Crítica: Em Ritmo de Fuga

“Bellbottoms” no último volume! A música embala a marcação dos atores em cena. O protagonista Baby (Ansel Elgort) tem os movimentos coreografados, enquanto os companheiros de crime Griff (Jon Bernthal), Buddy (Jon Hamm) e Darling (Eiza González) roubam um banco. É assim que se inicia o novo longa do cineasta Edgar Wright, de Chumbo Grosso, intitulado no Brasil Em Ritmo de Fuga.

Durante toda a projeção, o público é contagiado pelas canções que embalam os passos da personagem principal, literalmente. Todas as músicas presentes no filme estão dentro da diegese e a execução desta escolha é bem realizada, pois em nenhum momento parece forçado, pelo contrário, fortalece a construção do papel de Elgort e do clima de tensão.

A história gira em torno de Baby e seu trabalho de piloto de fuga. Há dez anos no volante, à serviço de Doc (Kevin Spacey), o rapaz ocupa a função contra seu gosto. Ameaçado pelo atual chefe, o garoto precisa pagar uma dívida do passado. Aproximando-se de quitar o débito, o jovem foca em completar suas tarefas o mais rápido possível e sair da vida de crime. Durante a exibição fica mais do que clara a bondade e generosidade do protagonista, além de seu genuíno amor pela música.

A direção de Wright é competente. Com um olhar cuidadoso para as cenas de ação, o ritmo corre corretamente pois o cineasta consegue executar momentos de tensão com as cenas de alívio no momento exato para não provocar um enfarto no espectador. Alguns planos detalhe tornam o longa ainda mais especial. Seja em um pé que bate no chão, junto com a música ou as mãos no volante, os planos incrementam o longa. O público pode conseguir notar a criatividade e cuidado em cada escolha de Edgar Wright nas diversas cenas, como, por exemplo, em uma das sequências finais quando o vilão é banhado por uma cor vermelha e o mocinho pelo azul.

Outro ganho de Em Ritmo de Fuga é a montagem. A edição, principalmente das cenas de ação, casa e descasa com as músicas de forma a dar ritmo para as sequências exibidas. Nos primeiros seis minutos de projeção já é possível notar a preocupação dos editores Jonathan Amos (Irmão de Espião) e Paul Machliss (Heróis de Ressaca). Os cortes combinados com as batidas das canções criam uma atmosfera de emoção e são bem executadas pois dão ritmo e anunciam o que estar por vir.

São nos detalhes que a projeção ganha qualidade. Os atores estão muito bem marcados e isso fica ainda mais visível quando eles estão em grupo e performam movimentos sincronizados, tudo isso feito de forma fluida e que se encaixa com a linguagem do filme. As atuações do elenco coadjuvante são muito pontuais, corretas. Individualmente, olhando para eles, não há caricaturas entre mocinhos e vilões, o que já é um ganho. Ninguém compromete a qualidade do filme, mas também não existem interpretações memoráveis, até porque fica a sensação de que todos precisam ser comuns, mais na média, para que Baby se destaque.

Ansel Elgort é a estrela do longa. O que pode vir chamar mais atenção é seu trabalho corporal para cena. É como se a música vibrasse em seu corpo e virasse movimento. As mudanças de olhar e postura durante a projeção também são relevantes. O artista toma o cuidado para não exagerar na imagem de distraído de Baby e sabe a hora de demonstrar paixão, raiva e tomada de atitudes mais severas. Elgort ganha também no carisma, o que gera uma empatia positiva em quem o assiste na tela.

No elenco, o único ator que incomoda é Kevin Spacey. Todo tempo parece que ele está tentando não ser Frank Underwood, papel que ele desempenha na série da Netflix House of Cards. Pode-se perceber uma busca de novos tons na fala, mas volta e meia Underwood vem para a tela. Além da dificuldade do artista, o roteiro também não ajuda na construção de Doc, que se trai no desfecho da narrativa, deixando mal explicadas as suas atitudes.

A questão da problemática do texto vai além do fechamento do ciclo de Doc, mas todo o último ato parece ter menos cuidado que o restante de Em Ritmo de Fuga, passando uma confusão sobre como finalizar a obra. As escolhas das personagens soam sem justificativas plausíveis, as tensões se esvaem e uma conclusão morna é entregue para o espectador.

Em Ritmo de Fuga é um filme bem executado, com músicas bem escolhidas, elenco com boa dinâmica, mas que não traz um encerramento digno do que é mostrado anteriormente. De toda forma, vale a pena vê-lo e saboreá-lo até seu ápice.

Assista ao trailer do filme: