Crítica: Cavaleiro de Copas

Manter recorrências temáticas e abordagens técnicas, estéticas e narrativas em uma filmografia sempre foi encarado no cinema como indício de integridade artística, sobretudo quando nos voltamos para analisar a carreira de um diretor. Ao longo de toda a sua caminhada, o, até então, recluso realizador norte-americano Terrence Malick fora conhecido por inserir em seus filmes preocupações de cunho existencialista, talvez uma herança da sua própria formação como professor de Filosofia, colocando o homem em sua relação de conflito com a natureza e com sua própria função na Terra. Malick gosta do universo interno das suas personagens, mas também os explora na perspectiva do que lhe é externo, suas indagações em meio aos espaços que os mesmos habitam. O diretor não é grande fã das narrativas, prefere realizar um espécie ensaio pictórico com insights esparsos que dão pistas sobre quem os seus protagonistas são, suas trajetórias, suas relações e suas principais indagações ao universo e a alguma entidade religiosa.

Estas marcas de autoria do diretor chegou ao seu ápice em A Árvore da Vida, de 2011, a obra que inegavelmente sintetiza o cinema de Malick. Não tem como ser mais definitivo sobre esta preocupação com a passagem do homem na Terra do que o filme protagonizado por Brad Pitt e Jessica Chastain. Assim já era hora de Malick testar ou se preocupar com outras questões ou mesmo reverberações das suas obsessões primárias. Contudo, de lá para cá, tudo que o diretor tem feito soa como um arremedo de A Árvore da Vida. Desse mal sofreu Amor Pleno, com Ben Affleck, e desse mal sofre Cavaleiro de Copas, protagonizado por Christian Bale, que chega ao conhecimento dos brasileiros graças a uma recente atualização no catálogo da Netflix. É como se, nesses filmes, o Malick tentasse emular o próprio Malick, gerando um filme que anda em círculos com obsessões do diretor que já vimos ser melhor exploradas em seus títulos anteriores.

"Knight of Cups"

Cavaleiro de Copas gira em torno da história de um roteirista de Hollywood (Bale) em meio aos questionamentos sobre os rumos da sua própria vida. Os apontamentos de Malick são banais e rasos: a percepção de que Hollywood é um ambiente de superficialidade, que os figurões da indústria estão mergulhados no vazio das suas vidas e que sujeitos com propósitos íntegros como o protagonista podem ser corrompidos uma vez que mergulham nesse sistema. Não há nada além disso, não há jornadas redentoras ou rumos trágicos para o personagem, tudo é angústia sem fim. Como é de praxe, o realizador desperdiça atores que qualquer diretor gostaria de ter em seu cast como Natalie Portman, Cate Blanchett e Antonio Banderas, todos com cerca de 10 minutos em cena, se não estou sendo generoso na contagem.

O que Malick faz mesmo em Cavaleiro de Copas é acompanhar Christian Bale em suas aventuras amorosas, reflexo da sua busca incessante pelo amor pleno, calado e moribundo contemplando paisagens e clamando por respostas do “pai” ou da “mãe natureza”.  Talvez esteja na hora dos próprios produtores situarem Terrence Malick de que nem sempre um diretor renomado pode usar como escudo suas repetições sob a alegação de ser avant garde, sobretudo quando o que se extrai dessas reiterações de linguagem não acrescentam em nada ao catálogo do realizador e, consequentemente, ao seu público cativo. Não dá mais para engolir. Muda o disco, Malick!

Assista ao trailer do filme: