Crítica: Armas na Mesa

Discutir questões políticas sob a ótica feminina e ainda levantar a importância do papel da mulher nas escolhas do futuro é um caminho cada vez mais frequente e certeiro nos roteiros de filmes atuais. Isso mostra a evolução da sociedade como um todo, já que o mundo cinematográfico apenas reflete este meio. Mas tratar destas questões não se tornou mais fácil e continua requerendo um cuidado especial, para não cair na mesmice ou no pecado de não valorizar um tema tão importante.
Jessica Chastain vem de um histórico interessante de longas, como A Hora Mais Escura, O Ano Mais Violento, Interestelar, entre outros. Ela normalmente ocupa o papel de mulher forte e decidida, que resolve as pendências de forma independente e nunca precisa de ninguém (leia-se: homem) para nada. Isso é muito importante de ser debatido, mas requer muita cautela. Em Armas na Mesa, o roteirista peca pelo excesso. A protagonista é a interpretação do workaholic, intragável, que ninguém quer por perto, que ninguém consegue se relacionar. Transita pela sociopatia, com toda certeza. Ela se basta e repulsa os homens. Vejo tudo isso como muito delicado, uma vez que coloca a mulher no papel de que para se conquistar o sucesso profissional, é preciso abrir mão da vida pessoal.
Já o diretor John Madden traz filmes bons na carreira um tanto frenética. Seu último filme, para se ter uma ideia, foi o desenho animado O Bom Gigante Amigo. Além do sucesso O Exótico Hotel Marigold e sua continuação. Ele conduz bem o trabalho, nos mostrando uma protagonista forte, que transita nesta loucura, fazendo absolutamente tudo para atingir o seu objetivo de ser a melhor lobista do ramo. Ela quer a perfeição e não exita em ir em buscar disso. Não há ética em suas ações, ela não respeita as pessoas, não leva em consideração os sentimentos de ninguém. É como se ela mesmo não sentisse nada.
A questão, no entanto, é que por mais que o filme possua uma narrativa interessante, ela evolui de forma muito lenta e extremamente entediante. O espectador passa um longo período só no vai e vem dos personagens tentando entender o que está acontecendo na dinâmica de luta contra e a favor das armas, com diálogos construídos de maneira propositalmente rápida para confundir quem assiste. Técnica mais comum em filme de ação, mas que se perde neste longa, sem necessidade. É irritante, excessivamente frenético e não acrescenta em nada à narrativa.
O longa apresenta uma reviravolta muito empolgante no final que tira o tédio do restante do filme, mas não é o suficiente para tirar a sensação de cansaço. As duas horas de duração parecem muito mais que isso. A temática é tão interessante e importante. Falar da questão do porte de armas por cidadãos comuns, se isso deve ou não existir, como funciona. Tudo é tratado de uma forma política, mas se perde no meio do caminho, então o espectador fica um pouco disperso. Não sabe efetivamente qual o foco.
A presença de Chastain, no entanto, rouba qualquer cena. Independente da qualidade do roteiro que lhe é dado, ela consegue conduzir as cenas muito bem e marcar presença em todas as tomadas. É, efetivamente, uma excelente atriz, que merece destaque.
Assista ao trailer!
Marcela Gelinski496 Posts
Jornalista, cinéfila, amante de vampiros, apaixonada por pipoca, fã de livros, viciada em Friends e crente em conto de fadas.
0 Comentários