Crítica: Ao Cair da Noite

Diferente de outros filmes do gênero, mas também semelhante a alguns dos melhores exemplares do mesmo, o indie Ao Cair da Noite opta por construir o medo na sua atmosfera e na cabeça dos seus espectadores e personagens. No filme, acompanhamos a história de uma família isolada em uma casa no meio da floresta tentando sobreviver naquilo que nos é apresentado como um mundo pós-epidemia que leva a humanidade à ruína. Pouco se sabe sobre o que de fato aconteceu, apenas somos levados a tal conclusão pelo que é dito pelos personagens e por toda a dinâmica cotidiana criada na história.

Enquanto gênero, Ao Cair da Noite é sim um filme de terror, nos levando a uma situação apavorante entre os delírios de personagens que vivem situações macabras e parecem estar vulneráveis a perigos que aparentemente não conseguem controlar e que são potencializados por um estado de enfermidade que não é – e nem precisa ser – detalhado. Contudo, diferente de exemplares mais populares, o longa de Trey Edward Shults parece criar em torno de sua narrativa ficcional uma espécie de tese sobre o medo. Na medida em que a trama avança e a família protagonista começa a conviver com um outro núcleo familiar, determinados elementos dramáticos são introduzidos e passamos a suspeitar da lucidez dos seus personagens. Nos indagamos sobre quem estaria mentindo, quem de fato está doente e até mesmo se toda a epidemia mencionada na história de fato existiu.

Sem oferecer respostas claras ao final de sua história, Shults nos fala de um medo contagioso e potencialmente destrutivo ao ser conduzido por uma violência instintiva. No fundo, toda a situação nos convoca a pensar sobre os efeitos que nos causam aquilo que mais tememos e se de fato esse temor tem fundamento. A ideia de um medo construído e fomentado pela psique com um forte potencial de destruição em massa. De certa forma, dialoga com aquilo que de fato é a convivência social em suas questões mais cotidianas, desde o preconceito e a intolerância, até o instinto de sobrevivência em situações de gravidade.

Com um extremo domínio da linguagem cinematográfica, produzindo um estado de tensão que cresce a cada minuto, Shults faz de Ao Cair da Noite um filme que consegue prender o espectador, que fica na expectativa do desenrolar de sua trama e, por isso mesmo, pode até frustrar quem espera respostas imediatas do mesmo, mas é capaz de construir em sua atmosfera paranóica uma história com forte simbologia e camadas de discussão. Guiada pelas interpretações sem estrelismos de atores como Joel Edgerton, Christopher Abbot, Carmen Ejogo, Kelvin Harrison Jr. e Riley Keough, o filme, certamente, não é dos exemplares mais fáceis de se assistir, mas também podem ter certeza que é daquele tipo de deixar a gente com a “pulga atrás da orelha” no esforço de desvendar àquilo que foi “mal resolvido” com seu desfecho repleto de reticências.

Assista a um trailer do filme: