Crítica: Aniquilação

Ao longa da história, diversas pessoas e/ou obras foram renegadas logo de cara. A visão de algumas pessoas fez com que o resto da sociedade as julgasse por não entenderem o seu trabalho. Galileu Galilei e a descoberta do formato redondo da Terra; Vincent Van Gogh e seu precoce impressionismo; e Alfred Hitchcock e o execrado Psicose (1960). Esses e alguns outros visionários em seus respectivos campos de atuação foram condenados pela sociedade por estarem a frente dos demais, por terem uma capacidade de visualizar algo muito além daquele momento. Alfred Hitchcock, por exemplo, teve que financiar a produção de Psicose sozinho por ninguém – além de sua esposa Alma – ter acreditado e apoiado seu projeto,. Hoje essa é a obra mais conhecida e renomada de sua carreira, além  ser um ícone clássico do universo do suspense e terror.

Recentemente foi iniciada uma discussão semelhante ao ocorrido com estes três senhores citados anteriormente. O lançamento mundial do segundo filme do roteirista e diretor Alex Garland abriu uma discussão intensa sobre a qualidade da sua nova obra. Aniquilação – cujo é baseado no livro de mesmo nome escrito por Jeff VanderMeer – teve sua capacidade como obra cinematográfica questionada desde o seu lançamento nos cinemas americanos. Pouco após sua estreia, a distribuidora Paramount Pictures começou a duvidar da capacidade do filme de alcançar uma grande bilheteria e, por essa razão, decidiu vender os direitos de distribuição para a Netflix. Hoje, com pouco mais de duas semanas que foi lançado mundialmente pelo serviço de streaming, Aniquilação divide opiniões quanto o seu papel como um longa de ficção científica que permeia estilo lovecraftiano de fazer terror.

Após o surpreendente e confuso retorno de Kane (Oscar Isaac), Lena (Natalie Portman) decide participar de uma expedição perigosa e secreta para descobrir o que aconteceu com seu marido. Sob o comando da Dra. Ventress (Jennifer Jason Leigh), a psicóloga da base militar americana, Lena e mais três mulheres vão para a Área X, o espaço onde está o Brilho – nome do local misterioso onde nenhuma lei da natureza se aplica da maneira como a humanidade a conhece. O problema da missão não será responder as perguntas que cada uma dessas cinco mulheres carrega, mas entender todas as respostas que estão contidas no Brilho.

Garland ficou conhecido por seu talento ao roteirizar longas-metragens como Extermínio, de 2002, Não Me Abandone Jamais, de 2010, e Dredd, de 2012. Seu ápice de criatividade e demonstração de talento foi, entretanto, mostrado para o mundo apenas em 2015 quando ele estreou como diretor com o longa-metragem Ex Machina, cujo lhe rendeu diversos prêmios e indicações na categoria de “Melhor Roteiro Original”. Ex Machina marcou o início de uma carreira espetacular e reconhecida com a ficção científica e suas possibilidades. E o controverso Aniquilação vem para fortalecer ainda mais a sua marca de novo gênio do sci-fi.

As críticas mais frequentes ao longa são a direção um tanto quanto pobre para o potencial do filme e a incompreensão do plot, em especial o desfecho da película. A primeira crítica é verdadeira. Alex deixa um pouco a desejar em sua direção. A partir do momento que ele está à frente de um projeto em que o espaço é uma personagem viva e com papel fundamental para a trama, o uso de planos gerais é algo evidente. O protagonismo dado ao brilho não foi o que ele necessitava. Essa falta vai acarretar em problemas ao decorrer da trama, atrasando a compreensão do público numa parte crucial do filme.

A crítica criada em volta do enredo, em especial sobre o desfecho da película, cai exatamente na questão da incompreensão das pessoas. Primeiro o espectador precisa entender que essa obra é baseada numa trilogia e, mesmo que a adaptação tenha se distanciado em diversas passagens do livro, não deixa de fazer parte do universo criado por VanderMeer, o que justifica deixar algumas perguntas sem resposta – dando margem a continuações. Atrelado a isso, a complexidade do universo contido na Área X e todos os seus mistérios estão diretamente ligados a questões filosóficas levantadas ao longo do filme, questões sobre as atitudes humanas em todos os aspectos possíveis.

O brilhantismo de Garland ao adaptar a obra de VanderMeer é estonteante. E o resultado só poderia ter sido algo espetacular. O roteiro cria uma atmosfera sci-fi aterrorizante, fazendo com que o público se sinta imerso numa área de medo e ficção como foi a viagem no Nostromo de Alien (1979).  Aniquilação é uma produção que foi feita com maestria em diversos aspectos técnicos – destacando-se na fotografia, design de produção e efeitos especiais – além do trabalho de Alex. O elenco também foi muito bem escolhido e, mesmo sem obter um protagonismo como no livro, as personagens secundárias interpretadas por Jennifer Jason Leigh e Gina Rodriguez tiveram um desenvolvimento bom. E a atuação de Portman, como sempre, dispensa comentários.

Apesar de todas as críticas, apesar de ter sido desacreditado pelo próprio estúdio, Aniquilação se mostrou poderoso e apreciado pelo público. Os maiores sites de críticas do mundo deram uma ótima avaliação para ele. Aniquilação precisa apenas de uma mente aberta para aqueles que questionam o filme pela decisão da Paramount e para os fãs da saga que questiona as mudanças feitas entre o livro e o longa-metragem. O resultado final do longa é poderoso e precisa ser apreciado por todos que apreciam os universos da ficção e do horror. Para as outras pessoas, caso se permitam assistir ao filme, estejam preparados para uma jornada perturbadora, confusa e excelente.

Assista ao trailer!

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