Crítica Festival Varilux 2018: O Poder de Diane

Desde o dia 04 de junho, acontece em Salvador o Festival Varilux de Cinema Francês. Dentro de sua programação está presente O Poder de Diane. Este é o primeiro longa de Fabien Gorgeart. Em terras soteropolitanas, o cineasta contou que escreveu o roteiro já com a protagonista em sua mente: Clotilde Hesme (Canções de Amor). A inspiração do diretor é notável devido ao trabalho de Hesme.  É ela quem sustenta os quase 90 minutos de projeção.

Com carisma e energia interna pulsante,  a atriz cria uma personagem que imprime a vida festeira e despreocupada em seu corpo. Isto porque é possível observar múltiplos gestos que ocorrem ao mesmo tempo, porém que são conscientes e colocados para mostrar como a moça é entusiasmada e jovial. A atriz imprime em sua respiração e voz uma eletricidade alvoroçada, que vão colorindo a personalidade de sua Diane. Além disso, Hesme usa a tonicidade corporal para demonstrar a força e a independência de sua protagonista. Em contraponto às questões de seu caráter original, está o plot do filme.

Aos 35 anos, Diane decide ser barriga de aluguel para o casal de amigos Jacques (Grégory Montel) e Thomas (Thomas Suire). Ao mesmo tempo em que a gestação vai se desenrolando, ela reforma a antiga casa de seus avós e conhece Fabrizio (Fabrizio Rongione), um eletricista com quem a moça acaba desenvolvendo um relacionamento amoroso. Nesta equação, algumas situações vão se formando: as limitações de Diane por estar grávida, as intromissões do namorado na relação dela com os melhores amigos, os rapazes ansiosos para o nascimento do bebê e todas as três situações chocando-se. Há uma tentativa no enredo em discutir estilos menos convencionais de família, o possível desprendimento feminino em relação à maternidade e como se dão os relacionamentos interpessoais na contemporaneidade.

Contudo, a projeção fica aí, na vontade de discorrer sobre estas temáticas. Na busca em tornar mais complexas as figuras na tela e as situações que elas vivem, os nove meses de gravidez são pouco explorados. O espectador não consegue focar em uma questão una e acaba perdendo-se entre os afetos, tensões e discussões de Diane com os homens que a cercam. Talvez, se Gorgeart focasse no embate entre Fabrizio, Thomas e Jacques; ou nos sentimentos de Diane sobre ser mãe e ser barriga de aluguel, o longa poderia ter conseguido desenvolver mais expressivamente a sua proposta.

Para além das problemáticas que Gorgeart procura discutir no filme, O Poder de Diane é uma comédia e dentro de seu gênero parece um pouco descolada. Com poucas piadas certeiras, ele tem a maioria das suas tiradas óbvias, repetitivas ou sem graça. Apesar desta não ser uma projeção que pareça desejar gargalhadas na plateia, o sorrisinho no canto do rosto aparece em momentos pontuais e raros.

No entanto, há alguns acertos para além de Hesme, como os enquadramentos feitos na casa de Diane. Os planos que exploram os momentos da personagem sozinha imprimem uma fotografia bela, com a natureza que envolvem sua casa ou elementos dela, juntamente com a evolução da barriga da jovem, durante a gravidez. Outro ponto, o arco dramático da protagonista. Apesar do filme não possuir uma trama bem trabalhada em seu todo, os arcos de Diane são bem claros e as emoções bem divididas. Este pode ser considerado o mérito compartilhado entre Clotilde Hesme e Fabien Gorgeart. É notável a preocupação da dupla em mostrar a vitalidade da protagonista e o seu amadurecimento após a gravidez. O Poder de Diane é uma experiência leve, de uma exibição sem grandes pretensões, que pode ser indicada para um tarde de sábado entediante.

Assista ao trailer!

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