Para os fãs de carteirinha, perceber que os longas da Marvel são claramente amostras dos mais diversos gêneros cinematográficos é uma missão fácil. Mas, caso não esteja claro, existem algumas vertentes para cada um dos heróis: Capitão América, por exemplo, é uma espécie de drama de guerra, Guardiões da Galáxia é uma ficção científica, Thor é uma ficção fantástica, e por aí vai. E todas as produções do MCU têm algo em comum: a comédia. Todas as películas dos heróis têm momentos de alívio cômico para agradar ao público em completude. Contudo, a única produção que tem em sua gênese a comédia é a história do Homem-Formiga.

Após os eventos de Guerra Civil (2016), Scott Lang (Paul Rudd) está enfrentando as consequências por ter quebrado o Tratado de Sokovia ao ajudar o Capitão América na batalha da Alemanha. Agora, em seus últimos dias de prisão domiciliar, Scott precisará usar o uniforme do Homem-Formiga mais uma vez para ajudar seus antigos companheiros. O doutor Hank Pym (Michael Douglas) e a sua filha, Hope van Dyne (Evangeline Lily), precisarão da mente de Scott e de sua conexão com o reino quântico para salvar Janet van Dyne (Michelle Pfeiffer) – que está perdida nesse mundo há mais de 30 anos. A difícil missão desse trio será a de criar um túnel quântico para salvar a antiga Vespa, fugir do FBI para que nenhum deles seja preso e ainda enfrentar uma vilã com poderes inusitados.

A nova aventura dos pequenos grandes heróis tem por objetivo alcançar ainda mais pessoas do que o filme anterior. Com mais cenas de ação, um tom cômico perfeito e uma narrativa bem “família”, a história da dupla de heróis da Marvel irá encantar o espectador. De antemão, é preciso deixar claro que existem certas falhas no roteiro quanto aos antagonistas, contudo, a desenvoltura geral é tão inacreditável que acaba superando os erros. Justamente por Homem-Formiga e a Vespa representar de forma extraordinária a ideia básica de mistura de gêneros da Marvel, essa é uma película que merece muitos aplausos e consagrações por seu produto final.

Existe uma maestria por parte do diretor Peyton Reed (Abaixo o Amor, de 2003, e Homem-Formiga, de 2015) que fica clara desde o primeiro minuto da sessão. Reed consegue administrar muito bem a veia cômica existente do jeito mais natural possível – diferente da forçada comédia vista em outras produções do universo, como Thor: Ragnarok (2017) – sem perder o lado familiar que a película exige. As cenas entre Rudd e a pequena Abby Ryder Fortson, que interpreta a filha do herói, são adoráveis e dão um ar leve ao trabalho da MCU. Além disso, a performance de Michael Peña é ainda mais hilária do que no primeiro longa fazendo com que a verdadeira comédia seja entregue ao público.

A obra poderia ser descrita como uma comédia familiar com eletrizantes cenas de ação que, unidas, culminam no desenrolar da saga de dois heróis. Tudo isso de uma só vez e sem nenhuma perda de qualidade. A sintonia em cena, o timing perfeito de Paul Rudd e as personas na tela criam a atmosfera de uma maravilhosa comédia dos anos 1990. Junto a isso, a produção entrega cenas de ação muito bem dirigidas e pensadas – algumas das melhores dentre os filmes solo dos heróis – utilizando dos efeitos visuais com enfoque na brincadeira de aumentar e diminuir os objetos em cena.

O calcanhar de Aquiles da narrativa foram os seus antagonistas. Existem três figuras que se opõem ao Homem-Formiga, Vespa e dr. Pym: os agentes do FBI liderados por Jimmy Woo; o mercenário Soony Burch e seus capangas; e Ava Starr, conhecida como Fantasma. O maior problema dentro desse contexto é justamente a Fantasma, que deveria representar a vilania maior na película e acaba por ser a parte mais fraca e confusa na história. Ao analisar todo o roteiro e seus acontecimentos, é compreensível essas três frentes de antagonismo, mas aquela que deveria ter mais presença se perde e acaba sendo um peso negativo para o resultado final da produção. A atriz britânica Hannah John-Kamen já mostrou com Jogador Nº1 (2018) que ela tem futuro no cinema, entretanto, ela não teve a sua melhor performance como Fantasma. O roteiro explica de maneira razoável a sua história, ela tem uma motivação (por mais clichê que seja), mas suas cenas não lhe permitem ter a relevância, força e grandiosidade que sua personagem merece.

Como dito anteriormente, apesar desse problema com a vilã do filme, o resultado final continua sendo muito interessante. O trabalho do diretor é eficiente, as atuações de Paul Rudd e Michael Peña são fundamentais para dar liga a comédia da obra e a história é extremamente boa de se assistir. E, além de tudo isso, as famosas cenas de pós-créditos são uma pista sobre um possível desenrolar quanto a participação da Capitã Marvel – que estreará somente no ano que vem – e a resolução do chocante final de Guerra Infinita (2018). No final das contas, Homem-Formiga e a Vespa é um filme da Marvel que merece muito mais atenção do que costumam dar.

Assista ao trailer!

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