Crítica: Brooklin

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Romance: Personagens de Saoirse Ronan e Emory Cohen se apaixonam na América.

 

Indicado em três categorias do Oscar 2016 (melhor filme, roteiro adaptado e atriz), Brooklin talvez seja um dos candidatos mais modestos e simples da temporada, mas não menos interessante. Ainda mais silencioso que Spotlight – Segredos Revelados (que conta com um pouquinho de polêmica em torno de toda a discussão sobre o jornalismo e a pedofilia na igreja católica), Brooklin pode não se impor como uma obra cinematográfica de grandes proporções e ambições como concorrentes a estatueta da Academia do naipe de Mad Max – Estrada da Fúria, O Regresso e Perdido em Marte, mas mostra-se ao público como um romance competente e simpático. Fora do contexto das premiações monopolizada por filmes tão ruidosos (em todos os sentidos) quanto seus concorrentes ao Oscar de melhor filme, Brooklin certamente não seria desdenhado com tanta facilidade pela crítica brasileira como anda sendo. Analisado dentro dos seus próprios termos, o filme de John Crowley é um agradável e agridoce longa sobre o amadurecimento e a descoberta do amor e da própria individualidade.

Em Brooklin, Saoirse Ronan vive Ellis Lacey, uma jovem irlandesa que sai da sua terra natal e vai para os EUA morar no Brooklin. Empenhada em concretizar o seu sonho americano, Ellis acaba se deparando com uma realidade completamente diferente daquela que idealizara. Em seus primeiros dias no novo país, a jovem enfrenta as dificuldades de adaptação ao novo lugar, trabalho e pessoas. Tudo muda quando Ellis conhece Tony, um imigrante italiano por quem ela acaba se apaixonando. A partir dessa relação, Ellis consegue superar as dificuldades de adaptação e começa a se sentir confortável no novo país. Uma notícia da Irlanda, porém, coloca as certezas da moça em cheque e ela passa a se questionar onde de fato está a sua felicidade.

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Amadurecimento: Protagonista torna-se uma mulher quando vem para o novo país.

 

Roteirizado por Nick Hornby, que como autor de livros escreveu as obras que deram origem a Um Grande Garoto e Alta Fidelidade e como roteirista foi responsável por filmes como Educação e Livre, Brooklin é uma produção de pequeno porte apesar de falar sobre temas de alcance universal. Contando com uma condução eficiente do diretor John Crowley, os personagens de Hornby, todos extraídos das páginas do livro homônimo de Colm Toibin, transbordam afeto em relações e dilemas de imensa empatia com a plateia. No fim das contas, com muita simplicidade e precisão, Brooklin aborda de maneira eficiente os dilemas de um estrangeiro em um novo país, o sentimento de inadequação e toda a jornada de amadurecimento pessoal que a situação acaba impulsionando. Trata-se de um romance que pode ser encarado por duas perspectivas plenamente satisfatórias: por uma via temos uma história de amor sem as costumeiras afetações hollywoodianas e por outro lado nos deparamos com um sensível conto sobre o amadurecimento de uma mulher.

O longa beneficia-se pela ótima interpretação de Saoirse Ronan, que consegue trafegar de forma suave por todas as fases vivenciadas por sua personagem. A atriz também tem um ótimo parceiro de cena, Emory Cohen, que dá vida ao par romântico da protagonista, o italiano Tony. Ao longo da projeção, também somos acarinhados pela presença de atores do calibre de Julie Walters (maravilhosa como a dona da casa que Ellis passa a morar quando vai para os EUA), Jim Broadbent e o jovem do momento, Domhnall Gleeson.

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Dilema: Ao retornar para a Irlanda, protagonista vive um impasse.

 

Discreto e eficiente, Brooklin é um filme bastante satisfatório ao que se propõe. Com uma narrativa que cumpre o seu papel na perspectiva macro (a questão da formação dos EUA e dos imigrantes) e micro (a jornada de amadurecimento de uma jovem mulher), Brooklin é um longa cheia de virtudes. A maioria dessas qualidades, contudo, não saltam aos olhos em um primeiro momento, mas são absorvidas e vivenciadas ao longo de toda a projeção. Em meio a uma temporada com tantas produções de alto orçamento, psicologicamente densas e com pretensões estéticas e narrativas ambiciosas, o filme acaba funcionando como um agradável e necessário “respiro”.